FIES como um cavalo de tróia contra o estudante de baixa renda

FIES como um cavalo de tróia contra o estudante de baixa renda

Assim como no mito da tomada de Tróia pelos gregos, onde entregaram uma armadilha – um gigante cavalo de madeira alojando centenas de guerreiros gregos – na forma de presente aos troianos para atacá-los a noite, o FIES com sua pretensão de ser um programa que busca beneficiar principalmente os estudantes de baixa renda se mostrou um verdadeiro fiasco e um grande prejuízo para os mesmos.

Mais de 1 milhão de estudantes em dívida com o FIES

Em uma recente reportagem no G1 é comentado que a dívida estudantil daqueles que financiaram seus estudos pelo FIES já chegou ao valor de R$ 6,6 bilhões, sendo essa dívida pertencente a mais de 1 milhão de alunos que participaram do programa, o que corresponde a cerca de 52% de todos os alunos “beneficiados” pelo programa! Esse valor é 164% mais alto que o de abril de 2019, quando o Ministério da Educação lançou o primeiro programa de renegociação do Fies. Na época, os 567 mil ex-alunos que estavam inadimplentes somavam juntos um saldo devedor de R$ 2,5 bilhões.

Crise causada pelo lockdown agrava a situação

A situação é agravada principalmente pela atual estagnação da economia devido a paralisação imposta pelo governo no combate ao covid-19 que levou ao prejuízo de várias empresas e o fechamento de muitas outras, agravando o quadro de desemprego, inclusive entre aqueles formados em ensino superior, principalmente os com menor qualificação ou com formação com pouca demanda no mercado.

Isso tudo leva a cada vez mais estudantes que se formaram pelo FIES a ficarem endividados e impossibilitados de arcar com a dívida. O programa no fim das contas serviu apenas para iludir milhões de estudantes de baixa renda com a promessa de emprego garantido no mercado, e mesmo diante de tudo isso, alguns especialistas com viés assistencialista ainda tentam reforçar a ideia, como Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), que em entrevista ao G1, diz “Uma pessoa com o ensino superior e melhor qualificada produz mais e contribui mais para o desenvolvimento de uma nação“.

O problema é que Alavarse assim como muitos especialistas bem intencionados, ignora o fato que de que por mais que seja verdade que é importante haver um grande número de profissonais qualificados para gerar mais produtividade para as empresas e consequentemente para toda uma sociedade que possa se beneficiar disso, há no entanto, o problema de haver um excedente absurdo de pessoas formadas com ensino superior sem haver uma demanda suficiente para contratar essa quantidade de pessoas.

Segundo reportagem do G1 com base em dados levantados pela pesquisadora Ana Tereza Pires, da consultoria IDados, mais de 40% dos formados com ensino superior não conseguem emprego na sua área de formação.

A grande falha do FIES

Isso se deve além do fato de haver mais pessoas formadas com ensino superior do que realmente o mercado precisa, como é mostrado nesse mesmo artigo do G1, há também o fato de que a maioria desses mesmos estudantes se formaram em áreas com pouca demanda no mercado como mostra essa outra reportagem do G1, com Pedagogia liderando em primeiro lugar, seguido de Administração, Direito e Contabilidade, que sozinhos correspondem a 40% dos formados no Brasil, principalmente em universidades particulares, segundo o Censo da Educação Superior de 2019, sendo o FIES o responsável pela formação de quase um terço desses alunos, como mostrado aqui nesse artigo da ABMES.

Em contrapartida, apesar do crescente desemprego, principalmente por causa da paralização devido a pandemia, ainda há uma falta de mão de obra qualificada, principalmente de nível médio e técnico, como é mostrado nesse artigo da Exame, onde mostra que as empresas estão tendo mais de 300 mil vagas sem serem preenchidas.

Isso se deve a vários fatores, entre eles, a péssima qualidade da educação pública brasileira, principalmente em disciplinas que são essenciais para a maioria dos cursos técnicos, como as ciências exatas, que são as matérias mais presentes nos cursos técnicos que mais empregam no mercado.

Há também o fato do MEC regular o currículo do ensino básico estabelecendo uma grade curricular única que não permite que os alunos ou pais dos alunos posssam escolher quais matérias ele poderá aprender, permitindo que ele possa focar em disciplinas mais importantes para a carreira que ele quer seguir. A ausência disso causada pelo MEC além da péssima qualidade do ensino, é um dos fatores que impede um melhor aproveitamento da educação pelos alunos.

Além desse tipo de curso ser mais acessível (e seria muito mais, caso não houve nem inflação nem impostos, inclusive sobre instituições de ensino reduzindo o poder de compra dos estudantes), também seria uma ótima opção para aqueles que querem mais chances no mercado de trabalho e conseguir uma renda maior. E quem sabe futuramente ter uma renda suficiente para dar entrada em uma faculdade, caso prefira.

Porém o estado, ao subsidiar o FIES, estímulou a milhões de alunos de baixa renda a se endividarem, e muitos deles nem sequer conseguem emprego na área de formação, muitos até nem em cargos de nível médio, com uma boa parcela desempregada.

Conclusão

O FIES não apenas é mais um programa estatal subsidiado pelo dinheiro roubado de centenas de milhões de contribuintes, mas também um verdadeiro prejuízo econômico para aqueles que ingenuinamente acreditaram em suas falsas promessas de estabilidade após a graduação.

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