Na música “País Tropical”, Jorge Ben Jor afirma que “em fevereiro tem carnaval”. Se ele estiver certo (e acho que está), o povo brasileiro possui um importante evento no segundo mês do ano.
Seja curtindo a folia, trabalhando ou descansando, sofremos a influência dessa festa popular.
Em linhas gerais, o carnaval como nós o conhecemos aqui no Brasil é sinônimo de extravagância, despudor e êxtase.
O carnaval é um momento de embriaguez física e mental. Um instante em que as convenções sociais são atenuadas.
A liberdade que se tem durante os dias de folia se refere à liberdade comportamental. Deve-se respeitar a propriedade alheia, obviamente.
A extravagância carnavalesca pode ser remetida, em alguma medida, a Dionísio/Baco, que foi originalmente deus da Trácia.
Havia forte apelo sensorial – regado a embriaguez – nos cultos de fertilidade promovidos a Dionísio/Baco. Em tais cultos, conhecidos também como rituais báquicos, ocorria o entusiasmo – a entrada do deus no adorador.
Durante esse período de festas, muitas mulheres respeitadas passavam noites inteiras nas colinas, dançando e ingerindo álcool, numa espécie de balada sem DJ.
Orfeu, um deus mais comportado, sucede Dionísio, e tenta colocar ordem na casa. Os órficos – seguidores daquele – buscam se purificar. Tentam diminuir a liberdade individual tornando-a refém do comportamento puro.
A liberdade sempre nos assusta. Se alguém faz algo diferente, tendemos a rejeitá-lo no primeiro momento. Mesmo que esse algo não tenha ocasionado nenhum mal a ninguém.
Buscamos formas de formalizar um pecado ou um crime. Criamos normas apenas para satisfazer nossos caprichos.
O que ocorre no carnaval – bebedeira, som alto, gritos, tumulto e comportamento sexualizante – pode nos assustar, mas a liberdade às vezes é assim: nos chateia.
A liberdade não tem a função de nos tornar iguais.
Há uma frase atribuída ao filósofo e economista austríaco, Murray Rothbard, que mostra a importância do respeito a liberdade individual:
“Se cada indivíduo é único, de que forma ele pode ser ‘igual’ aos outros sem destruir a maior parte do que é humano nele?”
O carnaval é a festa da liberdade pois durante alguns dias as pessoas fazem o que não fariam na vida cotidiana, regida por sistemas arbitrários, que nem sempre visam apenas a ordem social.
No carnaval é um dos momentos em que vemos a liberdade em sua maior potência. Por alguns instantes esquecemos até que o estado existe.
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