A queda do dólar e a “valorização” do real

A queda do dólar e a "valorização" do real

O dólar voltou a recuar nesta semana, representando uma tendência de queda de 14% em março (a maior depreciação em 13 anos). Considerando os primeiros três meses de 2022, o dólar saiu de R$ 5,60, para R$ 4,70, até essa sexta-feira (08/04). 

A queda do dólar x “valorização” do real: principais causas

Enquanto o dólar caiu, o real valorizou 17% no ano em relação à moeda americana, (na verdade teve sua desvalorização estabilizada) ‘nos tornando a moeda com a melhor desempenho de 2022’. Mas, o que está provocando essa perda de valor do dólar? Ou melhor, a valorização do real? Quais são os motivos por trás disso? Como sempre, em economia, temos que explorar um conjunto de fatores para explicar um fenômeno. Por isso, abordo aqui algumas explicações:

A guerra na Ucrânia desencadeou uma escassez de oferta de produtos, por exemplo, bens agrícolas e minerais, como trigo, milho,  petróleo e alumínio; o que, consequentemente, impacta os preços internacionais. Isso chamou atenção de investidores internacionais para opções à Rússia e à Ucrânia — grandes exportadoras —, em especial na América latina, por ser vista como menos suscetível à crise geopolítica. 

Segundo a agência de classificação de risco Fitch,“ as moedas da América Latina tiveram o melhor desempenho de qualquer região de mercados emergentes em meio à recente aversão ao risco global”, conquanto a guerra signifique um quadro inflacionário e econômico para os países da região. 

Além da alta das commodities internacionais e o refúgio à crise geopolítica no leste europeu, a elevação da taxa de juros básica (Selic), também acaba tendo um papel fundamental na valorização do real. 

Isso acontece pelo fenômeno que denominamos “diferencial de juros”. Ele se atenta à diferença entre os juros pagos aqui, e os juros pagos no restante do mundo, principalmente nos Estados Unidos — “país” do dólar, e dos ativos considerados de menor risco. 

Quanto maiores as taxas de juros observadas por aqui, maior a atratividade de nossos ativos financeiros, como títulos públicos, privados e ações. Nesse sentido, com a nossa taxa de juros no nível de 11,75% ao ano, enquanto o restante do mundo trilha na alta de taxa de juros, acabamos nos tornamos uma boa alternativa em buscar ganhos.

Causas internas para “valorização” do real

Por fim, é necessário destacar dois últimos aspectos que tem contribuído para o aumento de entrada de capital estrangeiro em terras brasileiras frente à queda do dólar.

Primeiramente, por conta dos ativos baratos. Dado o alto risco político e fiscal que atravessamos no ano passado, marcado por gastos exacerbados do governo, investidores com medo de serem pagos com moeda desvalorizada, além da inflação acentuada, os ativos brasileiros perderam muito valor de mercado. As ações da bolsa despencaram, nosso real derrapou. O ‘Brasil estava em liquidação’!

Segundo, o IBOVESPA, fechou em baixa, tendo em vista o risco dos investidores no mercado internacionais, com a projeção da elevação de juros nos EUA, sem contar o destaque no cenário de forte inflação no Brasil. 

A inflação registrou 1,62%, maior oscilação para o mês de março desde 1994 e acima da perspectiva do mercado, o que deixou o mercado prevendo que o Banco Central irá prosseguir com sua política de aperto monetário e a Selic poderia superar os 13% ao ano.

Assim, investidores encontram um cenário de preços em baixa em relação à Bolsa americana e passa a compensar o risco de se investir aqui, apesar das mesmas incertezas internas avaliadas em 2021. 

Devida à alta de juros tomada pelo Banco Central americano (FED), os investidores procuram empresas que se deterioram menos com o aumento do crédito e dos juros no longo prazo. Sem mencionar que com a recuperação econômica, empresas encadeadas ao ciclo econômico passam a se tornar atrativas. Conclusão? Mercados como bens agrícolas e bancos se favorecem. E quem tem todos esses setores em abundância na Bolsa? O Brasil. 

Expectativas futuras

Porém, como deixado claro, toda essa valorização do real se deve mais a ele ser visto como uma fuga de capitais devido à desvalorização do dólar (que implicaria em menores rendimentos) e a escassez de comoddites na Europa oriental devido à guerra na Ucrânia, o que faz com que o investimento em comoddites no Brasil seja mais viável.

Fora isso, ainda existe a incerteza dos investidores frente estrangeiros frente à manutenção das políticas econômicas no Brasil, principalmente a política fiscal.

Sendo ano de eleição, e sem saber exatamente quais políticos poderão ganhar e quais medidas tomarão, não há como tomar essa entrada de investimentos estrangeiros como garantia do crescimento econômico, fora o fato de que a economia brasileira não teve um crescimento significativo, ainda se recuperando lentamente da paralização pós-pandemia.

Lucas Guimarães

Internacionalista e cursando MBA em Gestão de Negócios. Atualmente, trabalha na consultoria ULTRAMARES NEGÓCIOS INTERNACIONAIS e integra o grupo internacional Students for Liberty Brazil.

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