Inteligência Artificial irá destruir os empregos?

Inteligência Artificial e desemprego

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Segundo relatório da Challenger, Gray & Christmas, empresa especializada no ramo de recolocação e transição de carreira, cerca de 4.000 demissões ocorridas no mês passado nos EUA foram devido à Inteligência Artificial. No ranking de motivos, elas aparecem em sétimo lugar. Outros motivos estão relacionados (de certo modo, essa também está) à situação da economia atual, que passa por um período de recessão global.

O receio com a possibilidade da substituição pela tecnologia foi evidenciado quando, em maio, escritores e roteiristas de TV e cinema entraram em greve pedindo por melhores condições de pagamento e garantias contra o avanço tecnológico.

Concorrer contra as Inteligências Artificiais não é algo fácil. Além de reduzirem os custos, podem trabalhar 24 horas sem descanso, bem como não estarem suscetíveis às flutuações de humor, emocionais e de produtividade normais da condição humana.

Recentemente, a IBM revelou planos para reduzir ou pausar parte de suas contratações devido à perspectiva de sua substituição pelas Inteligências Artificiais em futuro próximo. Estimativas recentes da Goldman Sachs revelaram que 300 milhões de empregos podem ser substituídos pelos avanços das IAs, com até um quinto dos empregos globais sob alguma forma de disrupção, sendo essa considerada uma estimativa conservadora.

Breves considerações

A Inteligência Artificial será extremamente útil para elevar a produtividade de tarefas mais básicas ou repetitivas. Isso, no entanto, impacta mais diretamente os novos entrantes no mercado, bem como os trabalhadores empregados em tarefas primordialmente operacionais. As IAs, contudo, nunca serão capazes de completamente substituir os humanos, por serem fundamentalmente diferentes. Sem o mecanismo apropriado, não há essa possibilidade. Inteligências artificiais não são capazes, por limitações físicas, a interpretar o mundo como faz o ser humano. Na verdade, todos os seres dotados de consciência. Por serem incapazes de sentir emoções e sentimentos, não podem agir de forma propositada para determinado fim pretendido, o que fortemente as limita em comparação aos que dizem ser capaz de substituir. Não o são.

Um mito que ainda persistem na mente de muitos é aquele que relaciona o avanço tecnológico à redução do padrão de vida. Assim como os Ludistas, muitos ainda acreditam no caráter danoso da mecanização. A tecnologia, dizem eles, apresenta uma característica muito negativa para a sociedade: ela rouba os empregos dos mais pobres e menos instruídos, contribuindo, assim, para a manutenção ou aumento da desigualdade.

Mas, afinal, a evolução tecnológica realmente destrói empregos? A resposta curta é sim, contudo, essa não é a totalidade da história. O problema (e o motivo do erro de julgamento que a maioria das pessoas faz) é parar a análise aqui. A pergunta correta deveria ser: para onde foram esses trabalhadores? Comumente são ignoradas as novas oportunidades derivadas desse novo arranjo. Quando o avanço tecnológico eleva a produtividade de um determinado segmento, os componentes menos produtivos (que possibilitam menor agregação de valor) podem ser dispensados, tornando-se disponíveis para atuar onde serão mais úteis. O avanço da tecnologia possibilita a realocação da força de trabalho para onde ela se mostra mais necessária e produtiva.

Pode-se dizer que, agora, com a elevação do ritmo de mudanças, bem como sua natureza, o que acabei de escrever perde sua validade. Deve-se lembrar, contudo, que muitas profissões do futuro ainda não existem; isso não me parece um absurdo. Significativa parte das crianças de hoje provavelmente trabalhará em profissões que ainda não foram inventadas; a outra parte, em profissões que hoje já existem, mas que a elas se apresentarão com maior nível de eficiência e melhores oportunidades de utilização eficaz dos recursos escassos. Deve-se tomar cuidado quando se tenta medir o futuro com a régua do presente. As profissões do presente fariam tanto sentido para alguém do início do século passado como as profissões do futuro farão para nós.

Se não houver a realocação de recursos para um arranjo mais eficiente, a sociedade como um todo perderá. O mercado de trabalho apresenta-se em transformação constante, o que requer novas habilidades de seus participantes. A velocidade crescente das transformações pressiona de maneira desigual os indivíduos. A desigualdade de oportunidade, no entanto, é algo intrínseco a condição humana, não sendo possível eliminá-la. O problema não está no processo de transição, mas nas barreiras e limitações artificiais que o restringem. Os detentores do poder creem ser os iluminados que nos guiarão ao perfeito futuro. Suas ações, no entanto, apenas tornam o processo, que já não era indolor, em algo muito mais danoso, principalmente aos mais pobres, exatamente os que mais dizem proteger.

O que faz a sociedade se desenvolver não é a manutenção de processos ineficientes, mas o acúmulo de capital e a crescente geração de valor; o que apenas pode ser eficientemente alcançado por meio da liberdade de ação de cada ser agente.

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Gabriel Camargo

Autor e tradutor austrolibertário. Escreve para a Gazeta com foco em notícias internacionais.

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