Entrevista com Ronald Luís do grupo “Falha de Caráter”

Entrevista com Ronald Luís do grupo "Falha de Caráter"

Com a aproximação das eleições, a polarização política se agrava, com pessoas brigando cada vez mais para defender seu candidato favorito. Um grupo de humoristas, no entanto, optaram por outro caminho, e resolveram usar o humor para expor a corrupção presente na política.

O grupo chegou até mesmo, a lançar candidatura de um dos membros como uma sátira aos políticos. O “candidato” no caso, é o Ronald, que iremos entrevistar hoje e conhecer melhor seu trabalho.

Gazeta Libertária: Olá Ronald, tudo bem? Nos conte mais sobre você e o projeto “Falha de Caráter e porque exatamente esse nome.

Ronald: John (ou Gordinho de Realengo) é meu amigo a mais de 12 anos. E ele era muito fanfarrão…Do tipo que dava bolo com frequência quando marcava rolê. Num desses bolos eu estava com tanto ódio dele que falei que ele era “uma Falha de Caráter”. Foi tão engraçado a ponto do nome ficar.

GL: Como o projeto surgiu, quem teve a ideia?

Ronald: Eu sempre quis fazer porque assistia Hermes e Renato, Casseta e Planeta e Pânico na TV. A TV era algo que queria trabalhar, porém, como jovem de periferia, sem condição, sem informação ou incentivo… Fora a questão cultural. Ficou difícil acreditar que trabalharia com isso.

Só pude fazer quando a tecnologia ficou acessível. Quando John começou a fazer alguns vídeos na Internet, aproveitamos pra fazer vídeos sem compromisso e fomos evoluindo naturalmente.

GL: Como vocês se conheceram?

Ronald: O Jonh eu conheço a mais de 10 anos, já tivemos banda juntos até. O Tauã assistiu um vídeo nosso e passou a participar. E com nossas participações no Jucelino Kubicast… Do Diogo Defante, tivemos acesso a mais integrantes e participações como o Apolimito e Chefe Gordo.

GL: Nesse tempo de projeto, qual foi a maior conquista de vocês?

Ronald: Quando começamos a criar esquetes sobre política, muitos comediantes passaram a nos evitar pra evitar cancelamentos ou posições. Eu também precisei me mudar por conta de lançarmos uma paródia chamada “Milicia” inspirada no Jiraya… Sacaneando o Bolsonaro e o Estado Brasileiro.

Isso aconteceu porque a área onde eu morava era de Milicia e embora não tivesse relação com milicianos… O analfabetismo funcional de muitos criou associações desnecessárias. Desculpe a sinceridade.

E nesse momento nos reafirmamos. Lançamos o vídeo e quando houve manifestação contra o Bolsonaro, tocamos essa música num trio eletrico…Não era mais uma questão política mas, de liberdade de expressão e de libertar quem mal se percebe como escravo mental do sistema.

vídeo do Falha de se Caráter “Milícia: A Incrível Família Bolsonaro”

GL: Como o público vem reagindo ao projeto?

Ronald: A gente conseguiu a façanha de atrair muitas pessoas diferentes pra assistir. Temos liberais, libertários e Marxistas mais tradicionais até… E temos resistência de conservadores e progressistas por conta da linguagem pesada e politicamente incorreta.

Nem todas as esquetes tem viés político, até mesmo pra não ser algo cansativo de ver. Talvez o maior exemplo disso seja uma esquete que se chama: “O maior prolapso da cidade”. Onde um apresentador de TV premia um rapaz que tem esse problema e a graça está justamente na pessoa pesquisar sobre.A ideia futuramente é o Falha diversificar temas e linguagens pra atrair cada vez mais pessoas.

GL: O que os familiares e amigos de vocês acham da ideia?

Ronald: Existe uma mística entre o medo e o encanto nesse sentido. Família e amigos adoram ver os vídeos inofensivos mas ao verem os quadros mais políticos ficam com medo sobre o que pode acontecer.

Pessoas pobres são vítimas de qualquer um: do assaltante, traficante,miliciano,policial … etc. E aqui em específico do Rio de Janeiro cada bairro sempre é de alguém… menos do Estado Brasileiro.

GL: Por quê vocês optaram justamente pelo humor como meio de divulgar suas idéias?

Ronald: Porque é mais fácil ensinar de forma dinâmica e instigando a pessoa entender que tem algo estranho na forma que vivemos. A esquerda resiste através dos tempos porque investiu em Cultura e o mal de muitas pessoas liberais,libertárias e conservadoras é acharem que meramente ganhar eleição é ter poder.

Nessa eleição de 2022 a esquerda ainda é muito forte porque ela influencia a cultura. Poder não requer coerção. Você pode envolver a sociedade com ideias que levam as pessoas a adotarem costumes e valores naturalmente.

As sociedades antigas,por exemplo, promoviam arte de forma privada e quem fortalecia era visto como alguém de prestígio na sociedade podendo influenciar a política, como uma consequência natural mas não é preciso ir longe: A Revolta de Atlas é um livro bastante consumido nos EUA e contém valores que transitam entre liberais e libertários.

O poder econômico é um fator mas, sem cultura, a gente não vai saber a origem da nossa liberdade ou da nossa riqueza e portanto… Destruindo ambas.É bacana ter bitcoin mas boa parte das pessoas estão afundadas em dívidas de poucos bancos que cobram juros abusivos…contas pra pagar e as vezes sem comer.Explicar pra essas pessoas o valor da liberdade econômica é mais importante que explicar aos nichos.

GL: Vocês acreditam que a iniciativa de vocês poderá ajudar com a causa da liberdade de alguma forma?

Ronald: Sim.A questão cultural é um fator importante. Provavelmente temos uma geração com um humor menos cáustico e também mais efêmero e vazio de conteúdo.Isso não é um problema em si porque A Praça é Nossa é uma comédia família e isso também tem seu valor!

Problema não é ser Família… é ser vazio. E hoje em dia não faz bem economicamente fazer piada política. Você perde view. Perde espaço e passa a ser o patinho feio dentro do cenário. Pessoas te evitam… não querem trabalhar contigo e claro que uma vez dando certo vão dizer que sempre acreditaram em você… Normal. Porque aqui no Brasil se dá bem quem menos for alguma coisa e ficar escorado.

Queremos contribuir com a descentralização e criar espaço pra todos. Se você preferir algo non sense pode procurar o Defante… Se preferir algo mais polido dá pra ir atrás do Porta dos Fundos… quer algo trash? Tem o Hermes e renato… Quer uma mescla? Tem o Falha.

A liberdade cultural é muito importante porque as boas ideias só podem prevalecer com liberdade. Imagine uma sociedade sem Estado amanhã: voltaria a ter Estado de pois de amanhã! Porque as pessoas não estão acostumados com essa liberdade…Ainda mais no Brasil que usar coleira é moda.

GL: Como vocês se identificam ideologicamente?

Ronald: O grupo não tem uma ideologia definida mas o princípio da liberdade de expressão é pra todos. Todos no grupo tem liberdade de escrever e todos tem a obrigação de aceitar mas, de todos eu sou o mais libertário do grupo e por isso passamos a ter muito carinho da galera liberal e libertária.

Olavo de Carvalho disse uma coisa que eu particularmente faço e funciona muito bem na parte de roteiro que é usar das ideologias enquanto conceitos como ferramentas e não se deixar ser possuído por elas.

Exemplo disso foi um vídeo nosso chamado “Woke Tour De Blonde”, que é sobre a situação do Renan do MBL naquela polêmica mas usei isso como um mote pra criticar o progressismo e a cultura Woke.E acaba sendo uma avacalhação geral do cenário estilo South Park. Ou perguntar ao Sérgio moro se ele teve problemas na Vara dele pro Lula ter sido solto.

E brasileiro não tá acostumado com essa liberdade… Se acostuma com abuso policial mas não se acostuma a sacanear o político.Os mais leigos provavelmente vão achar que é apenas sobre polêmica mas quem prestar atenção tem mais a absorver. E é sempre opção do público se divertir ou pensar ou os dois. Porque não?

vídeo “Woke Tour Blond”

GL: E você Ronald, se candidatou para as eleições deste ano. Poderia nos falar mais sobre isso?

Ronald: É uma campanha protesto. Eu tenho um personagem chamado O Político… Com um estilo Borat. E fizemos muitas esquetes com ele.E pensamos em pegar esse personagem pra competir como protesto a falta de opção nas eleições e questionando o quanto uma pessoa comum como qualquer outra tem acesso ao poder.

Isso já aconteceu com o Macaco Tião do casseta e planeta. E nós criamos uma campanha baseada em esquetes sem dinheiro público. O objetivo não é vencer a princípio mas fazer barulho e aparecer o máximo possível pra levantar a causa de que precisamos de fato… De mais liberdade econômica e social e abandonar esses ditos líderes.

GL: O quê vocês pensam do estado e dos políticos em geral?

Ronald: O Estado moderno como conhecemos está em crise e isso é mais evidente no ocidente, principalmente no Brasil. O Brasil, em específico, tem problemas muito sérios sobre o afastamento de quem tem o poder do povo comum.

Ninguém lúcido nesse país acredita que algum político possa se importar com ele mas, por um cinismo e falta de opção, muitos absorvem a ideia do Coringa de rir da tragédia… Desde que você a pratique. Você pode até ganhar com isso porque falando a “coisa certa” você ganha espaço, dinheiro com o hype do momento.

E ideologicamente… Todos nesse país tem preciosismo pelo Estado. Sejam conservadores que usam o Estado como porrete moral em desafetos… Aos progressistas que não gostam de opressão de 64 mas curtem Getúlio Vargas.

E isso não muda porque o povo prefere dar poder, incentivar culturalmente,politicamente ou na educação dos valores… força a alguém que o humilha todos os dias com ar de benevolência do que alguém próximo que divide as mesmas dores.Porque um povo sofrido e marcado como escravos se vêem como inferiores e incapazes… E portanto, incapazes em avançar. E diminuem e puxam tapetes daqueles que querem de fato se libertar… para terem, talvez, um benefício de um poderoso.

Isso parece um ódio próprio pelas suas próprias condições sem, no entanto, a vontade de mudar porque… Dá trabalho e ninguém vivo vai colher os benefícios da liberdade. De forma que é melhor deixar os filhos e netos segurarem essa pica e os mesmos farão a mesma coisa… E morrer em algum canto esquecido agradecendo as migalhas do Estado. Uma república cheia de árvores.

GL: Quais os planos de vocês daqui pra frente?

Em breve faremos uma temporada completa como um programa de TV. Com uma pegada parecida porém acompanhada da nossa experiência nesses quase dois anos.De fato,antes lançávamos as esquetes semanais, mas agora queremos de fato fazer um plano com um ano de esquetes roteirizados e irmos pra uma guinada profissional.

GL: Como o público pode ajudar com o projeto de vocês?

Ronald: Precisamos de inscritos e pessoas dispostas a doar para nosso canal em nosso pix: [email protected]. Isso ajuda em nossas produções! Desde roupas de brechó, aos cursos que estamos fazendo pra melhorar as edições e atuações… viagens pra matérias diferentes… etc.

GL: Ronald, muito obrigado por participar dessa entrevista e muito sucesso para o projeto de vocês. Se quiser deixar as redes sociais e contatos do projeto para o público conhecer.

Ronald: Eu que agradeço! Por favor nos sigam… temos materiais variados além dos assuntos de política mas sempre tem algo que vocês vão gostar!

No Youtube: Falha de Caráter

No Instagram: @falhadecarater / @ronald.falha

https://www.instagram.com/reel/CgccfZ-gdgX/?igshid=YzA2ZDJiZGQ=
No Twitter: @caraterfalha

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Greg News
Cultura

Greg News é cancelado na HBO para dar lugar as cotas para programas nacionais

O programa Greg News, apresentado pelo humorista assumidamente petista, Gregório Duvivier, e produzido pela presa Porta dos Fundos fundada por ele, foi cancelado na HBO após 7 temporadas e 160 episódios. O motivo? Como a empresa porta dos fundos foi vendida para a empresa americana Viacom, atualmente Paramount Global, o programa já não é mais […]

Leia Mais
Carcereiro de Lula
Cultura

Livro sobre relação de Lula com carcereiro da PF em Curitiba pode virar filme

Segundo o colunista do Metrópoles, Guilherme Amado, o livro sobre a relação entre Lula e seu carcereiro durante o tempo em que esteve preso em Cuitiba, também pode virar filme. Entre os interessados em produzir o filme, estão Juliano Dornelles, que foi um dos diretores do filme Bacurau, e também Felipe Braga, que produziu o […]

Leia Mais
Natal e capitalismo
Cultura

Como o capitalismo transformou o Natal em um feriado para crianças

Durante a década de 1980, milhões de crianças americanas se debruçaram sobre o catálogo da Toys ‘R’ Us, sonhando acordadas com os brinquedos que esperavam receber em algumas semanas na manhã de Natal. Afinal, em meados do século XX, o Natal – para inúmeras famílias de classe média com filhos – havia se tornado mais […]

Leia Mais