Revoltas populares nos países da ex-URSS

Revoltas populares nos países da ex-URSS

Os protestos sociais no Cazaquistão reergueram uma longa lista de manifestações dentre as ex-Repúblicas Soviéticas (URSS). No século XXI, nações como Geórgia, Ucrânia e Bielorrússia foram cenário de intensos protestos de insatisfação, pacíficos, não pacíficos, anti-governo, contra guerras ou em prol da democracia. Os problemas identitários, disputas territoriais e corrupção marcados por estados oligárquicos são derivados da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) que ainda se perpetuam na maioria desses locais.

Cabe mencionar que a estratégia de influência russa ainda é motivo de desafios dentre esses países, com uma camada da população pró-Rússia, ao passo que outros defendem o rompimento e a ligação com o mundo ocidental. Como veremos, as causas originais desses levantes diferem, mas as convocações de revolução são comuns na região. Conheça as insurgências populares que foram palco de algumas ex-URSS no século XXI.

Geórgia e Ucrânia

Geórgia e Ucrânia possuem um passado bem similar após a dissolução da URSS e quando conquistaram suas independências. Ambas buscavam se distanciar de Moscou e almejam se aproximar das instituições ocidentais, principalmente da União Europeia e OTAN. Nesse propósito, criaram em 1997 a GUAM, bloco político visando contrapor-se ao poder de influência do Kremlin e que também integra a Moldova e o Azerbaidjão. Em 2003 e 2004, respectivamente, a Geórgia e a Ucrânia também presenciaram fortes manifestações populares que ficaram designadas como “Revoluções Coloridas”, que levaram à destituição de regimes alinhados à Rússia para outros com regimes pró-ocidente. 

Em 2008, após derrotada em uma guerra contra as tropas russas, a Geórgia perdeu permanentemente a soberania sobre às duas províncias independentes, Ossétia do Sul e Abecásia, as quais são internacionalmente reconhecidas como território georgiano no Cáucaso. Após a Revolução Euromaidan, em 2014, a Rússia anexou a península da Crimeia, anteriormente pertencente à Ucrânia. Separatistas pró-Rússia apoiados por Moscou também chegaram a dominar a região de Donbas, no extremo-leste do país, se declararam unilateralmente a República Popular de Donetsk e Lugansk,  cujas reivindicações variam desde autodeterminação até união com a Rússia. Sendo assim, o sentimento mútuo pela retomada da integridade territorial dos dois Estados fizeram estabelecer um Acordo de Parceria Estratégica, em 2017.   

Recentemente, as tensões entre a Rússia e a OTAN voltaram a crescer. No domingo (16), o porta-voz da Rússia declarou: “As relações entre a Rússia e a OTAN aproximam-se da linha vermelha devido ao apoio militar da aliança à Ucrânia. A Rússia não ameaça ninguém com operações militares, mas será forçada a tomar essa medida caso a OTAN se expanda.”

Nesse contexto, Reino Unido, Estados Unidos, Lituânia, Estônia e Polônia estão temendo que haja uma invasão iminente e estão fornecendo uma gama de armamentos e equipamentos para a Ucrânia com um dos principais abastecimentos sendo armas antitanques. 

Quirguistão

O Quirguistão deteve três grandes manifestações nos últimos dezessete anos. Os primeiros sinais de protestos ocorreram em 2005. A conhecida Revolução das Tulipas, teve como sua origem na revolta popular com as denúncias de corrupção em eleições parlamentares. O inconformismo da população tinha razão definida: depor Askar Akayev, presidente envolvido em esquemas de corrupção. Com o aumento da comoção popular no país, Akayev renunciou e fugiu para Moscou. 

Em 2010, aconteceu um novo grande protesto conhecido como revolução Quirguiz. Aumento dos preços de energia e a corrupção desenfreada nos altos escalões do Estado, foram o suficiente para um motim de manifestantes pedir a renúncia do presidente. O presidente renunciou e se encontra no Cazaquistão. 

Na sequência, tumultos no sul do país eclodiram por conflitos étnicos entre a população quirguiz e minoria uzbeques resultaram em pelo menos 60 feridos e centenas de feridos e o estado de emergência foi instalado. O governo interino pediu à Rússia intervenção militar, pois a situação estava fora de controle. No entanto, Moscou alegou que não poderia se envolver no auge do conflito visto que se tratava de uma crise interna do país e enviaria somente ajuda humanitária. 

Já em 2020, os protestos iniciaram em decorrência da manipulação das eleições parlamentares consideradas fraudulentas pelos manifestantes. O resultado das eleições foi cancelada seguido por protestos violentos

Armênia

Os armênios tomaram as ruas em 2008 pela suspeita de fraude eleitoral, porém o presidente Nikol Pashinyan eleito se manteve no poder até 2018, ano que novos protestos eclodiram. Na época, mesmo ultrapassando a quantidade máxima de mandatos, o presidente tentou continuar a controlar o poder, mas o ruído dos protestos não o permitiram. 

Moldávia

A vitória dos partidos do governo, o Comunista, nas eleições gerais de 2009, desencadearam em manifestações violentas em resposta às acusações de fraude, que culminaram na anulação das eleições e em um país que ficou sem presidente por três anos. Em 2020, protestos pró-ocidente aconteceram após políticas serem implementadas em favorecimento a partidos pró-Rússia. 

Belarus (Bielorrússia)

Milhares de pessoas protestaram em Belarus entre 2020 e 2021. Os bielorrussos exigem que o presidente Alexander Lukashenko, conhecido como o último ditador da Europa, que ocupa o poder desde 1994, deixe a presidência.

Como visto em vários outros países, as pessoas saíram às ruas pela corrupção na política. O que não diferiu na Bielorrússia — protestantes denunciaram uma suspeita de fraude eleitoral e o sistema repressivo de Lukashenko.  Apesar da ampla repercussão global das passeatas, Lukashenko permanece no cargo.  

Lucas Guimarães

Internacionalista e cursando MBA em Gestão de Negócios. Atualmente, trabalha na consultoria ULTRAMARES NEGÓCIOS INTERNACIONAIS e integra o grupo internacional Students for Liberty Brazil.

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