Agora com 93 anos, Thomas Sowell continua a produzir um excelente trabalho — trabalho que ajudaria os Estados Unidos a escapar das garras do estatismo se as pessoas lhe dessem ouvidos. Sowell acaba de publicar um novo livro, Social Justice Fallacies (As Falácias da Justiça Social). A obra está repleta de uma sabedoria prática que aborda a grave ameaça à liberdade e à prosperidade representada pela exigência da esquerda de que transformemos o país para se adequar ao seu conceito de “justiça social”.
A obsessão pela igualdade
A obsessão central da esquerda é com a igualdade. Suas críticas a uma sociedade verdadeiramente livre e liberal geralmente surgem do fato de que a liberdade não leva à igualdade, exigindo, portanto, que o governo use a coerção para alcançá-la. No passado, essas pessoas, que erroneamente se autodenominam “progressistas”, insistiam que o poder do governo fosse utilizado para garantir a igualdade de oportunidades para todos os indivíduos. Mas depois de décadas de esforços governamentais voltados para isso, os progressistas passaram a exigir igualdade de resultados para os grupos favorecidos. A essa ideia, Sowell responde:
No mundo real, raramente há algo que se assemelhe a resultados iguais, como se poderia esperar se todos os fatores que tas das disparidades que vemos na sociedade. Ele argumenta calmamente que o racismo raramente é a razão dos problemas que são atribuídos a ele. Por exemplo, hoje ouvimos dizer que os estudantes negros nas escolas públicas estão indo mal por causa do “racismo institucional”.
Mas se isso fosse verdade, como explicamos o fato de que os estudantes negros na década de 1970 conseguiram entrar e se formar na escola pública de elite de Nova York? O “racismo” se tornou muito mais pronunciado desde então — ou há outra explicação para o declínio do desempenho acadêmico dos estudantes negros?
Sowell considera outros fatores responsáveis, especialmenkte as escolas sindicalizadas que têm abandonado consistentemente o rigor acadêmico em favor de modismos do “sentir-se bem” e a doutrinação ideológica. Naturalmente, essa explicação não é aquela que os “progressistas” estão dispostos a examinar porque o controle sobre a educação pública é seu orgulho e regozijo.
Sowell aponta que a cultura explica o atraso muito melhor do que a raça. Os americanos brancos que vivem nos Apalaches estão tão deprimidos educacional e economicamente quanto muitos negros americanos, mas o racismo e o “legado da escravidão” obviamente não são o motivo.
A constante insistência no racismo como obstáculo ao sucesso para os negros tem consequências adversas, minando seu senso de agência pessoal. Sowell relata um encontro entre o então presidente Barack Obama e um jovem negro que lhe disse que queria se tornar um piloto da Força Aérea, mas desistiu dessa ideia porque, segundo ele, “eles nunca deixariam um homem negro pilotar um avião”. A réplica de Sowell é penetrante: “Quem doutrinou este jovem lhe fez mais mal do que um racista poderia ter feito”. Só isso. Os progressistas aparentemente prefeririam ter negros mal educados e descontentes que olham para o governo em busca de coisas do que aqueles capazes que dependem de si mesmos.
A mentalidade progressista
Talvez a crítica mais contundente de Sowell seja dirigida aos intelectuais que se consideram superiores às pessoas comuns e, consequentemente, se veem como aptos a tomar decisões por elas. Ele cita muitas dessas pessoas arrogantes, como o presidente Woodrow Wilson, o dramaturgo George Bernard Shaw e o reitor da Faculdade de Direito de Harvard, Roscoe Pound. Esses sabichões estavam firmemente convencidos de sua capacidade de remodelar e melhorar a sociedade, sempre através da intervenção coercitiva do Estado.
Wilson não gostava dos limites da Constituição à autoridade federal e argumentava que a liberdade que buscava proteger era ilusória; a verdadeira liberdade, segundo ele, vinha do recebimento de benefícios do governo para que as pessoas pudessem atingir seus objetivos na vida. Para Wilson, “liberdade” não significava a ausência de coerção; ao invés disso, dependia do governo coagir alguns a darem aos outros. Da mesma forma, Pound estava insatisfeito com nossa lei comum e tradições constitucionais, advogando que os juízes anulassem precedentes e, ao invés disso, decidissem casos levando em consideração a “justiça social”.
Sowell abomina esse traço “progressivo”. A humanidade sempre teve muitos intrometidos arrogantes que estão ansiosos para reorganizar a sociedade — para tomar decisões por outras pessoas. Eles só são perigosos quando podem aproveitar o poder do governo para implementar seus esquemas utópicos. Um ponto que ressalta é que os “reformadores” não são as pessoas que pagarão pelo custo de seus erros. Se os leitores não aprenderem mais nada com este livro, devem entender que, quando aqueles que tomam as decisões não enfrentarem nenhum custo por estarem errados, muitas decisões ruins podem ser tomadas. Cada vez mais, é exatamente isso que ocorre à medida que o poder do governo se expande.
Por exemplo, os intelectuais pressionam por leis de salário mínimo, alegando que tais leis ajudam a tirar os trabalhadores pobres da pobreza, garantindo um “salário digno”. Mas estão errados quanto a isso. As leis de salário mínimo tornam muitos trabalhadores pouco qualificados desempregados porque os empregadores não podem pagar o salário mínimo obrigatório por hora. Mas os cruzados intelectuais não arcam com o custo de seu desemprego: os trabalhadores infelizes sim.
Outra boa ilustração que Sowell dá são as leis contra empréstimos do dia de pagamento. Os credores do dia de pagamento fazem empréstimos de curto prazo para pessoas que estão desesperadas por dinheiro imediato. Os mutuários são pessoas que não têm outras fontes prontas de dinheiro ou crédito e pagam o que é uma alta taxa de juros para empréstimos de curto prazo. Os intrometidos progressistas conseguiram proibir os empréstimos do dia de pagamento em alguns estados, e dizem que estão protegendo os pobres contra a “exploração”. Mas, como Sowell aponta, isso priva os pobres de uma opção a que poderiam recorrer quando precisam muito de dinheiro sem lhes fornecer nada melhor. Você não pode melhorar as pessoas tirando opções delas. Este é outro caso em que os intelectuais não arcam com o preço de estarem errados.
Outro dos alvos de Sowell são os fanáticos da justiça social que buscam suprimir a tendência natural de escolher pessoas com base no mérito, porque isso é supostamente injusto. Ele escreve: “Na literatura de justiça social, as vantagens imerecidas tendem a ser tratadas como deduções do bem-estar do resto da população”. Assim, ouvimos repetidas vezes sobre como “os ricos” estão “tomando” uma porcentagem muito alta da “renda nacional”. Os reformadores querem que as pessoas pensem que estão sendo vitimadas por plutocratas gananciosos, gerando assim apoio para mais ativismo governamental. O que eles não querem que as pessoas entendam é que, quando pessoas altamente produtivas ganham (não “recebem”) mais, elas estão aumentando a prosperidade, não privando os outros de nada.
Para estar preparado para engajar-se com nossos Guerreiros da Justiça Social quando exigirem a expansão do governo, é crucial ler e absorver a sabedoria de Thomas Sowell. Você será capaz de detê-los.
Artigo escrito por George C. Leef, publicado originalmente em The Future of Freedom Foundation e traduzido por Isaías Lobão
George C. Leef é diretor de pesquisa do Martin Center for Academic Renewal em Raleigh, Carolina do Norte. Anteriormente, foi presidente da Patrick Henry Associates, East Lansing, Michigan, professor adjunto de direito e economia da Northwood University e acadêmico do Mackinac Center for Public Policy.