Nesta segunda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que pretende retomar o financiamento de projetos de países vizinhos usando o BNDES. Dentre os projetos que poderão ser retomados, está o gasoduto de Vaca Muerta, na Argentina. A fala do presidente foi feita a um grupo de empresários argentinos e brasileiros em Buenos Aires, na primeira viagem internacional desde que tomou posse.
“O BNDES vai voltar a financiar as relações comerciais do Brasil e vai voltar a financiar projetos de engenharia para ajudar empresas brasileiras no exterior. É para que os países vizinhos possam crescer e até vender o resultado desse crescimento para o Brasil. O Brasil não pode ficar distante. O Brasil não pode se apequenar. Faz exatamente quatro anos que o BNDES não empresta dinheiro para o desenvolvimento”
disse Lula
Lula afirmou também que o Brasil, na condição de maior economia da América do Sul, “tem obrigação” de ser “indutor do impulsionamento das relações comerciais, políticas e econômicas” do continente. Ele também comentou sobre as críticas aos investimentos de engenharia por meio do BNDES que o PT fez em outros países. Na ocasião, ele acusou os críticos de “ignorância” e afirmou que é “necessário o Brasil ajudar todos os seus parceiros”.
Gasoduto poderá não ser financiado pelo BNDES
Apesar do entusiasmo de Lula com a ideia, para o ex-presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça, isso não passaria de “um sonho de uma noite de verão”. O economista afirma que o BNDES é “uma instituição com mais de 70 anos (foi fundado em 1952)” e tem “critérios rigorosos” para conceder esse tipo de financiamento.
Ele afirma que “não é algo possível na atual conjuntura”. Mendonça aponta que o país vizinho passa por severa crise financeira, com inflação em torno de 95% ao ano.
Escândalos do passado
Segundo a Reuters, mesmo que o BNDES não financie diretamente os projetos da Argentina e outros países vizinhos, o banco poderá financiar empresas brasileiras envolvidas no projeto. O que nos faz lembrar dos escândalos em que esse tipo de financiamento esteve envolvido durante as gestões de Lula e Dilma.
Na ocasião, as gestões de Lula e Dilma (ambos do PT) haviam financiado por meio do BNDES, vários projetos em países “parceiros” do Brasil. Sendo todos eles na África e América Latina.
Numa delação premiada da Operação Lava Jato, o empresário Norberto Odebrecht – fundador do grupo Odebrecth -, foi informado que o grupo pagou US$ 788 milhões (R$ 2,95 bilhões no câmbio atual) em propinas a políticos e a agentes públicos em 12 países. Incluindo o Brasil.
Os países que receberam financiamento do BNDES foram Argentina, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela (América do Sul), Costa Rica, Cuba, Guatemala, Honduras, México e República Dominicana (Américas Central e do Norte), além de Angola, Gana e Moçambique (África).
Destes países, apenas cinco (Paraguai, Costa Rica, Cuba, Honduras e Gana) não aparecem na megadelação da Odebrecht.
Além disso, houve inadimplência por parte de vários países que receberam empréstimos do BNDES – Venezuela (US$ 681 milhões), Moçambique (US$ 122 milhões) e Cuba (US$ 226 milhões) -, totalizando uma dívida acumulada de US$ 1,03 bilhão até setembro de 2022. Outros US$ 573 milhões estão por vencer desses países.
Argentina licitará em 90 dias o 2º trecho de gasoduto de Vaca Muerta
Segundo a Reuters, a Argentina começará a licitação da construção do segundo trecho do gasoduto de Vaca Muerta nos próximos 90 dias. As operações, que serão realizadas na província de Santa Fé, possibilitarão a exportação de gás para o Brasil. A informação é do ministro da Economia do país, Sergio Massa.
Ainda segundo o ministro, a Argentina já está construindo a primeira etapa do gasoduto. O gasoduto ligará a segunda maior reserva de gás não convencional do mundo, Vaca Muerta, na província de Neuquén, com Buenos Aires. O objetivo é estendê-lo à província de Santa Fé.