Bolsonaro e Berlusconi não são fruto da desmoralização da política. Foram uma tentativa frustrada de salvá-la

Bolsonaro e Berlusconi

Em um episódio do UOL Notícias, o colunista Tales Faria atribuiu a ascensão de figuras como Berlusconi, Trump e Bolsonaro – e tudo o que ele chama de “ultradireita” e “extrema-direita” – à desmoralização da política e a venda destas mesmas figuras como alternativa à velha política. Seu pensamento foi seguido pela cientista política Deysi Cioccari, que fez um paralelo entre a ascensão de Berlusconi e Bolsonaro.

Mas ao contrário do que os dois pensam, Bolsonaro, Berlusconi e Trump não foram uma mera reação à desmoralização da política. Foram acima de tudo uma tentativa de salvá-la. E para quem acompanha o Gazeta Libertária, entender isso mostra que tal fenômeno está longe de ser algo positivo.

É uma sinal de que grande público está percebendo os sintomas, mas não está se atentando às causas. Acham que basta colocar as “pessoas certas” no poder, e ignoram que o mal é o próprio sistema em si. E no caso da democracia isso é mais verdade ainda (ver a análise de Hans-Hermann Hoppe sobre democracia).

Tentando salvar a política

Tales está certo em apontar a percepção de grande parte do público das figuras de Trump, Berlusconi e Bolsonaro como figuras distintas do sistema político tradicional como fator decisivo para a eleição destes. Mas erra ao atribuir tal entusiasmo do público à mera desmoralização política e até mesmo a sentimentos antipolíticos. Antes fosse isso. O público não estava desiludido com a política em si. Tanto que o discurso anticorrupção prometia justamente purificar a política de todos os escândalos às quais os políticos anteriores estavam associados.

O público não estava desiludido com a política, mas com as velhas figuras e o velho jeito de fazer política. E em figuras até então desconhecidas e sem histórico de escândalos, o público viu a esperança de salvar a democracia.

Tales e Cioccari também possuem ilusões quanto à democracia

Se Tales e Cioccari não conseguem enxergar isso dessa forma, se deve à esperança e defesa da democracia que os dois partilham. Eles apenas discordam dos eleitores de Trump, Berlusconi e Bolsonaro de como fazer política.

Mas a mesma crença de que a democracia é legítima e é essencial para o bem estar social é partilhada por todos eles. Tales e Cioccari apenas torcem para que políticos que partilham dos mesmos valores e preocupações que eles (que eles acreditam que deveriam ser a preocupação de todos) sejam eleitos.

Eles apenas se julgam mais “esclarecidos” e “cultos” que os bolsonaristas e trumpistas, que assim como eles também acreditam que podem salvar a democracia. Ao afirmarem que a antipolitica alimenta pessoas como Bolsonaro e Trump e que o todo o foco dos defensores da democracia deve ser em combater pessoas como eles, Tales e Cioccari vendem a falsa ideia de que qualquer aversão à política é uma ameaça à sociedade.

Ou até mesmo qualquer simples oposição à agenda política dominante. Criando uma falsa dicotomia de que ou você é um defensor da democracia e de toda a agenda política dominante (ambientalismo, desarmamento, aumento de impostos, ações afirmativas) ou você se inclinará para as tendências políticas de figuras como Berlusconi e Bolsonaro.

É essa ideia que os autoproclamados baluartes da democracia tentam transmitir desde que formaram (propositalmente ou não) uma colisão anti-“ultradireita”. E como parte desta colisão, é claro, está toda a agenda ambientalista, de estado bem estar social e politicamente correta, que todas as pessoas “cultas” e “bem informadas” deveriam aderir.

E do outro lado estão o que eles chamam de “ultradireita”, que longe de se opor à democracia, ainda se ilude com sua legitimidade e importância, se preocupando com o uso “adequado” da verba pública e até mesmo a confiabilidade das urnas eletrônicas. Pessoas que ao invés de rejeitarem todo o sistema político apenas acreditam que ele está ruim por ter as pessoas “erradas” no comando,e não porque é um problema inerente à própria democracia.

Leia também: As manifestações contrárias à eleição de Lula são antidemocráticas? Antes fossem

Conclusão

Ao contrário do que Tales e Cioccari pensam, não foi a desmoralização política que deu força à tal “ultradireita”, mas a esperança de muitos eleitores em salvá-la. E o erro desse mesmo público foi achar que isso seria possível ou faria algum sentido.

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