Paulo Kogos é uma figura peculiar com um problema particular. Muitos pensam que isso se deve a suas alegações polêmicas, sua forma direta de se expressar e sua constante ira contra aquilo que ofende suas convicções, mas nada disso é verdade. Ser caricato não é um defeito, é antes de tudo um avanço geral para preceitos e princípios, algo a ser buscado e não afastado nas consciências de cada um de nós.

Sua peculiaridade não reside nas polêmicas ou em sua forma de expressar. Seu problema não é e nem poderia ser nenhuma das coisas colocadas. Sua peculiaridade vem da sua tentativa de conexão de coisas difíceis de unir, como seu militarismo e seu libertarianismo, seu militarismo e sua fé católica, sua apreciação por Bolsonaro e seu libertarianismo, sua fé católica e sua visão sobre armamentismo infantil.

Toda essas coisas possuem capítulos que no mínimo devem lhe render uma necessidade de defesa escrita e explicação sobre de que forma podem ser conectados, viemos de uma tradição fortemente individualista onde o militarismo sempre foi tão mal visto que eu não consigo pensar em qual seria a reação de Mencken diante de um vídeo de Paulo Kogos e todos os outros rendem livros explicitando suas dualidades.

Mas, e aí reside seu problema, ele não o faz, tendo milhares de opiniões e uma lista esparsa e evasiva de artigos publicados. A necessidade de que ele venha a justificar suas opiniões tem muita relação com um livro que está para ser publicado pela Editora Konkin; a Traição da Direita Americana de Murray Rothbard.

A Traição da Direita Americana

Entre outros magníficos temas, o livro em questão trata da progressão de uma Velha Direita, com princípios rígidos, uma visão anti-estatista e principalmente isolacionista da vida para uma nova direita, favorável ao establishment, com princípios evasivos ou vazios e uma fortíssima retórica anticomunista que estava disposta a tudo para realizar.

Rothbard trata com primor como a morte de figuras que defendiam valores e componentes culturais fundamentais, individualismo, livre mercado, livres trocas, voluntarismo, contratualismo, liberdade de expressão e outras tantas formas gerais saudáveis e essenciais para a sociedade, bem como a conversão das figuras vivas por comodidade política foi fortemente responsável pela ascensão da nova direita imperialista materializada pelo National Review.

E retrata algo que deve preocupar fortemente os brasileiros: a conversão praticamente silenciosa entre a velha e a nova direita. Poucas foram as figuras que se colocaram ativamente contra esse processo antes dele acontecer, poucas foram as vozes que disseram que os princípios estavam sendo esquecidos e que revisaram a forma geral das premissas dos seus até então aliados que estavam mudando rapidamente.

Veja, foi diante de jornais incríveis como a Analysis de Chodorov e sua posterior editoria da Human Events, a Nation de Nock, o The American Mercury de Mencken e tantos outros nomes libertários e radicais, que nós tivemos a transição da velha para a nova direita e a corrupção geral dos valores. O que será de nós, tão menores, se não mantivermos olhos atentos e começarmos a cobrar os fundamentos gerais desde já?

Por que isso aconteceu? Meu palpite tem relação ao fato que as décadas de 50-60 foram as principais décadas de passagem para a televisão como central geral de informação nos EUA. A partir dali, podíamos ter visões completamente contraditórias entre si sem que houvesse o poder comparativo de comparar um artigo a outro. E isso acontece mais pela dinâmica da televisão do que propriamente dito pela incapacidade de gravarmos o que foi dito.

É porque os interesses são tão difusos que a próxima crise parece colapsar os fundamentos do que foi colocado anteriormente, é porque em cada nova crise temos a sensação de que o mundo irá colapsar, de que essa é a derradeira e definitiva e que, se ela não for lidada, não haverá outro dia para lutar.

E o que poderia representar tão fielmente essa progressão que o avanço sequencial dos inúmeros vídeos no youtube, cada um parecendo ser um mundo à parte, as nossas opiniões das pessoas cada vez mais sendo retalhos de momentos explosivos? Quanto espaço sobra para os princípios depois do homem prático que surgir dali?

A Traição da Direita Brasileira

O que me leva a conjecturar a questão brasileira de forma intensa. Quão mais radicais estão as figuras de hoje do que estavam ontem? Depois da morte de Olavo de Carvalho, não estamos sem lideranças individualistas? Será que Bernardo Kuster e Flavio Morgenstein teriam a coragem de chamar Bolsonaro de socialista para baixo quando a hora chegar?

Em minha humilde opinião já até passou, qualquer um que ver o flow de ontem verá inúmeras defesas protecionistas e de projetos assistencialistas.

Será que Paulo Kogos teria a coragem de fechar olhos e ouvidos permanentes para as próximas falas de bolsonaro depois de alguma ação terminativa? E se isso não pode ser encontrado entre olavistas, será que estamos melhores com aqueles que defenderam ativamente os lockdowns na pandemia?

Será que podemos confiar em qualquer rigidez teórica vinda daqueles que nem sequer precisam se contradizer porque suas falas estão voltadas a tantas generalidades e tanta falta de rigor que não haverá quem veja contradição entre elas? Até que ponto poderão ser colocados no plano de fundo da história se suas opiniões não estiverem fundamentadas, organizadas e postas para serem corrigidas ou rejeitadas pelo crivo do tempo em artigos, livros e panfletos? Para que sejam aprovadas ou rejeitadas pelos seus pares?

Mais ainda, a cada vez avançamos mais profundamente para a comodidade política de vermos a direita na “posição” e encararmos a facilidade de concordar com ações que soariam simplesmente absurdas se feitas na era Lula. A quantidade de dinheiro impressa no governo Bolsonaro faria com que muitos saíssem furiosos em largas e extensas manifestações e indicariam o fim de qualquer governabilidade.

A situação fez o ladrão.

Paulo Kogos, Sua Candidatura e Seu Problema

O que me leva a mais apressada e significativa consideração de Kogos dos últimos tempos: sua candidatura. Nenhum relógio é tão veloz quanto o que marca os 4 anos entre um candidato e outro, nenhum tempo passa tão rápido quanto aqueles 2 meses de candidatura que definem a eleição ou ausência de eleição de um candidato.

Por quê? Porque o relógio da democracia concentra-se em prometer o máximo de coisas para o máximo de pessoas. Bolsonaro aprendeu tão profundamente essa lição que passou 4 anos em aberta campanha eleitoral. O tempo do candidato é ainda mais significativo porque ele é a expansão de um discurso específico para o máximo de agentes o possível. Onde temos aí espaço para os princípios?

A resposta é simples: não temos. A lógica geral da candidatura perfeita seria a de se vender sem contradizer o que diz para um para com o que diz ao próximo. Essa tarefa por si só já é amarga e profundamente errante. Mas, a pior parte ainda não chegou.

Acrescente a isso a atual base de Paulo Kogos, monarquistas, tradicionalistas, libertários, católicos, sedevacantistas, bolsominions, conservadores, liberais clássicos e todo tipo de gente do espectro da direita radical e veja no que eles concordam. Ele descobrirá rapidamente que para falar para todos esses públicos precisará excluir uns sobre os outros.

Com o problema geral que pode se ver no Kogos, sua ausência de justificativas por escrito, sua indiferença em relação a suas aparentes contradições, sua pressa em opinar sobre tudo que se possa opinar, as coisas só se tornam piores. Temos um sistema viciado com um candidato problemático.

A Solução

Em uma rápida conversa realizada na Bitconf desse ano, coloquei para Paulo Kogos a necessidade de uma justificativa intelectual para que um “agorista” concorra a eleições.

Levantei a necessidade por dois motivos gerais:

  • O credo agorista vai diretamente contra qualquer espécie de contradição típica da candidatura; a busca em obter poder político sobre uns para eliminar poder político sobre outros.
  • Mesmo sem ser agorista não parece haver as condições objetivas que permitiriam uma posição Rothbardiana pura de uma candidatura.

Esses dois motivos me parecem ser plenamente suficientes para descartar qualquer espécie de candidatura da parte não apenas do Kogos, mas de qualquer libertário. Como sua justificativa não veio e temendo profundamente os caminhos que estamos vendo em toda a direita, seu amigável anarcocolunista da vizinhança questiona:

Quanto podemos tolerar que seja feito sem o questionamento ativo não só da comunidade libertária que se diz fazer parte, mas de qualquer pessoa preocupada com princípios? Pessoas das quais se pedirão votos ideológicos e que se pedirá apoio. A história irá julgar, ótimo! Mas, isso significa que não se deve nada a ninguém em lugar algum?

Acredito que esse artigo só abra espaço para duas possíveis respostas. O Silêncio ou a Justificativa. Penso que nada poderia ser mais apropriado e que a réplica deva ser no mesmo tom. Se for o silêncio, nos silenciemos diante dos pedidos de apoio, se for a justificativa que cada um procure descobrir se está ou não está justificado, com as devidas ressalvas e respostas de ocasião. Nem mais, nem menos.

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