Taiane Copello
21 anos, libertária, estudante de filosofia no 6º período pela UFRJ e estudante de teatro
Ludwig Von Mises, um dos principais precursores da Escola Austríaca de economia, desenvolveu uma ideia chamada Praxeologia, que se trata da ciência da ação humana (praxis = ação e logia = ciência). Mises teve sua base epistemológica em Immanuel Kant [1], que desenvolveu sua própria epistemologia, tal qual partia do pressuposto que existem dois tipos de juízos: o analítico e o sintético. Kant também estabeleceu duas formas de obter conhecimento, a priori e a posteriori.
Um juízo analítico caracteriza-se pela descrição de um sujeito-objeto pelo seu próprio significado. Por exemplo: todo solteiro não é um homem casado. Enquanto o juízo sintético se caracteriza por demonstrar uma informação a respeito do sujeito-objeto sem que isso esteja estabelecido na sua definição original. Um conhecimento a priori é aquele que independe de uma verificação da experiência, fundamentando-se somente na razão, enquanto que um conhecimento a posteriori é aquele que se verifica pela experiência.
Kant formulou também que há como ter juízos analíticos e sintéticos de modo a priori e juízos sintéticos a posteriori. Como todo conhecimento parte da experiência, e não há como confiar somente na razão pura, pois devemos, de alguma forma, recorrer aos fenômenos observáveis. Sendo assim, a ação humana se baseia em juízos sintéticos a priori.
Primordialmente, para elucidar a Praxeologia, Mises parte do axioma da ação: todo indivíduo, ao agir, busca sair de um estado de menor conforto para um estado de maior conforto. Aquele que negar esta proposição cairá em contradição performática, na qual você contradiz as condições transcendentais [2] para aquilo ser dito, uma vez que foi preferível agir em função de tentar refutar o axioma – por alguma razão, não importa qual, o indivíduo sentiu que estaria em uma posição melhor refutando-o. Valendo ressaltar que denomina-se por axioma uma verdade auto-evidente.
Mostra-se necessário investigarmos também o que move os indivíduos a fazerem escolhas. Posto isto, a ação humana é colocada em prática através da vontade, uma vez que, pelo axioma da ação, julgamos que um estado possui uma satisfação maior (exemplo: jogar basebol é melhor do que ficar em casa) porque a vontade motiva o indivíduo na sua busca de atingir seu fim, que é este mesmo objeto da vontade, o qual, no dado exemplo é o jogo de basebol. A vontade, para Mises, é a resposta aos estímulos do ego, o eu.
Nesse contexto, é válido distinguir o que a ação humana não é do que a ação humana de fato é. Ela não é qualquer mudança corporal, pois se alguém me derrubar no chão, esta mudança não dependeu de mim. Dessa maneira, causas externas não podem ser consideradas como constituinte da ação humana do agente passivo. Um acidente não depende daquele que o sofreu para alocação de mudança corporal do mesmo, logo, essa alteração que se dá no corpo acidentalmente não é uma ação praxeológica. A ação humana é uma mudança de corpo se, e somente se, esse comportamento for propositado pela vontade do agente, o que pressupõe uma causa interna inerente à alocação do corpo durante a ação. Portanto, tendo em vista a vontade como causa interna, a ação humana é definida como a vontade posta em funcionamento.
Os fatores para a vontade ser posta em prática na ação são os meios, os fins, os custos e o tempo. Os meios são os caminhos pelos quais serão escolhidos pelo indivíduo serão aqueles que ele acredita serem os mais eficientes, usando de sua racionalidade, para alcançar seu fim. Os fins são os objetivos pelos quais este mesmo indivíduo pretende alcançar, alocando estes meios os quais ele julga serem eficientes, para alcançar o fim, o que ele quer. Os custos são aquilo pelo qual se abre mão durante o processo de busca de um maior conforto. Por fim, o tempo se define como um recurso escasso, pois nós morremos, e isto é um fator decisivo na ação humana já que, como ele acaba em decorrência desse fator, é posto como necessário agir.
A Praxeologia é fundamental para a economia austríaca, pois ela é seu método econômico. Todas as leis de mercado devem ser baseadas neste axioma, pois tendo em vista o conceito que Mises atrela ao símbolo (palavra) “economia” se trata das relações de troca entre indivíduos no mercado, i.e., da ação humana dos indivíduos. Esta ação não se predispõe a previsões de futuro, já que ações humanas podem, no máximo, ser especuladas; dessa forma, já que ela não pode ser prevista, não se deve limitá-la a gráficos e estatísticas, como numa economia tradicional.
Referências
[1] Ver Crítica da Razão Pura.
[2] Kant denominou por “transcedental” um conhecimento a priori que possui em si a condição de necessidade de apreender os objetos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VON MISES, Ludwig. Ação Humana: Um tratado de economia. Capítulo 1. 3.1ª edição – São Paulo, editado por Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2010. Traduzido por Donald Stewart Jr.
HOPPE, Hans-Hermann. Uma Teoria do Socialismo e do Capitalismo. Capítulos 1 e 2. 1ª edição – São Paulo, editado por Instituto Ludwig Von Mises Brasil. Traduzido por Bruno Garschagen.
Praxeologia: O método dos economistas austríacos. Artigo escrito por Murray N. Rothbard. Instituto Ludwig Von Mises Brasil. Traduzido por Daniel Chaves Claudino. The Foundation of Modern Austrian Economics (1976). Disponível em: https://foda-seoestado.com/praxeologia-o-metodo-dos-economistas-austriacos/
O que é ciência apriorística e porque a economia é uma. Artigo escrito por Gene Callahan. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 12 de Março de 2008. Disponível em: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=48
Praxeologia – A constatação nada trivial de Mises. Artigo escrito por Robert Murphy. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 9 de Junho de 2010. Disponível em: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=230
O apriorismo de Mises contra o relativismo nas ciências sociais. Artigo escrito por Thorsten Polleit. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 18 de Dezembro de 2010. Disponível em: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=644
Prêmio Nobel para a praxeologia. Artigo escrito por Tullio Bertini. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 22 de Novembro de 2012. Disponível em: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1464