Segundo um relatório do Safeguard Defenders, o governo da China abriu várias delegacias em vários países do mundo. O intuito seria monitorar seus cidadãos emigrantes em outros países.

O relatório, intitulado “110 Overseas: Chinese Transnational Policing Gone Wild”, detalha os extensos esforços da China para combater o que ela chama de “fraude” por parte de seus cidadãos. Para isso, o governo abriu delegacias nos cinco continentes e com isso as autoridades chinesas conseguiram “realizar o policiamento de operações em solo estrangeiro”. O Brasil é um dos países onde estão estas delegacias, mais precisamente em São Paulo e Rio Grande do Sul.

A Europa é o continente que abriga a maioria das delegacias de polícia chinesa, com locais espalhados em lugares como Londres, Amsterdã, Praga, Budapeste, Atenas, Paris, Madri e Frankfurt. A América do Norte também abriga quatro das estações, sendo três destes em Toronto e uma na cidade de Nova York. No total, são 54 estações desse tipo em 30 países diferentes.

Além de monitorar cidadãos chineses que estiverem criticando o governo chinês, as delegacias também tem a finalidade de fazer com que cidadãos investigados sejam extraditados e devolvidos à China.

Assistência aos cidadãos expatriados?

Quando questionado sobre as delegacias ao redor do mundo, o governo chinês negou que houvessem forças policiais não declaradas fora de seu território. Em entrevista à CNN, o Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que espera que “as partes relevantes parem de exagerar para criar tensões. Usar isso como pretexto para difamar a China é inaceitável”.

O governo Chinês ainda alegou que as instalações são centros administrativos, criados para ajudar os expatriados chineses em tarefas como renovar suas carteiras de motorista. A China também disse que os escritórios foram uma resposta à pandemia de Covid-19, que deixou muitos cidadãos presos em outros países e fora da China, incapazes de renovar a documentação.

Quando questionado pela CNN no mês passado sobre as alegações originais da Safeguard Defenders, o Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que as estações no exterior eram compostas por voluntários. No entanto, o último relatório da organização afirma que uma rede policial examinada contratou 135 pessoas para suas primeiras 21 delegacias.

Conluio da China com vários países

As atividades consulares não declaradas fora das missões diplomáticas oficiais de uma nação são altamente incomuns e ilegais, a menos que uma nação anfitriã tenha dado seu consentimento explícito, e o relatório da Safeguard Defenders afirma que os escritórios no exterior da China são vários anos anteriores à pandemia. A conclusão mais plausível que poderia vir a mente é a de que os governos dos países onde estas delegacias estavam instaladas consentiram e aprovaram tal iniciativa.

E foi exatamente o que aconteceu.

Ainda segundo o relatório do Safeguard Defenders, houve acordos bilaterais entre a Itália e a China para manter grupos de patrulhamento em locais habitados por imigrantes chineses. A justificativa é a de que o patrulhamento serviria para “efetivamente deter os crimes lá”.

Em 2016, um oficial da polícia italiana disse à NPR que o policiamento conjunto “levaria a uma cooperação internacional mais ampla, troca de informações e compartilhamento de recursos para combater os grupos criminosos e terroristas que afligem nossos países”.

Outros países como Croácia, Sérvia e África do Sul também demonstraram aprovação da presença de delegacias chinesas em seus respectivos territórios. O consulado da China na Cidade do Cabo disse que o plano “une todas as comunidades, tanto sul-africanos quanto cidadãos estrangeiros na África do Sul”. Ele também afirmou que as delegacias tem “prevenido ativamente crimes contra a comunidade e reduzido significativamente o número desses casos”.

Os verdadeiros interesses da China

Já para os representantes do Safeguard Defenders, as motivações da China por trás destas delegacias são bem diferentes.

“O que vemos vindo da China são tentativas crescentes de reprimir a dissidência em todo o mundo, de ameaçar as pessoas, assediar as pessoas, garantir que elas tenham medo o suficiente para permanecerem em silêncio ou então serem devolvidas à China contra sua vontade”.

disse a diretora da campanha Safeguard Defenders, Laura Harth.

“Vai começar com telefonemas. Eles podem começar a intimidar seus parentes na China, a ameaçá-lo, fazer de tudo para persuadir os alvos no exterior a voltar. Se isso não funcionar, eles usarão agentes secretos no exterior. Eles os enviarão de Pequim e usarão métodos como sedução e aprisionamento”

concliu Harth

Sobre o Safeguard Defenders

O Safeguard Defenders é uma ONG que busca proteger individuos que estejam tendo seus direitos humanos violados. O grupo vem dando uma grande atenção aos cidadãos chineses emigrantes por desconfiar que este grupo esteja sendo perseguido pelo governo chinês. E suas investigações levaram exatamente a essa conclusão.

Estranhamente, não apenas o artigo original do relatório original da entidade está fora do ar, como o próprio site da instituição. A informação que aparece quando se clica na URL do site é o erro 503, que acontece quando o site está fora do ar por manutenção.

No entanto, a possibilidade do governo chinês ou qualquer outro relacionado ter a ver com isso não pode ser descartada.

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