Salário mínimo, populismo máximo

Você já parou para pensar no que é o salário mínimo? Basicamente, é o mínimo que um empregador pode pagar a um empregado (avá!). “Nossa então o salário mínimo faz o patrão pagar um preço justo e não poder explorar ninguém!”. Não, o salário mínimo faz com que o patrão só possa contratar quem consegue produzir o suficiente para0 pagar seu salário.

Vamos ilustrar:

Para facilitar os cálculos, vamos utilizar um salário mínimo de R$1.000,00 e desconsiderar todos os encargos trabalhistas, férias e 13º salário.

As indústrias ACME têm três funcionários:

Ana, a secretária de RH, ganha R$2.500,00
José, o faxineiro, ganha R$900,00
Thiago que trabalha no almoxarifado, ganha R$550,00

Então, o governo do presidente Luiz decide criar uma nova medida para acabar com a exploração dos trabalhadores, é implantado, portanto, um salário mínimo no valor de R$1.000,00, e assim, o presidente Luiz ficará na história como o presidente que acabou com a pobreza e a exploração.

Mas as coisas não saem como o planejado…

O primeiro a ser afetado com essa instauração é Thiago, o jovem que trabalhava meio período no almoxarifado para ajudar sua família enquanto terminava os estudos, ele é chamado no RH das indústrias ACME, e lá, Ana é encarregada de explicar para ele a situação. Ana explica que, com a nova política de salário mínimo as industrias ACME não podem mais contratar ele por esse valor, mas, já que a empresa valoriza seus serviços prestados até então, ele recebe uma oferta para trabalhar em período integral, recebendo um salário mínimo. Mas, Thiago estuda meio período, ele é obrigado a recusar a oferta, e acaba desempregado por não conseguir produzir o suficiente para ganhar o mínimo permitido por lei.

Após a conversa com ThiagoAna fala com José para noticiá-lo que agora seu salário aumentará para R$1.000,00, adequando-se ao salário mínimo. José, contente com o aumento, vai ao mercado comprar um vinho para comemorar com sua esposa, mas chegando ao mercado ele percebe que os preços aumentaram, enquanto seu poder de compra continua o mesmo. José decide então falar com Irineu, dono do mercado. Irineu explica para José que, devido à nova lei, teve de aumentar os salários de seus funcionários, e, para conseguir pagar o devido salário foi necessário elevar os preços dos produtos, que já estavam mais altos, por seu fornecedor ter passado pela mesma situação.

Ana vai ao mercado e,  ao encontrar José  pergunta a ele se está aproveitando o aumento. José conta que os preços subiram, portanto, não poderá aproveitar seu aumento. Ana vendo os preços na prateleira percebe que não poderá comprar seu suco favorito, e vai ter de levar o suco de uma marca mais barata.

Vimos como todos são afetados negativamente pela nova lei de salário mínimo, até mesmo Irineu, quem tem suas vendas reduzidas por conta da queda do poder de compra de Ana. Contudo, suponhamos que no próximo ano o presidente, após perceber um aumento da renda média, decida aumentar o salário mínimo .Os preços sobem novamente, mas, dessa vez, Ana  também recebe um aumento, e seu salário rende novamente dois salários mínimos e meio. E seu poder de compra sofre outra pequena queda.

O resultado dessa nova política traz uma diminuição anual do poder de compra da população mais pobre, além de fazer com que todo o sistema de aumento de salários tenha como base não mais o aumento de riquezas e de produção, e sim o reajuste do salário mínimo. Entretanto, esse efeitos não são tão claros, e a maioria da população não consegue perceber tão claramente quanto no exemplo dado. Assim, os governantes usam diversos tipos de propagandas e discursos populistas para se passarem como heróis que aumentaram o salário da população para ela não ser explorada e nem sofrer tanto com o aumento dos preços, sendo que na verdade o ajuste artificial de salário que gerou esse aumento.

O grande efeito negativo do salário mínimo:

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A figura ilustra como o salário mínimo quebra os primeiros degraus no mercado de emprego

Com um salário mínimo de R$1.000,00, indivíduos que não conseguem produzir o suficiente para ser contratado neste valor estão fadados a ficar desempregados, subempregados ou na informalidade, afinal, nenhuma empresa vai contratar um funcionário que dê prejuízo. E qualquer salário que seja inferior ao salário mínimo passa a ser R$0,00. Thiago, que recebia R$550,00 agora está desempregado e depende totalmente dos pais para acabar seus estudos.

Thiago ao menos consegue produzir o suficiente para poder ser contratado, mas e quem não consegue produzir o suficiente? Dependerão cada vez mais do governo.  Agora, inclusive, os empregos de aprendizes (empregos que tinham baixos salários, mas ensinavam a profissão) foram substituídos por cursos profissionalizantes. Ao invés de ganhar dinheiro aprendendo com a profissão, portanto, o aprendiz paga pelo curso.

Para suprir essa demanda, artificialmente elevada, de cursos profissionalizantes e ajudar quem não pode pagá-los, o presidente Luiz agora começa dois programas de assistência social. No primeiro, o governo paga cursos para a população carente, precisando aumentar os impostos para pagar tais cursos, decrescendo o poder de compra novamente. O segundo programa é um sistema de financiamento com juros baixo dos cursos profissionalizantes em algumas empresas caraterizadas pelo governo, similar ao sistema de Vouchers, que distorce o mercado e traz ao governo um controle sobre os cursos feitos pelos usuários do sistema (para ver mais sobre Vouchers e seus problemas, clique aqui).

Para mascarar o aumento no desemprego, agora, o presidente Luiz decide estabelecer uma lei que proíbe o emprego de menores de 18 anos, que estão agora com dificuldades de encontrar emprego após os primeiros degraus da escada serem cortados. O presidente Luiz fará então uma grande campanha  promovendo a ideia de que irá acabar com o trabalho infantil, e que crianças devem estar estudando, e não trabalhando (apesar de antes elas estarem sendo contratadas como aprendizes). O presidente Luiz é premiado  internacionalmente tais feitos.

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A figura ilustra um aprendiz de sapateiro

A reeleição de Luiz

Com o sucesso popular do presidente Luiz é anunciada sua concorrência a  reeleição, propagandeando como seu governo aumentou a renda média da população, criou programas de cursos profissionalizantes, assim possibilitando que a população consiga um emprego melhor, ou ao menos seu primeiro emprego, além de ter acabado com o trabalho infantil, o que impedia as crianças de estudarem. Agora, em campanha, ele promete ajudar mais ainda os pobres com programas sociais, lançando um programa para que jovens possam ser contratados como aprendizes, assim, juntamente com os cursos profissionalizantes, possibilitar um ingresso ao primeiro emprego.

Conclusão

É de fácil percepção que o governante populista distorceu o mercado, criando vários problemas, aumentando preços e impostos, para depois dar soluções para alguns desses problemas, saindo como herói. Ele prometeu implantar mecanismos que o próprio mercado já tinha, e suas intervenções proibiram o mercado de fornecê-los. Assim, o populista é visto como um bom governante, por ajudar os pobres a saírem (de forma muito menos eficiente do que o mercado faz) de problemas que ele próprio criou, deixando assim novos problemas, como por exemplo o aumento dos preços e o desemprego.

Completando, os pobres acabam achando que as políticas dos populistas  os ajudam, vilanizando, sempre que possível quem apresenta visões contrárias, quando na verdade quem o faz normalmente é por perceber ineficiência, e que, na verdade, essas políticas fazem os pobres apenas mais dependentes de programas sociais, gerando assim uma demanda por políticos populistas.

“Se os pobres votam nos populistas, então convém aos políticos populistas aumentarem o número de pobres”


Revisão por: Paulo Droopy (@PauloDroopy)


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