Foi um ano desolador para os defensores da liberdade de imprensa. A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras de 2021 (RSF) publicou seu relatório anual sobre violência cometida contra jornalistas, que apontou um número recorde de comunicadores detidos em todo o mundo até 1.º de dezembro de 2021.

A RSF registrou 488 jornalistas e colaboradores ligados a veículos de comunicação presos por exercer sua profissão, atingindo o maior patamar global desde que o relatório passou a ser divulgado, em 1995, e uma alta de 20% em relação a 2020.

Dentre esses, 25 são permanecidos reféns. Em contrapartida, o total de jornalistas mortos no ano (46), é o menor conferido pela organização desde 2003. A instituição esclareceu que a “queda” é decorrente do resultado parcial do término dos conflitos armados na Síria, Iêmen, Iraque e Afeganistão.

Apesar de as razões para jornalistas serem presos diferirem de país a país, o número recorde implica desde novas tecnologias e leis de segurança, regimes autocráticos em todo o mundo e uma crescente repressão contra jornalistas independentes. 

A China lidera a lista de países com mais prisões arbitrárias de profissionais de imprensa pelo 5.º ano consecutivo, com 127 atrás das grades, seguido de Mianmar (127), Vietnã (43), Belarus (32) e por último, Arábia Saudita com 31 detidos. 

Jornalista, Zhang Zhan, cidadã de Wuhan e apoia protestos de Hong Kong.

 A China também bate o recorde onde mais mulheres da imprensa são presas, 19, incluindo a premiada do RSF 2021, Zhang Zhan, cuja a família anda alertando sobre seu grave estado de saúde. Além disso, a lista do RSF contou com os jornalistas encarcerados de Hong Kong — como resultado da Lei de Segurança Nacional de 2020, que julga qualquer coisa que Pequim torna como subversão, sucessão, terrorismo ou complô com países estrangeiros, passivo de pena perpétua.    

Enquanto na China continental, Zhang Zhan foi sentenciada a quatro anos de prisão em dezembro após fazer cobertura sobre como a China lidou com a pandemia de Covid-19 em Wuhan. Zhang Zhan, 38 anos, estaria com risco de morte após meses de greve de fome e precisando de tratamento médico adequado. Como ex-advogada, ela retratou como o Partido Comunista chinês (PCC) estava prendendo repórteres independentes e intimidando famílias de pacientes com covid-19. 

Por outro lado, Mianmar, que não registrava jornalistas presos desde dezembro de 2020, viu a tensão do pós-golpe militar, deixando ao menos 26 jornalistas em custódia por doze meses seguintes. A situação, no entanto, torna ainda mais difícil do que os números afirmam. Muitos repórteres, como americano Danny Fenster, foi liberado antes do tempo após quase seis meses preso, sugere que ainda pode haver outros jornalistas não identificados em custódia.

O líder de Belarus Aleksandr Lukashenko, demonstrou o quanto desvaloriza a opinião pública e quer se perpetuar no poder ao tomar medidas extremistas como a prisão arbitrária do jornalista Raman Pratasevish: autoridades do Belarus forçaram um pouso do avião civil da Ryanair em que Pratasevish viajava sobre o país. 

Num ano cruel para a liberdade de expressão, esta forma de intolerância dá pouca esperança que o número de jornalistas irá  parar de superar recordes em tão pouco tempo. 

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