Guardas fronteiriços sauditas são acusados de execuções em massa de imigrantes etíopes e solicitantes de asilo que tentam cruzar a fronteira entre o Iêmen e a Arábia Saudita. Mulheres e crianças não são poupadas. As estimativas, ainda incompletas, podendo chegar aos muitos milhares, fazem referência apenas ao período entre março de 2022 e junho deste ano.
Em um relatório de 73 páginas, divulgado pela Human Rights Watch, foi constatado que os guardas de fronteira sauditas estão utilizando armas explosivas, como morteiros, e execuções com tiros de fuzil para matar grupos de migrantes que tentam cruzar a fronteira. A organização realizou dezenas de entrevistas, analisou mais de 350 vídeos e fotografias postados em mídias sociais ou coletados de outras fontes, bem como centenas de quilômetros quadrados de imagens de satélite. A prática de assassinato de imigrantes é reportada pela agência desde 2014, mas parece estar se intensificando. Em 2021, pelo lançamento de projéteis em um centro de detenção de imigrantes, dezenas foram mortos devido ao incêndio subsequente.
Os migrantes e solicitantes de asilo atravessam o Golfo de Áden em embarcações sem condições de navegabilidade e sob as ameaças de contrabandistas iemenitas, que os levam para a província de Saada, atualmente sob o controle do grupo armado Houthi, na fronteira com a Arábia Saudita. No Iêmen, as principais rotas de migrantes estão repletas de túmulos de pessoas que morreram ao longo do perigoso trajeto.
Além da violência dos contrabandistas, nota-se o elevado grau de sadismo por parte dos agentes de segurança sauditas. Espancamentos foram relatados utilizando pedras e barras de metal, além de relatos de guardas que obrigaram jovens imigrantes a estuprar meninas, penalizando com a morte os que se recusavam.
Os migrantes e solicitantes de asilo realizam jornadas repletas de abusos e controladas por uma rede de contrabandistas, que os agridem fisicamente para extorquir pagamentos de seus familiares ou contatos na Etiópia ou Arábia Saudita. Mesmo buscando novas oportunidades de vida para a família, ou apenas fugir dos conflitos armados na Etiópia, após enfrentar a fome e a violência, alguns retornam ao país de origem com membros amputados. Pelo que presenciaram, os sobreviventes mostram sinais de trauma profundo.
Os corpos espalhados pelo terreno nem sempre ficam em estado reconhecível. Todos os entrevistados descrevem mulheres, homens e crianças espalhados pela paisagem montanhosa, gravemente feridos, desmembrados ou já mortos. Segundo eles, as forças Houthi por vezes recolhem os migrantes feridos durante a travessia nos hospitais de Saada e os devolvem à força para os contrabandistas nos campos.
Uma fonte saudita caracterizou as alegações, tanto as atuais quanto as anteriores, de “infundadas e não baseadas em relatos confiáveis”. O governo saudita disse que leva as alegações a sério, mas rejeitou veementemente a caracterização de que os assassinatos são sistemáticos ou em grande escala. Segundo o governo, com base nas informações limitadas fornecidas até agora, não foram descobertas evidências que confirmassem ou fundamentasse as alegações, dizendo ainda que garante em suas fronteiras um tratamento humano, no qual nenhuma forma de maus-tratos ou tortura é tolerada.
Diante das novas alegações, a Etiópia iniciará uma investigação conjunta com a Arábia Saudita para apurar as circunstâncias relevantes, comunicou na última terça-feira seu Ministério das Relações Exteriores.