Aumento da criminalidade está levando ao fechamento de lojas varejistas nos Estados Unidos

Exterior loja Walmart

A Gazeta Libertária lança nessa semana uma nova série de publicações. A cada duas semanas, será lançada uma reportagem especial, cobrindo temas relevantes e atuais com maior profundidade. Essa nova modalidade vem somar com os artigos de notícias e comentários já existentes, auxiliando no avanço da comunicação de ideias libertárias e melhor entendimento dos contextos atuais.

A Gazeta Libertária é um projeto da Universidade Libertária, que também abrange em seu leque a Editora Konkin, especializada na publicação de obras inéditas no país, com foco no austrolibertarianismo, em particular, e na liberdade humana, em geral.


A manutenção de lojas físicas nas grandes cidades fica mais difícil com o passar dos anos. Com o avanço das vendas em plataformas digitais, redução do fluxo de pessoas pelo aumento do trabalho em homeoffice, bem como elevados custos trabalhistas e de aluguéis relacionados, os pontos físicos se tornam menos atraentes no atual cenário de rápida transformação. Um dos fatores relevantes, contudo, não é resultado da evolução tecnológica ou das forças de mercado, mas da inabilidade do estado em prover segurança de forma eficiente.

Após sofrer por meses com a onda de furtos e destruição no contexto dos protestos em apoio a George Floyd, além das perdas relacionadas à pandemia, os varejistas agora precisam enfrentar uma nova onda de criminalidade, perpetrada por indivíduos e grupos organizados. Os fechamentos nas grandes cidades estão se somando pelos prejuízos e pela falta de perspectiva de melhora. Os piores cenários são encontrados em Los Angeles, São Francisco, Portland, Nova Iorque, Miami, Chicago, Sacramento, Houston, Seatle, Atlanta e Dallas, mas a tendência está sendo vista em outros grandes centros urbanos americanos.

Os ataques estão se tornando mais violentos e constantes. As ações criminosas não se limitam a lojas de marcas de luxo, como Louis Vuitton, mas redes populares, como Target, Home Depo e Wallmart. Cada vez mais, os criminosos agem em bando, como no assalto realizado em uma loja Louis Vuitton no Illinois, envolvendo 14 criminosos; à Nordstrom de Los Angeles, envolvendo 18; à Best Buy em Minneapolis, com 30; ou os múltiplos roubos, envolvendo cerca de 40, às lojas de um shopping de Hayward.

Os criminosos, então, vendem os produtos roubados em plataformas como eBay e Facebook Marketplace. Grupos especializados nesse tipo de ciclo não executam ações isoladas, mas como parte de seu modelo de negócios.

Como resposta, as redes varejistas estão investindo em formas privadas de proteção, como a contratação de seguranças armados, sensores que avisam sonoramente quando um produto está sendo pego da prateleira, travas nos carrinhos de compras quando estes vão em direção à porta sem passar pelo caixa, colocação de produtos atrás de travas chaveadas, que precisam ser abertas por um funcionário quando o cliente deseja realizar uma compra, melhorias na iluminação externa, sistema de videomonitoramento, Inteligência Artificial para a identificação de criminosos frequentes e seus veículos, tags para rastreamento de produtos, vidros de segurança (que dificultam sua quebra ou estilhaçamento), mudança de posição da entrada da loja, dificultando a rápida entrada e saída, ferramentas que apenas funcionam quando ativadas no caixa, etc. Os custos adicionais, contudo, são repassados para os clientes, ou mesmo tornam desinteressante a manutenção do ponto na localidade em questão. A sensação de insegurança também afasta o fluxo de clientes físicos, o que contribui para a decisão de fechamento.

Como fatores adicionais, as medidas de segurança desestimulam a compra por clientes legítimos, bem como a elevação do custo de vida, derivada da inflação gerada durante o recente uso do monopólio de impressão de moeda fiduciária, reduz o volume de compras e a capacidade de adaptação. Como resultado, os fechamentos geram a perda de empregos, quando não realocados, e a perda de importantes lojas em comunidades que delas dependiam para realizar suas compras correntes.

A maioria dos varejistas está reportando aumento nos custos associados à criminalidade. Alguns vendedores reportam que os roubos correspondem a 3% do volume de suas vendas, comparado com 1% no período pré-pandemia. São facilmente encontrados vídeos nas redes sociais de indivíduos enchendo carrinhos de compras e calmamente saindo pela porta da frente. Os itens mais visados incluem eletrônicos, roupas e bolsas de grifes famosas, medicamento, bebidas alcoólicas e fórmulas para bebês, produtos com boa liquidez e de venda rápida.

Outro problema associado é o aumento de vagas de emprego em aberto, pela insegurança dos funcionários; insegurança essa principalmente em lojas que primordialmente possuem vendedores do sexo feminino, sendo também por isso visadas pelos criminosos.

Em pesquisa de 2021 realizada pela National Retail Federation, 57% dos respondentes relataram aumento do crime organizado. Os custos anuais com roubos ou furtos no país chegam às dezenas de bilhões de dólares.

Empresas reestruturam suas operações

A rede Starbucks anunciou o fechamento de 16 lojas no país, incluindo 6 em Seatle e mais 6 em Los Angeles, pelo aumento do uso de drogas entre clientes, bem como aumento na criminalidade da região. A rede está repensando sua política de liberar o uso dos banheiros ao público geral.

O Walmart pretende fechar suas duas últimas lojas em Portland, Oregon. A REI anunciou o fechamento de sua loja na cidade, após 20 anos de funcionamento. A Nike solicitou policiais de folga para realizar a segurança de suas lojas na cidade. A empresa pretende cobrir os custos dos oficiais, mas informou que deve elevar a segurança de suas lojas para poder reabri-las ao público e manter um ambiente apropriado. A prática apresenta precedentes na região, como no uso de policiais para a proteção da loja da Apple. Críticos, contudo, apontam para a fadiga associada à atividade dos agentes em período de folga, além da aparência de favoritismo político nas decisões.

O McDonald’s enfrenta problemas semelhantes em Chicago, com crimes violentos e abusos de drogas ocorrendo nos restaurantes da rede. Para seu CEO, Chris Kempczinsk, o que está ocorrendo em seus restaurantes diariamente é reflexo do que está ocorrendo na sociedade em geral.

A Target anunciou a seus investidores que suas perdas com furtos e roubos reduzirão suas perspectivas de lucro no ano corrente.

O banco JP Morgan está restringindo o horário de funcionamento de seus caixas automáticos, em substituição aos caixas 24 horas.

O papel da legislação vigente

Um dos motivos por trás do aumento de crime desse tipo está na normalização do uso de máscaras, fator associado à recente pandemia. Mais importante, nos últimos 10 anos, quase metade de todos os estados americanos aumentaram os requisitos para considerar como crime grave os furtos cometidos no varejo. Trinta e oito estados agora não consideram o furto em lojas um crime grave, a menos que US$ 1.000 ou mais em mercadorias sejam roubados. Esse limite é respeitado pelos criminosos, que limitam seu roubo ao valor por pessoa, por assalto.

A redução da gravidade do crime é associada à leniência da pena. A grande maioria dos casos não é sequer resolvida. Os criminosos não tendem a sofrer consequências e, quando capturados, em pouco tempo retornam às ruas. A tentativa de reduzir as superlotações no sistema carcerário americano, o maior do mundo, bem como o clima relacionado ao “defund the police” estão levando ao aumento dos roubos e furtos no país. Pesquisa de 2020 da National Retais Federation revelou que dois terços dos respondentes em estados que implantaram a redução da gravidade criminal apresentaram elevação na criminalidade.

A migração para os subúrbios

Como efeito da pandemia, os empregadores e empregados perceberam os benefícios do trabalho remoto, com redução do tempo perdido no trânsito caótico das grandes cidades, redução de custos nas operações e maior conforto e flexibilidade no horário de trabalho. Sem a necessidade de deslocamento para o centro das cidades, os subúrbios estão florescendo, enquanto os centros, a parte tradicionalmente mais comercial, estão ficando em segundo plano. A elevação do custo de vida também está levando mais pessoas para os subúrbios, deixando as grandes lojas nas cidades em posição mais delicada e menos lucrativas. As redes varejistas já perceberam isso, ativamente migrando para lá.

O peso indireto do estado

Deve-se lembrar que o peso do estado e sua inabilidade inerente vão além das ações (ou inações) diretas, incluindo, mas não se limitando:

  • aos altos custos regulatórios e associados aos impostos, mesmo para a implantação de alternativas privadas;
  • ao banimento estatal de sacolas plásticas, o que favorece o crime pelo uso de sacolas reutilizáveis opacas e de grande volume para esconder os produtos furtados;
  • à criação de leis que punem crimes sem vítimas e a constante mobilização das forças policiais já insuficiente para lidar com eles;
  • à lei de criminalização de drogas, que cria monopólios de produção para produtos de demanda certa, cria fluxos permanentes de recursos para as mãos dos criminosos, que agora possuem a capacidade de compra de armamento pesado e expansão de seu raio de influência.

A solução pelo estado não deve ser esperada, pois ele se encontra em luta constante contra os efeitos do que ele mesmo torna possível. O que seria muito mais facilmente solucionado por vias totalmente privadas, pela via política, se torna justificativa, após uma série de debates inúteis, para a implementação de mais ações insuficientes. O mercado é dinâmico e sempre se readapta às mudanças, enquanto também as reforça. O mercado, contudo, sempre está limitado ao contexto estatal que o limita, o que restringe sua capacidade tão essencial de se readequar e constantemente, e da melhor forma, atender ao seu propósito de existência.

Gabriel Camargo

Autor e tradutor austrolibertário. Escreve para a Gazeta com foco em notícias internacionais. Suas obras podem ser encontradas em https://uiclap.bio/GabrieldCamargo

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