Escrito por: Pedro Micheletto Palhares (@DevilSSSlayer)
Revisado por: Paulo Costa (@PauloDroopy)
Me chama a atenção o fenômeno do politicamente correto, um conceito da pós modernidade que busca um controle sob o que pode ser dito de acordo com seu potencial ofensivo. Note que neste artigo eu irei utilizar o método cartesiano, de modo a esmiuçar o assunto estudado para compreendê-lo como um todo.
Começarei pela semântica do termo, politicamente correto é definido como algo correto dentro de um contexto político. Em outras palavras, um contexto na qual a qualidade de uma ação se torna socialmente aceitável simplesmente por ser exercida por uma autoridade, tal como o experimento de Milgram, que mostra como a autoridade possui influência sobre as massas que baseiam seu pensamento crítico em intelectuais, uma vez que não possuem tempo em sua rotina cotidiana para se aprofundar em estudos de tal estirpe.
Os intelectuais, por sua vez, não possuem seu trabalho financeiramente valorizado pela sociedade. Isso é mostrado em seu apreço pelo financiamento estatal, o que reflete, por sua vez, em sua defesa eloquente e sedutora do autoritarismo que, com o passar dos anos, devido à sua incansável repetição, adentrou o pensamento das massas e o senso comum. O mesmo ocorreu quando Hobbes e Rousseau fizeram com suas engenharias sociais, pregando que o indivíduo ou o coletivo eram maus por natureza e, sem um planejador central que moldasse a massa a seu bel prazer, iriam se autodizimar em anomia e guerra civil. Tal como Frédéric Bastiat disse, é apenas uma forma eloquente e enganadora (como Sócrates e Platão atribuíam à filosofia pré socrática/sofista) de convencer a maior parte da população sem pensamento crítico a amar seus próprios algozes.
Traçarei aqui um paralelo destes autores com os que advogam o politicamente correto. Esses teóricos utilizam teses do pós-modernismo, da justiça social e os movimentos coletivistas para, em sua narrativa, atribuir uma tradição preconceituosa e intolerante à sociedade, deduzindo, em non sequitur, que o humor negro, a discriminação não agressiva e os insultos levariam, inexoravelmente a uma cultura de agressão e crimes motivados por intolerância. Assim como Hobbes e Rousseau pregavam que a sociedade iria entrar em uma espécie de autofagia, iria destruir a si mesma se o estado não controlasse suas vidas por completo.
Veja aqui que os segundos, inicialmente, podem não defender o controle completo em primeira instância e utilizam o declive escorregadio para expandir a censura, partindo de relativismos e interpretações do que é dito, considerando como insulto. O caráter de dependência da interpretação do receptor da mensagem, decisivo para denotar se há ou não uma ofensa, faz do politicamente correto um poderoso instrumento de censura partidária-ideológica e o seu relativismo que auxilia em tal processo expansivo de censura.
Irei ilustrar isto através do exemplo do quadrinista Arthur Vecci. Ele discorre em seu livro intitulado “Quem Matou o Caixeta?”, utilizando da falácia do verdadeiro escocês e de espantalhos estereotipados de maneira estética para defender o controle do estado sob o pensamento das massas, assim como Hobbes e Rousseau. Como citei anteriormente, o quadrinho se encaixa perfeitamente na ideia de que a intolerância enraizada na sociedade causaria uma perseguição a esses grupos de desajustados digna de um quarto reich.
Ao contrário das principais influências no Brasil, como Montesquieu, Rousseau, Hobbes, Comte e Bossuet e outros autores defensores do autoritarismo, a cultura ocidental se baseia em ideais de liberdades individuais, mercado, direitos naturais universais, tradições, instituições que promovem a caridade e fraternidade voluntárias e o que Hayek chama de ordem espontânea. Em outras palavras, a cultura ocidental é fundamentada, majoritariamente, na liberdade de escolha e autonomia do indivíduo.
Vis-a-vis com a engenharia social, que vê a sociedade como gado para o abate, a ser moldado e escravizado pelo estado, a cultura ocidental é cada vez mais ridicularizada. A janela de Overton tem sido levada cada vez mais aos direitos positivos. Estes não passam de espoliação legal sob a ponta de uma arma sem qualquer possibilidade de defesa. O mesmo ocorria com os nazifascistas desarmando a população e esmagando o indivíduo tal como sua doutrina pregava. Esses justiceiros sociais também visam deixar a população indefesa e relativizar a condição de criminosos a meras vítimas de um contexto social.
Este paralelo também é importante, visto que a pobreza semântica causada pela novilíngua e a confusão conceitual causada pelo duplipensar fez com que a militância utilizasse termos que lhes são cabíveis e utilizando-os para envolver seus adversários em armadilha de Kafka. Em outras palavras, as definições de conceitos como o próprio fascismo são deturpadas, esvaziando-as de sentido e omitindo ou alterando aquilo que não é conveniente ao discurso do partido.
Especificamente no caso a palavra fascismo, cuja etimologia provém de fascis, que significa feixe de varas. Esta simbologia diz que o indivíduo, tal como uma vara, é fraco e sujeito a adoecer, morrer em combate e ser massacrado por forças maiores. Quando se trata do coletivo, o feixe de varas é mais forte e o indivíduo deve submeter suas liberdades individuais e busca por felicidade pelo bem maior. Esta é alcançada unicamente pela submissão ao estado, à ideia chauvinista de nacionalismo, sua vida econômica, o valor das mercadorias que consomem, tudo deveria ser planejado pelo grande líder (Duce, Fuhrer), tal como ocorreu durante os regimes totalitários da Alemanha e da Itália.
Todo esse conceito tem sua definição reduzida de tal complexidade pelo material regulamentado pelo estado na educação, reduzindo, por exemplo, o fascismo a um totalitarismo nacionalista, que não tolera minorias. O esvaziamento de sentido da novilíngua é também notável nos próprios conceitos defendidos pela militância, que dialoga com esses ataques e isso não é uma estratégia recente. Isso pode ser visto nas cartas redigidas por Marx a seu pai que, em suas próprias palavras, esvaziaria as palavras de sentido de modo que todos pudessem pensar o que quisessem dentro de sua lógica interna, mesmo que não houvesse coerência alguma com a realidade.
Por outro lado, o duplipensar confunde os grupos coletivistas, adotando liberdades individuais como bandeiras políticas, associando características individuais à concordância cega com o movimento, defendendo autoritarismo e espoliação legal por revanchismo histórico.
A armadilha de Kafka é uma estratégia muito utilizada para alcançar o sucesso do duplipensar, atribuindo suas próprias ideias vis a seus adversários, cuja defesa de tais acusações são improdutivas pro debate e necessitam de “mea culpa“. mesmo havendo a inocência das vítimas da falácia. O conceito da falácia da armadilha de Kafka surgiu de um livro chamado “O Processo”. de Franz Kafka, no qual o protagonista, Josef K. é acusado de um crime o qual não era capaz de compreender, devido à burocracia da lei pervertida, para se inocentar e é condenado antes que possa provar o contrário.
Os grupos coletivistas amam esta estratégia. Através dela destroem reputações por conta da repetição até o ponto disso se integrar no senso comum. A lei distorcida e complexa é um arsenal completo para eles. Nele podem mudar a lei e a interpretam como desejarem. Seus adversários não são capazes de se defender de suas acusações e são culpados até que se prove o contrário. Demonstram serem seguidores de Goebbels, apesar de se denominarem antifascistas.
A lei deturpada pelo positivismo jurídico, que não aceita valores atemporais e a lógica, apenas a experiência prática e o relativismo, é o que possibilita que pessoas sejam ameaçadas de violência pelo estado por discordarem, insurgirem, negarem-se a ser espoliados a benefício de terceiros, expressarem o que pensam e, até mesmo, por serem mal interpretadas em sua fala.
Não importa o que se faz com o dinheiro tomado sob ameaça de violência com o pretexto de normas estatais arbitrárias, não se deve utilizar da força da lei para agredir seres humanos e violar seus direitos naturais.
Como os governantes e planejadores centrais desprezam sua individualidade, não se importam com seus gostos, necessidades e preferências. O que chamam de representatividade nada mais é do que a presença de um semelhante dentro do estado para beneficiar o grupo que o “representante” do grupo participa. O relativismo legal, em relação ao que se caracteriza como ofensa, se torna ferramenta de controle e expansão do próprio estado. Dividir a máquina apenas aparelhará os interesses às custas dos produtores de riqueza para que financiem sua própria escravidão moderna.
Portanto, de maneira breve e elucidativa, digo que não se devemos perder a esperança. Todavia, precisamos afiar nosso vocabulário e nossas ideias para que possamos lutar contra o Gramscismo e seus tentáculos. Desmascarar falácias argumentativas e refutar, através das evidências, aqueles que tentarem ridicularizar a exposição de suas vis ideias. Não se deve temer dizer que o imperador está nu por medo de ser taxado de burro ou ignorante, simplesmente por ler além daquilo que o estado diz que devemos ler e concordar.
Leia também: Em Defesa da Discriminação E do Preconceito
Este artigo foi reescrito
https://medium.com/@pedromichelettopalhares/a-anatomia-do-politicamente-correto-v2-36cb8002246d