Não bastasse a falha da Argentina na tentativa de controle de preços para desacelerar a “inflação”, o governo argentino tem mais uma “brilhante” ideia que poderá resolver o problema da alta crescente de preços: criar uma estatal de alimentos. Contém ironia.
A porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, confirmou esta manhã que o governo está trabalhando na criação de uma Companhia Nacional de Alimentos na tentativa de controlar os preços.
A inflação está prejudicando a mesa do povo argentino e o governo está avaliando uma solução, não porque seja do seu interesse político, mas porque é seu dever mudar a vida das pessoas.
disse Cerruti.
Durante uma coletiva de imprensa na quinta-feira, a porta-voz afirmou que uma das prioridades da nova estatal será garantir que os legumes cheguem aos lares a preços mais baixos. “O governo está tentando ver como pode ajudar os produtores de pequeno e médio porte”, disse ela.
A luta contra a inflação tem a ver com o controle dos preços, mas também com a produção e as exportações, e com acordos internacionais como o FMI; todas estas questões são tomadas em conjunto e vistas como uma política global para ter sucesso na luta contra a inflação, que é um de nossos principais objetivos.
concluiu.
O Secretário de Comércio Interior Roberto Feletti reforçou o discurso de Cerruti, e disse que é necessário mais intervenção do estado nos preços dos alimentos.
Precisamos reconstruir instrumentos estatais que tornem possível regular o mercado livre na alocação de recursos alimentares. Para trigo, milho, carne e leite, precisamos de uma ligação com os preços internacionais.
disse Roberto Feletti, mesmo após a inflação de 3,9% em janeiro e da política de controle de preços falhar.
Quando questionada sobre o fracasso das políticas de controle de preços anteriores, Cerruti apenas disse que “as estratégias de longo prazo geralmente têm que esperar que o tempo passe, antes que possam ser consideradas um sucesso ou não”.
Sobre a viabilidade de um controle de preços e planejamento estatal sobre alocação e produçãode alimentos, o Diretor Nacional de Políticas Inclusivas do Ministério do Desenvolvimento Social, Rafael Klejzer, detalhou como funcionaria:
Uma Companhia Nacional de Alimentos, diretamente associada aos produtores, permitirá ao Estado desempenhar um papel ativo no planejamento, regulamentação, controle, produção, análise de custos e comercialização de alimentos, em um mercado atualmente altamente concentrado e nas mãos de grandes corporações
Segundo Klejzer, “desta forma, será possível gerar um preço de referência para produtos de consumo em massa e acabar com a ganância de empresas que vêem os alimentos como uma mercadoria e não como um direito social”, disse ele.
E continuou:
Normalmente, o aumento dos preços dos alimentos está acima da média inflacionária, o que significa que há um excesso de trabalho nas famílias argentinas e uma enorme transferência de recursos dos setores populares para os setores concentrados da economia.
A viabilidade de uma estatal de alimentos
A viabilidade de uma estatal de alimentos enfrenta às mesmas dificuldades que os demais tipos de estatais: falta de um sistema de preços legítimo que oriente a alocação de recursos e produção de bens.
Como já disse o economista austríaco Ludwig von Mises em seu ensaio ‘O Problema do Cálculo Econômico Sob O Socialismo‘, sem propriedade privada dos meios de produção não há mercado. Sem mercado, não há formação de preços. Sem formação de preços, é impossível fazer um cálculo econômico para alocação dos recursos.
A própria experiência histórica mostrou todas as tentativas falhas de planejamento central do estado na produção de bens, como ocorreu na URSS, China Maoísta e Khmer Vermelho no Camboja.
Assim como a política de controle de preços, esse projeto também irá falhar e custará um alto preço para os argentinos com um possível aumento da escassez de alimentos e outros itens básicos.