Por que os “super-ricos” estão fugindo da Noruega em um ritmo histórico

Super ricos fogem da Noruega

Em 2022, o terceiro homem mais rico da Noruega, Kjell Inge Røkke, anunciou em uma carta aberta aos acionistas que estava se mudando para Lugano, na Suíça.

“Meu capital continuará trabalhando na Noruega”, escreveu o magnata da pesca que se tornou industrial e que lançou seu império há quatro décadas com uma traineira de 69 pés que comprou enquanto economizava dinheiro trabalhando em navios na costa do Alasca.

Røkke, que segundo a Forbes tem uma fortuna de US$ 5,1 bilhões, custará ao governo norueguês cerca de 175 milhões de coroas anuais (aproximadamente US$ 16 milhões) com sua saída. Isso pode não parecer muito dinheiro, mas Røkke não é o único empresário rico que está deixando a Noruega, observa o The Guardian.

“Mais de 30 bilionários e multimilionários noruegueses deixaram a Noruega em 2022, de acordo com pesquisa do jornal Dagens Naeringsliv”, relata o correspondente de riqueza Rupert Neate. “Isso foi mais do que o número total de pessoas super-ricas que deixaram o país nos 13 anos anteriores, acrescentou [o jornal].”

Você percebeu isso? Mais noruegueses “super ricos” deixaram a Noruega em 2022 do que nos 13 anos anteriores juntos. O motivo pelo qual os noruegueses ricos estão fugindo do país não é segredo.

Após sua vitória eleitoral em 2021, o Partido Trabalhista do país nórdico cumpriu sua promessa de sobrecarregar os ricos. A Noruega é um dos poucos países da OCDE que ainda tributa a riqueza líquida, e o Partido Trabalhista aumentou o imposto sobre a riqueza do país para 1,1%, apesar das advertências de que tal medida “provocaria a fuga de capitais e ameaçaria a criação de empregos”.

A fuga de capitais foi exatamente o que aconteceu, e isso deixou o governo norueguês com menos receita.

O professor emérito da Norwegian Business School, Ole Gjems-Onstad, estimou que os noruegueses ricos levaram consigo uma fortuna total de US$ 54 bilhões quando partiram. Isso significa que o imposto sobre a fortuna, que foi projetado para aumentar a receita em quase US$ 150 milhões por ano, resultará em cerca de 40% menos receita do que gera atualmente. Luca Dellanna, consultor de administração e autor, ressalta que a Noruega arrecadou cerca de US$ 1,46 bilhão com seu imposto sobre fortunas em 2019. Mas o êxodo dos ricos resultará em uma perda de receita estimada em US$ 594 milhões.

Aqueles que tentam entender como a política norueguesa pode ter um resultado tão negativo devem olhar para o trabalho do falecido economista Robert Lucas, ganhador do Prêmio Nobel. Lucas, professor de longa data da Universidade de Chicago, recebeu o prêmio máximo em economia por uma pesquisa que ficou conhecida como a Crítica de Lucas, que expôs vários problemas com a modelagem macroeconômica.

Lucas acreditava que, para prever os resultados das políticas, era essencial primeiro entender que toda ação é um comportamento individual, e os seres humanos são criaturas racionais que responderão às políticas de forma racional – mesmo às políticas criadas para enganá-los.

“A microeconomia pressupõe que as pessoas são racionais”, apontou o economista David R. Henderson em um artigo recente do Wall Street Journal após a morte de Lucas. “Por que a macroeconomia não deveria fazer a mesma suposição?”

Essa percepção ajudou Lucas a ganhar o Prêmio Nobel e ajuda a explicar por que o imposto sobre a fortuna da Noruega saiu tão mal. Sempre foi ingênuo supor que as pessoas ricas continuariam a arcar com o imposto sobre a riqueza da Noruega. Afinal, não é preciso ter um doutorado em economia para perceber que é improvável que as pessoas ricas fiquem de braços cruzados enquanto os legisladores tomam cada vez mais de sua riqueza (não da renda, veja bem, mas da riqueza). Já no século XVII, Jean-Baptiste Colbert, ministro das finanças de Luís XIV, da França, observou a natureza delicada da tributação.

“A arte da tributação consiste em depenar o ganso de modo a obter a maior quantidade possível de penas com a menor quantidade possível de assobios”, escreveu Colbert.

Os legisladores noruegueses esqueceram essa lição simples e agora não podem fazer nada além de assistir à partida dos criadores de riqueza de seu país, levando consigo seu capital, engenhosidade e renda tributável.

“Atlas encolhe os ombros na Noruega”, observou o economista Peter St Onge.

De fato.

Por acaso, a infeliz falta de previsão da Noruega chega em um momento oportuno para os que vivem nos Estados Unidos, onde muitos estão promovendo impostos sobre a riqueza.

No início deste ano, o Washington Post publicou uma reportagem sobre os métodos criativos que legisladores federais e estaduais estão elaborando para separar “os ricos” de sua riqueza. Isso inclui nada menos que quatro estados que estão tentando tributar ganhos de capital não realizados, incluindo uma proposta da Califórnia que imporia um imposto sobre a riqueza de 1,5% (ainda mais alto que o da Noruega).

“Se for um imposto anual sobre a fortuna, ele estará tomando uma fração da sua fortuna a cada ano”, disse ao Post o economista de Berkeley Emmanuel Saez, que ajudou a elaborar a proposta de imposto sobre a fortuna da senadora Elizabeth Warren. “Quase por definição, você terá menos riqueza depois de pagar o imposto.”

Se o professor Saez acredita que as pessoas mais ricas da Califórnia permitirão que os legisladores tributem sua riqueza e as obriguem a vender ações para cobrir ganhos de capital não realizados, ele não aprendeu a lição de Colbert sobre tributação.

Essa política não causaria apenas muitos problemas. Ela levaria a uma fuga em massa de criadores de riqueza. Aqueles que duvidam disso só precisam olhar para a Noruega.

Artigo escrito por Jon Miltimore, publicado em AIER e traduzido e adaptado por @rodrigo

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