Arcabouço fiscal foi lançado. O que esperar?

Tempo estimado de leitura: 5 minutos

Finalmente o tão anunciado arcabouço fiscal que estava sendo preparado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi lançado. A proposta, segundo Haddad, visa permitir um maior equilíbrio entre a arrecadação e os gastos, sem que isso leve a um aumento da dívida pública. Inclusive, uma das metas do novo plano fiscal, segundo ministro, é zerar a dívida pública até 2024.

O modelo do arcabouço fiscal

O arcabouço fiscal proposto por Haddad, visa substituir o teto de gastos para permitir que haja mais gastos do governo, ao mesmo tempo em que se limita esses gastos, evitando um maior déficit por parte do governo. O texto foi apresentado nesta terça-feira ao presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira (PP-AL), e aos líderes governistas.

Como apresentado no site da Câmara dos Deputados, “o arcabouço proposto pelo governo prevê que a variação da despesa será sempre menor do que a variação da receita. Para isso, estabelece que o crescimento anual da despesa será limitado a 70% da variação da receita verificada dos últimos 12 meses (até julho). Assim, se a arrecadação subir 2%, a despesa poderá aumentar até 1,4%”.

A proposta também prevê um piso e um teto para o crescimento real das despesas. A previsão é de que as despesas não poderão crescer menos de 0,6% nem mais de 2,5% ao ano. Por exemplo, se a receita crescer 6%, a regra de 70% permitiria aumento de 4,2% nas despesas, mas o limite será os 2,5%, mantendo o ritmo dos gastos sempre abaixo da receita. Segundo o governo, o piso da enfermagem e o Fundeb, que financia a educação pública básica, não seriam afetados por estes limites.

O arcabouço também prevê uma meta de superávit primário das contas públicas (receitas superiores às despesas), com um sistema de bandas (piso e teto) com variação de 0,25% para cima ou para baixo, e um mecanismo de trava da despesa em caso de descumprimento. Com isso, caso o superávit supera o teto da banda, o excedente será usado para investimentos no ano seguinte. Caso fique abaixo do piso, a despesa irá crescer menos no ano seguinte: 50% do aumento da receita.

Leia também: Em artigo, BBC critica Lula por políticas “antiambientais”

Problemas evidentes deste modelo

Apesar de Haddad achar que seu modelo de arcabouço fiscal cumprirá com tudo o que ele propõe, e haver apoiadores para este modelo, não faltaram críticas ao projeto. Tanto por parte de oponentes quanto por simpatizantes da proposta.

Um dos primeiros a questionar o arcabouço fiscal foi o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), que questionou como o arcabouço irá ajudar as despesas, quando ele permite mais gastos na medida em que a arrecadação aumenta:

“ao atrelar as despesas às receitas, a nova regra torna-se pró-cíclica: quanto mais o PIB cresce, mais crescem as receitas e, portanto, maior o espaço para gastar

Também não vi qualquer menção de controle de despesas obrigatórias, de acionamento de gatilhos, vedações etc.”,

Fonte: Agência Câmara de Notícias

E conclui:

“o modelo apresentado, com maior e contínuo aumento do gasto estatal, seja corrente, seja de investimento, traduz uma visão clara do governo de colocar o Estado como protagonista no efeito multiplicador do crescimento econômico, que a depender das prioridades elencadas poderão não ter os efeitos desejados”

Mesmo os que apoiam o modelo esperam esclarecimentos sobre como ele irá cobrir os gastos “sociais”. O professor de economia da FGV, Nelson Marconi, junto a outros economistas entrevistados pela Folha de São Paulo, busca entender como o governo pretende controlar os gastos e manter um maior investimento em serviços públicos.

“Combinando o que o governo pretende fazer com o objetivo de superávit, a única forma de alcançar isso é através do crescimento de receita. A não ser que vá cortar recursos para saúde, educação, segurança e fiscalização. Aí chega no superávit”

disse Marconi

Conclusão

O arcabouço fiscal do Fernando Haddad foi elaborado com a intenção de evitar que o mercado se assustasse com a possibilidade de aumento de gastos do atual governo. No entanto, basta uma análise cuidadosa para perceber que haverá um constante aumento de gastos. Mesmo que não de imediato.

Provável que a boa recepção do mercado ao arcabouço se deva mais a um alívio em comparação a uma perspectiva pior sobre as pretensões de Lula, do que um apreço pelo modelo em si. Ainda tem a questão dos setores que segundo Haddad, pagarão impostos e que até então estavam isentos.

Afinal, ele precisa percorrer a meta de arrecadação que irá permitir a quitação da dívida pública até 2024. O que provavelmente não irá acontecer. E no fim os consumidores irão pagar por isso.

De fato o arcabouço fiscal poderia ter sido pior, como disse o Fernando Ulrich. Mas ele continua sendo uma forma do estado continuar expropriando e subjugando os brasileiros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Vietnã
Economia

Como o capitalismo venceu o socialismo no Vietnã

Phung Xuan Vu, de oito anos, e seu irmão de 10 anos foram responsáveis por buscar comida para sua família, que estava em constante aperto de fome. Eles viviam no Vietnã na década de 1980, então isso exigia cartões de racionamento. Um dos bens mais importantes da família era um livreto de vales-alimentação. Como a […]

Leia Mais
Argentina
Economia

Ação Humana em seu 75º aniversário nos ajuda a entender como o estatismo dizimou a Argentina

O septuagésimo quinto aniversário do livro Ação Humana de Ludwig von Mises nos convida a refletir sobre as conquistas acadêmicas de Mises e como a corrente econômica dominante ainda não alcançou seus avanços na economia. Como Jesus Huerta de Soto aponta em seu estudo preliminar para a versão em espanhol da décima terceira edição de […]

Leia Mais
Tomate
Economia

Saboreie o gosto da Independência, cultive-a você mesmo!

Cultivar os seus próprios tomates pode ser muito mais gratificante do que o doce sabor da sua colheita. Os benefícios adicionais tradicionais fazem com que muitos de nós regressem estação após estação. Se é um jardineiro, conhece a grande sensação de agir diretamente sobre a natureza para produzir os alimentos que come. Cultivar tomates leva-o […]

Leia Mais