Paul Krugman e sua sentença de morte do Bitcoin. Mais uma previsão furada?

Paul Krugman prevê fim do Bitcoin

O prêmio Nobel de economia, o economista americano Paul Krugman, não esconde de ninguém sua rejeição do Bitcoin como uma moeda viável. Mais recentemente, ele escreveu um artigo onde afirma que o que o Bitcoin e as criptomoedas irão enfrentar não será um inverno (baixa de mercado), mas o Fimbulwinter (o inverno apocalíptico sem fim nórdico).

Basicamente o que Paul Krugman quer dizer é que diferente das outras quedas onde as criptomoedas se recuperaram, esta será definitiva. Paul Krugman é bastante famoso por fazer previsões que não se concretizaram, e em relação ao Bitcoin e o mundo cripto em geral não será diferente.

A utilidade da Blockchain

Em seu artigo mais recente, ‘Blockchains, Para Que Servem?, Paul Krugman questiona qual a utilidade do Bitcoin, outras criptomoedas e da tecnologia blockchain. Krugman chega a afirmar que nenhuma utilidade prática foi encontrada pela blockchain e as criptomoedas.

Como exemplo da “inutilidade” da tecnologia blockchain, Krugman aponta exemplo de projetos, como Blockchain TradeLens e o Amazon Managed Blockchain. O Blockchain TradeLens foi um projeto das empresas de logística IBM e Maersk.

A ideia era usar blockchain para tornar os registros de logística mais ágeis, confiáveis e práticos. No entanto, a Maersk acabou encerrando o projeto em novembro do ano passado.

No entanto, o fim do projeto está bem longe de significar uma “inutilidade” da tecnologia blockchain. O que aconteceu, como bem apontado pelo especialista em tecnologia de Logística e Cadeias de Suprimentos, Antony Miller, foi apenas uma relutância por parte de muitas empresas que ainda não compreendem bem o funcionamento da tecnologia blockchain.

Como ele mesmo comentou em um artigo do site Coindesk:

“Em um setor em que ainda usamos planilhas sofisticadas e compartilhamos dados usando arquivos XML por e-mail, a tecnologia blockchain realmente tem seu lugar? Pode ser. Mas a aplicação do blockchain na cadeia de suprimentos global deve ocorrer naturalmente. Não construa um produto e espere que os clientes venham. Crie um produto que você sabe que os clientes estão prontos para usar”.

Já o Amazon Blockchain Managers, da Amazon, foi outro projeto de blockchain descontinuado apontado pelo Krugman. Neste caso, segundo Tim Bay, responsável por analisar o projeto, nenhum dos seus proponentes havia conseguido demonstrar por que ele era preferível aos projetos concorrentes. Muito mais simples e resolvendo os mesmos problemas.

Curiosamente, Tim Bay reconhece a filosofia por trás do lançamento das tecnologias Bitcoin e Blockchain, e sua importância para aqueles que buscam maior liberdade frente aos governos. Ele chega até mesmo a sugerir que como isso não estava nos interesses da Amazon, não fazia sentido fazer uso de uma tecnologia tão “complicada”.

Segundo Tim Bay:

“Obviamente, também conversamos com algumas das principais luzes da cena criptográfica. Isso não ajudava muito, porque eles pareciam mais preocupados com os aspectos que tiravam você das problemáticas regulamentações governamentais e leis contratuais; tudo tinha um aroma nada sutil de libertarianismo.”

Ele chegou até mesmo a comentar sobre a possibilidade de com a blockchain, poder dispensar a necessidade de confiar em uma terceira pessoa para confirmar qualquer atividade. Característica essa, que segundo ele, era “dispensável” para os propósitos da Amazon.

… simplesmente não conseguíamos nos convencer de que o mundo real queria confiança zero; então havia um gerenciador de transações em quem você precisava confiar.

Caro Leitor: Acho que em algum momento, em uma civilização, tem que haver confiança. Acho que essa talvez seja a principal razão pela qual temos civilizações. Me chame de louco se quiser.

Resumindo: liberdade frente ao estado e dispensa a necessidade de uma terceira pessoa para confirmar qualquer operação, estava fora dos planos da Amazon.

O mais interessante deste último exemplo dado pelo Krugman mostra justamente o contrário do que ele alega, com o próprio Tim Bay confirmando que a blockchain serve muito bem àqueles que buscam o que ela tem a oferecer: maior liberdade frente ao estado e maior autonomia dos usuários. Algo que a Amazon com seus viés burocrático e corporativista parece não flertar muito.

Para finalizar sobre a utilidade da tecnologia blockchain e de suas várias aplicações possíveis, deixo aqui uma lista com vários projetos bem sucedidos baseados em blockchain, indo desde aplicação em meta dados, logística e até segurança de rede. Clique aqui para conferir a lista.

A utilidade das criptomoedas

Paul Krugman também afirma que nos seus 14 anos de existência, o Bitcoin e as demais criptomoedas não exerceram bem a sua função como dinheiro. Ele afirma ainda que ao invés das criptomoedas seguirem com o plano original, acabaram tendo a maior parte de suas transações realizadas em Instituições financeiras (exchanges). Afinal, isso era exatamente o que Satoshi Nakamoto, criador do Bitcoin, queria evitar.

Ele até mesmo reconhece que muitas de suas previsões sobre o fim das criptomoedas não se concluíram, e que hoje não descarta a possibilidade de que elas tenham alguma utilidade. No entanto, ele diz se manter cético a isso. Krugman também afirma que mesmo que o valor do Bitcoin não chegue a zero, há fortes argumentos de que a indústria de criptomoedas cairá no esquecimento.

Krugman desconsidera o fato de que o Bitcoin e demais criptomoedas continuam tendo uma adesão crescente, e que sua volatidade se dá mais pelo fato de grande parte do público ainda o utilizar como ativo especulativo. No entanto, ainda há um grande público que o já vê como a moeda do futuro, o que mantém seu valor ainda acima do que estava há 4 anos.

Como bem observado por Marco Carnut no site Suno:

“…ao citar que o preço do bitcoin caiu 70% em relação ao pico, diz que três quartos dos usuários “perderam dinheiro até aqui”, omitindo que só perde dinheiro quem optou por vender; e que, para vender, é preciso ter alguém que queria comprar. Omite também as estatísticas de quanta gente não vendeu, preferindo aguardar as próximas altas.”

Carnut também fez uma observação importante sobre as afirmações de Krugman sobre as exchanges terem dominado o mundo cripto:

“Outra verdade que ele fala é ao constatar que as corretoras de criptomoedas se tornaram iguaizinhas às instituições financeiras tradicionais. De fato, elas tratam os criptoativos como mera mercadoria e em pouco ou nada adotam dos seus preceitos ou avanços tecnológicos no âmago dos seus processos de negócio. Não é de se espantar que padeçam das mesmas mazelas: não dá pra ser diferente fazendo tudo igual. Perde-se aqui novamente a oportunidade de informar: as corretoras se tornaram uma cópia dos sistemas financeiros tradicionais justamente porque parece ser o único jeito de respeitarem a regulação.”

E ainda diz:

Por isso mesmo, não faz muito sentido quando ele diz que “não parece provável que os setor consiga sobreviver à regulação”? Se o “setor cripto” apenas “repetiu o sistema bancário tradicional”, por que não sobreviveriam, se o tal sistema tradicional sobrevive? (a menos que a “regulação por vir” seja explicitamente projetada para matar o setor). Na ausência de uma justificativa, dá a impressão que ele está apenas exprimindo seu desejo pessoal.”

Carnut ainda questiona a afirmação de Krugman de que a regulação mantém o sistema financeiro tradicional funcionando, e se pergunta se “não estaria a regulação sufocando a inovação; nem por que a regulação não tem evitado fraudes, golpes e falências antes de ser tarde demais – como no caso que ele cita tangencialmente de uma corretora chamada FTX, cuja recente derrocada afetou várias outras empresas do ecossistema.”

Carnut também aponta o caso da FTX como um fenômeno nada incomum para o setor financeiro tradicional. Ao contrário do que Krugman tenta fazer crer. Carnut aponta inclusive para grandes casos de fraude o setor financeiro tradicional, como de Elizabeth Holmes da Theranos e o de Bernie Madoff.

Ainda sobre a utilidade do Bitcoin e demais criptomoedas, um número cada vez maior de americanos e várias pessoas no mundo utilizando Bitcoin. O que já desmente a sentença de morte de Krugman sobre as criptomoedas.

Krugman e suas previsões frustradas

Não é de hoje que Krugman é conhecido por fazer previsões que acabam não se concretizando. A mais famosa delas, a que ele fez em 1998 na revista Times sobre a internet, afirmando que teria o mesmo impacto econômico que o Fax, e que não passaria de 2005.

Passaram-se 24 anos desde esta previsão, e desde então a internet vem sendo um dos maiores impulsionadores da economia. Nenhuma empresa que se preze hoje abriria mão do uso da internet para seus negócios. Podemos esperar que com a tecnologia blockchain será igual.

Por um lado, é compreensível que Krugman tenha tido uma expectativa pessimista em relação à internet. Era a crise dos PontoCom, com várias empresas de internet indo à bancarrota. Ficando é claro, apenas aquelas que realmente relfetiam as reais demandas do mercado após a recessão.

Com as criptomoedas é o mesmo. Como bem demonstrado pelo economista Ryan McMaken, a recessão já está mostrando seus efeitos sobre o setor de tecnologia, justamente um dos setores que mais se expandem antes durante um boom. E como todo boom gerado por dinheiro fácil jogado no mercado pelos bancos centrais, este também será seguido por uma recessão.

Com o mundo cripto não será diferente. Mesmo que o Bitcoin sobreviva a recessão, muitos dos projetos cripto que são bolhas que se formaram durante este boom, irão chegar ao seu fim.

O que é bom. Uma vez que isso limpará o mercado e abrirá espaço para os empreendimentos que realmente atendem as demandas do mercado. E o Bitcoin estará entre eles.

Mais uma vez, Krugman será obrigado a engolir suas próprias palavras e ver mais uma de suas previsões falharem. Pelo visto os casos anteriores não o ensinaram nada sobre como evitar fazer previsões sobre o que não compreende bem.

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