Na semana passada, o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura de São Paulo havia previsto uma forte tempestade para a cidade na última sexta-feira (18). A previsão era de chuvas que poderiam chegar a 250 mm, com ventos de até 60 km/h. No entanto, a previsão não se confirmou.
No território paulista, o máximo de chuvas registradas foi de 96 mm, na cidade de Avaré (interior), a 260 km da capital, seguido de Campos do Jordão (52 mm), município localizado na Serra da Mantiqueira.
Além de tudo, a MetSul, empresa específica de meteorologia, aponta que não havia nenhuma previsão de uma tempestade forte para o estado de SP. Seria apenas um erro técnico grosseiro por parte da CGE, ou teria outros motivos para tal projeção errada?
Versão da Defesa Civil
Em entrevista ao Estadão, o capitão da Defesa Civil, Roberto Farina, afirmou que houve uma perda de força da chuva com a divisão da frente fria que vinha do sul em duas partes. Uma delas, segundo o capitão, seguiu o sentido Paraná, passando pelo interior paulista até Presidente Prudente, do lado oeste de São Paulo; e a outra foi em direção ao oceano, subindo por São Sebastião e Ubatuba, e retornando ao continente na Serra da Mantiqueira.
Outro motivo apontado por Farina foi a mudança de rota do corredor de umidade amazônico, que entra no Estado entre Barretos e Presidente Prudente. A previsão para o alto acumulado de chuvas para São Paulo neste final de semana estava relacionada com o encontro da frente fria do sul com esse corredor amazônico úmido.
Temor de um próximo apagão
Grande parte da repercussão da previsão de uma tempestade em SP devia ao temor de um novo apagão generalizado na Grande SP, como o registrado na semana passada, onde 3,1 milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica. Já o número de pessoas que ficaram sem energia no último final de semana foi de 138 mil, muito longe deste número.
Previsão errada?
A previsão de uma forte tempestade por parte do CGE causou uma forte preocupação entre a população paulista, mas estava longe de ser um consenso entre os medidores. A empresa específica de pesquisa em meteorologia, MetSul, por exemplo, afirma que a chuva abaixo da intensidade urgente na capital paulista não foi uma surpresa.
Segundo Estael Dias, meteorologista da empresa, os modelos usados por sua equipe não indicavam um forte temporal para São Paulo neste final de semana, como o que ocorreu no dia 11.
Qual o motivo de falha na previsão?
A versão do capitão da Defesa Civil, Roberto Farina, para a não ocorrência da forte tempestade é plausível. Mas a pergunta que fica é como o CGE não previu os demais fatores que foram os responsáveis pela não ocorrência da tempestade. A MetSul por sua vez, afirma que ela mesma sequer previu uma forte tempestade, o que nos leva a perguntar o que levou a uma previsão tão equivocada por parte da CGE.
Não apenas isso. Como a grande mídia repercutiu uma previsão como uma certeza absoluta, causando pânico, enquanto ignorava previsões discordantes, como a da MetSul?
Não é possível afirmar com certeza o que levou a uma previsão errada por parte da CGE e uma ignorância quanto a previsões que contrariavam esta, como da MetSul. Mas algumas coisas podem ser ditas.
Em primeiro lugar, os perigos de depender totalmente de órgãos estatais para tudo. E isso inclui previsões meteorológicas. Apenas o fato de ser um órgão estatal já lhe dá aura de alta confiabilidade e inerrância por parte da mídia. E o fato da grande mídia ainda manter uma forte influência sobre a sociedade, que foi fortalecida pelo protecionismo estatal, ajuda a reforçar isso.
Por sorte, há alguns concorrentes privados de pesquisa em meteorologia. No entanto, seriam muitos maiores se não fossem as barreiras de entrada impostas pelo via, regulações e altos impostos. E a aura de alta confiabilidade garantida pela parceria entre o estado e a grande mídia deixa as iniciativas privadas do ramo totalmente de lado, sendo chamadas somente quando estatais como a CGE falham.
Outro fator também é o desejo da grande mídia por conseguir audiência sensacionalismo. O pânico causado pelo medo de uma próxima tempestade com outro apagão lhe trouxe altos índices de audiência. Do ponto de vista financeiro, não havia motivos para a grande mídia noticiar algo que poderia derrubar tal audiência, já que não haveria mais medo que a impulsionasse.
Pode-se pensar que outros veículos menores poderiam ter aproveitado a oportunidade e apresentado uma previsão diferente. Isso talvez tivesse dado grandes chances de audiência para tais veículos. No entanto, a provável acusação de “fake news” contra tudo que vá à contramão da narrativa da grande mídia talvez explique porque nenhum meio de comunicação menor tenha tentado isso.
Isso também explicaria por que a MetSul só resolveu se pronunciar após a não ocorrência da tempestade.
Mais liberdade, mais ciência
O monopólio do estado sobre institutos de pesquisa por si só já enviesam a conduta de tais instituições. A garantia de financiamento e estabilidade, somadas à respeitabilidade midiática também garantida pelo estado, removem os incentivos para os pesquisadores serem mais cautelosos com suas pesquisas.
A iminência de perder financiamento e a perda de credibilidade incentivam os pesquisadores menos dotados de boa vontade a se empenharem e buscarem melhores resultados.
Por sorte, ainda temos alguns institutos de pesquisa privados, mas o número continua abaixo do que existiria em uma sociedade livre e próspera.