A oferta monetária está aumentando novamente, e a inflação persistente dos preços não é uma surpresa. A inflação de preços ocorre quando a quantidade de moeda aumenta significativamente acima da demanda do setor privado. Para os investidores, a pior decisão nesse ambiente de destruição monetária é investir em títulos soberanos e manter caixa. A destruição do poder de compra da moeda pelo governo é uma política, não uma coincidência.
Os leitores me perguntam por que o governo teria interesse em enfraquecer o poder de compra da moeda que ele próprio emite. É notavelmente simples.
A inflação monetária é o equivalente a um incumprimento implícito. É uma manifestação da falta de solvência e credibilidade do emissor da moeda.
Os governos compreendem que podem ocultar seus desequilíbrios fiscais ao reduzir gradualmente o poder de compra da moeda. Essa estratégia permite que alcancem dois objetivos: primeiro, a inflação atua como uma transferência disfarçada de riqueza dos poupadores e assalariados para o governo; segundo, funciona como um imposto oculto. Além disso, o governo expropria a riqueza do setor privado, obrigando a parte produtiva da economia a assumir a inadimplência do emissor da moeda. Isso é feito impondo a utilização obrigatória de sua moeda e forçando os agentes econômicos a comprar seus títulos através de regulamentações. Toda a regulação do sistema financeiro é construída sobre a falsa premissa de que o ativo de menor risco é o título soberano. Isso obriga os bancos a acumular moeda na forma de títulos soberanos. A regulamentação incentiva a intervenção estatal e a marginalização do setor privado, exigindo que os bancos usem pouco ou nenhum capital próprio para financiar entidades governamentais e o setor público.
Uma vez que entendemos que a inflação é uma política deliberada e representa uma inadimplência implícita do emissor, podemos compreender por que a tradicional carteira de sessenta por cento em ações e quarenta por cento em títulos não é eficaz.
Moeda é dívida e títulos soberanos são moeda. Quando os governos esgotam seu espaço fiscal, o aumento da intervenção estatal no crédito e a elevação contínua dos impostos prejudicam o potencial da economia produtiva e do setor privado, favorecendo o crescimento constante dos passivos governamentais não financiados.
Os economistas alertam para o aumento da dívida, o que é correto, mas às vezes ignoramos o impacto no poder de compra da moeda dos passivos não financiados. A dívida dos Estados Unidos é colossal, alcançando US$ 34 trilhões, e o déficit público é insustentável, quase US$ 2 trilhões anuais. No entanto, isso é apenas uma fração comparado aos passivos não financiados que, no futuro, paralisarão a economia e enfraquecerão a moeda.
O passivo não financiado estimado da Previdência Social e do Medicare é de US $ 175,3 trilhões (Relatório Financeiro do Governo dos Estados Unidos, fevereiro de 2024). Sim, isso é 6,4 vezes o PIB dos Estados Unidos. Se você acredita que isso será financiado através da taxação “sobre os ricos”, é hora de enfrentar a realidade matemática.
A situação nos Estados Unidos não é uma exceção. Em países como a Espanha, os passivos de pensões públicas não financiadas excedem 500% do PIB. Na União Europeia, segundo o Eurostat, a média está próxima de 200% do PIB. E isso é apenas passivo previdenciário não financiado. O Eurostat não analisa os passivos não financiados do programa de direitos.
Isso significa que os governos continuarão a usar a narrativa enganosa de “taxar os ricos”, enquanto na verdade aumentam a carga tributária sobre a classe média e impor o imposto mais regressivo de todos, a inflação.
Não é coincidência que os bancos centrais queiram implementar moedas digitais o mais rápido possível. As moedas digitais emitidas pelo Banco Central são uma vigilância disfarçada de dinheiro e um meio de eliminar as limitações das das políticas inflacionárias dos atuais programas de flexibilização quantitativa. Os banqueiros centrais estão cada vez mais frustrados porque os mecanismos de transmissão da política monetária não estão totalmente sob seu controle. Ao eliminar a intermediação bancária e, consequentemente, a influência da demanda de crédito na inflação, os bancos centrais e os governos podem buscar eliminar a concorrência de formas alternativas de dinheiro por meio de métodos coercivos e degradar a moeda conforme desejarem para manter e ampliar o papel do estado na economia.
Ouro vs. títulos mostra isso perfeitamente. O ouro subiu 89% nos últimos cinco anos, em comparação com 85% para o S&P 500 e decepcionantes 0,7% para o índice de títulos agregados dos EUA (em 17 de maio de 2024, segundo a Bloomberg).
Os ativos financeiros estão refletindo a evidência de destruição da moeda. As ações e o ouro estão em alta, enquanto os títulos permanecem estáveis, sem grandes variações. É a imagem de governos usando a moeda fiduciária para disfarçar a solvência de crédito do emissor.
Considerando tudo isso, o ouro não é caro. É extremamente barato. Os bancos centrais e os formuladores de políticas sabem que haverá apenas uma maneira de enquadrar as contas públicas com trilhões de dólares de passivos não financiados. Reembolsar essas obrigações com uma moeda sem valor. Guardar dinheiro é arriscado; investir em títulos do governo é imprudente; contudo, ignorar o ouro é recusar-se a reconhecer a verdadeira natureza da moeda.
Artigo escrito por Daniel Lacalle, publicado em Mises.org e traduzido por Isaías Lobão