No cotidiano da grande mídia, vemos economistas mainstream se referindo à inflação como alta de preços.

O fato é que essa proposição é uma inverdade. A inflação é a expansão de base monetária que, ceteris paribus, consequentemente aumenta os preços de ativos, ou seja, a alta de preços é o efeito da inflação.

Por que os governos inflacionam a moeda?

Ora, é muito fácil entender. A tributação sempre é impopular e diversas vezes gerou revoluções. Acontece que a falsificação da moeda permite com que o governo possua mais dinheiro em mãos sem recorrer às formas tradicionais de tributação. Essa falsificação acarretará em um aumento dos preços e diminuição de poder de compra do povo, ou seja, uma forma sorrateira de aumentar os impostos. O padrão papel-moeda fiduciária ainda possibilita uma inflação de acordo com as vontades políticas, ao passo que o extinto padrão ouro clássico não oferecia tal possibilidade.

A inflação muda dependendo do cenário político?

Sim. Em uma democracia, por exemplo, a inflação tende a ser maior. Os políticos aproveitam do “analfabetismo econômico” da população e usam a inflação para “aquecer” a economia, estimulando a demanda (isso causará o denominado “boom”). É quando as pessoas tomam empréstimos para comprar casas, eletrodomésticos, carros etc. Cria-se então uma falsa prosperidade, usada por partidos para se perpetuarem no poder, o que elevará os preços dos ativos em decorrência da própria inflação e do aumento artificial da demanda (isso tornará atraente novos investimentos para suprir tal demanda artificial). Acontece que essa demanda não existiria em uma situação real não inflacionária. Ela é uma ilusão. Quando o processo inflacionário cessar, ou desacelerar, a demanda artificial desaparecerá e tais investimentos serão insustentáveis, causando desemprego e falência em diversas empresas (bust).

A recessão após o boom é inevitável, porém, em um cenário político onde partidos disputam poder, abandonar as políticas inflacionárias é muito impopular. Utiliza-se a inflação como uma “batata quente”, por assim dizer. Acontece que, quanto mais o processo inflacionário é postergado, pior será a recessão, pois os investimentos dependentes do estímulo de demanda e/ou de crédito barato artificial se expandirão e demandarão cada vez mais empregos para aquele tipo de processo produtivo. Em última instância, a inflação direciona um errôneo alocamento de recursos, incluindo a especialização em certa área daquele fator de produção, ipso facto, gerará um pleno desemprego.

Resumidamente, podemos dizer que a inflação altera o fluxo monetário entre os vários setores e estágios do processo produtivo e cria a expectativa de um aumento ainda maior de preços (piora a já errônea alocação de recursos).

A frase “A inflação é o ópio do povo”, de Henry Hazlitt, ilustra muito bem a inflação em um cenário político.

Como a inflação prejudica a população em geral

De acordo com o efeito Cantillon, embora os preços subam conforme a quantidade de dinheiro aumenta, essa elevação nos preços ocorre disformemente, dependendo de quem recebe primeiro o dinheiro e como este é gasto.

Vamos exemplificar: imagine que, em tempos de guerra, o governo emita dinheiro para custear suas munições. Os primeiros a colocarem as mãos nesse dinheiro serão as indústrias de munições e os que nela trabalham, ou seja, estão em uma posição privilegiada por estarem com uma média de lucros maiores e os funcionários com melhores salários. Esses funcionários beneficiados estarão dispostos a pagar mais por um mesmo produto, pois estão com mais dinheiro em mãos, então passam a usufruir de mais mercadorias e essas vão subindo de preço.

O que acontece é que, conforme esse dinheiro vai sendo repassado, os preços e salários vão subindo, mas, mesmo que a elevação nos preços aumente proporcionalmente os salários, quem colocar a mão nesse dinheiro por último sempre será prejudicado. Existe uma diferença de tempo entre o aumento de preços e o aumento de salários, então, enquanto a última camada da população (que é a maioria) está colocando a mão nesse novo dinheiro, os preços da maioria dos bens de consumo já sofreram alteração e esse intervalo de tempo no qual o custo de vida ficou mais caro resultou no empobrecimento dessa última camada da população.

Preferência temporal e taxa de juros

Uma das outras consequências nefastas da inflação é o aumento da preferência temporal da população em geral. Vamos exemplificar: imagine que um país possua uma inflação constante, como ocorre na maioria dos casos. Sabendo disso, as pessoas tendem a economizar menos, pois o seu dinheiro estará desvalorizando constantemente. Acontece que, com menos dinheiro economizado em poupança, a oferta de crédito cai e o preço sobe. Uma economia próspera é aquela que tem um aumento de produtividade crescente e isso depende do acúmulo de capital e baixa preferência temporal, o que sempre tornaria o custo de vida cada vez mais barato em um livre mercado. Acontece que o encarecimento do crédito desacelera o aumento de produtividade por dificultar a criação de novas empresas que serão concorrentes das já existentes, dificulta a operação de grandes cadeias de produção que usam constantemente o crédito para se manter e dificulta a expansão de empresas já existentes.

End the FED.

Leia também: Conceituando função empresarial e assimetria informacional.


Revisão por: Paulo Droopy (@PauloDroopy)


Para aprofundar os seus
estudos sobre a inflação
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2 Comments
  • Henrique Andrade
    Henrique Andrade
    fevereiro 20, 2019 at 11:13 am

    Show, ótimo artigo, Botti! Seria interessante trazer o modo dark mode para o site, a leitura ao longo do tempo incomoda muito os olhos.

    Reply
  • Henrique Andrade
    Henrique Andrade
    março 23, 2019 at 5:38 pm

    Show, ótimo artigo, Botti! Seria interessante trazer o modo dark mode para o site, a leitura ao longo do tempo incomoda muito os olhos.

    Reply
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