Nesta terça-feira (7), a empresa Meta, dona do Instagram e do Facebook, anunciou o encerramento do seu programa de verificação de fatos. Em seu lugar, a empresa colocará algo similar às notas da comunidade do X. A mudança começará nos EUA.
O anúncio foi feito pelo próprio fundador e presidente-executivo da empresa, Mark Zuckerberg, que afirmou que os verificadores “tem sido muito tendenciosos politicamente e destruíram mais confiança do que criaram”.
Zuckerberg argumentou que, com o fim da verificação por terceiros, “menos coisas ruins serão percebidas” pela plataforma. Ela comentou que” também vai cair a quantidade de posts e contas de pessoas inocentes que, acidentalmente, derrubamos.”
Ele também criticou o que chamou de “leis que institucionalizam a censura” na Europa e “tribunais secretos” de países latino-americanos que ordenam “retirar coisas silenciosamente”. O último comentário faz facilmente lembrar casos como o de assessores de Alexandre de Moraes emitindo censura no X contra usuários que publicavam conteúdo considerado “anti-democrático” pelo ministro.
Zuckerberg argumenta que o motivo da mudança é o entendimento da Meta de que, com isso, será mais fácil construir a confiança dos usuários sobre a liberdade de expressão em um local com menos preocupações com o viés da empresa.
O que estaria por trás desta mudança?
Outro ponto curioso sobre esta mudança recente da Meta é que Zuckerberg também mostrou apoio ao atual presidente dos EUA, Donald Trump. Em seu anúncio, Zuckerberg até mesmo afirma que vai trabalhar com Donald Trump para “pressionar os governos de todo o mundo, que visam perseguir empresas americanas e pressionando para implementar mais censura”.
De fato, Zuckerberg já vinha apresentando mudanças em sua postura em relação às políticas de conteúdo. Em agosto do ano passado, o empresário havia declarado que a Meta teria sido pressionada pelo governo Biden para censurar conteúdos sobre COVID no Facebook e Instagram. Ele também afirmou que a empresa foi pressionada a reduzir o alcance de publicações sobre escândalos envolvendo Hunter Biden, o filho do ex-presidente dos EUA, Joe Biden.
Mas a pergunta que fica é: qual o real motivo da mudança da postura de Mark Zuckerberg? Apesar de Zuckerberg não declarar o motivo explicitamente, ele deixa escapar isso nas entrelinhas. Em seu anúncio, o empresário afirmou que antes o Facebook restringia conteúdo porque supostamente o público queria evitar tal tema, por isso estressá-los. No entanto, ele afirma que agora este é um tipo de assunto que o público vem mostrando interesse.
Não é difícil imaginar por quê: a frustração crescente do público americano com o Partido Democrata e suas medidas, além de uma censura sem sentido imposta pelo estado, fez com que o público americano cada vez mais se voltasse para Trump novamente como uma espécie de “messias político”. Isso levou a uma maior politização da sociedade americana e um maior interesse pelo assunto política.
A fuga em massa de apoiadores de Trump para o X onde eles poderiam se expressar mais livremente deve ter ascendido um sinal de alerta para Zuckerberg, já que agora havia o risco real de um grande número dos usuários do Instagram e do Facebook migrarem definitivamente para a rede social até então rival.
A mudança na postura da Meta em relação à política de conteúdo pode ter sido uma tentativa de reverter uma fuga em massa de suas redes sociais para a rede social de Elon Musk.
No entanto, este não é o único motivo. Na semana passada, Donald Trump anunciou que iria combater a “censura” das redes sociais sobre qualquer conteúdo. O novo presidente dos EUA argumenta que plataformas como Facebook, Instagram e YouTube estariam censurando principalmente discursos de conservadores.
A medida, no entanto, não deixa de ser uma intromissão do estado nas decisões das empresas, da mesma forma que foi o caso do governo Biden com a Meta e o STF com as redes sociais aqui no Brasil. Como foi mostrado neste artigo, as redes sociais têm o direito de decidirem o que é permitido ou não em seus espaços.
O receio de punições por parte do Trump por censura contra usuários pode ser outro motivo para a mudança de postura da Meta.
Uma nova era?
Zuckerberg afirma que no momento estamos vivendo uma “nova era” onde a política voltou a ser interesse de grande parte do público. E, pensando bem, ele está certo. Uma crescente insatisfação crescente em vários países ocidentais está sendo canalizada por políticos populistas como Trump, que estão se vendendo como uma solução e uma alternativa aos regimes políticos vigentes.
É do interesse de Trump e outros políticos populistas que ideias favoráveis a eles repercutam o máximo possível nas redes sociais. Porém, nada impede que no futuro, quando acharem que seu poder está garantido, eles também não possam censurar os discursos discordantes, tal como os governos progressistas até então faziam.
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