Neste artigo, o economista Laurence M. Vance comenta sobre como a guerra às drogas tem como mais uma de suas consequências negativas a de servir de justificativa para aumento das tarifas sobre importações pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e o quão danoso e infrutífero isso será.
O presidente Trump anunciou recentemente tarifas adicionais sobre as importações do Canadá, México e China — três dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos: 25% sobre produtos do Canadá (10% sobre recursos energéticos) e do México e 10% sobre produtos da China.
Digo “parceiros comerciais” porque o comércio internacional é sempre uma proposta “ganha-ganha” que beneficia ambas as partes, pois incentiva a eficiência na produção e na utilização de recursos, oferece aos consumidores uma variedade maior de opções, mantém os preços sob controle, leva à inovação e promove a paz e a boa vontade. O comércio não faz com que alguns países se beneficiem (vencedores) às custas de outros (perdedores). Dessa forma, o comércio não é um jogo de soma zero em que um país ganha às custas de outro. Em toda troca, ambas as partes abrem mão de algo que valorizam menos por algo que valorizam mais. Cada parte de uma transação prevê um ganho com a troca ou não se envolveria no comércio com a outra parte em primeiro lugar.
Embora as tarifas mais altas acabem resultando em preços mais altos para os americanos, Trump afirmou que a “dor” das tarifas “valerá o preço”.
O fato de Trump ter autoridade para impor essas tarifas por decreto não se deve a nada do Artigo II da Constituição sobre os poderes da presidência, mas sim ao fato de o Congresso ter delegado a ele essa autoridade, conforme expliquei aqui.
De acordo com uma “Ficha Técnica” da Casa Branca, os Estados Unidos estão enfrentando uma “emergência nacional” e uma “crise de saúde pública” devido a “drogas contrabandeadas como o fentanil” que matam “dezenas de milhares de americanos todos os anos”. As tarifas são necessárias devido à “ameaça extraordinária representada por estrangeiros ilegais e drogas, incluindo o mortal fentanil”. Trump está tentando “responsabilizar o México, o Canadá e a China por suas promessas de acabar com a imigração ilegal e impedir que o venenoso fentanil e outras drogas entrem em nosso país”. Embora o fentanil atravesse a fronteira com o Canadá e o México, “as autoridades chinesas não tomaram as medidas necessárias para conter o fluxo de precursores químicos para cartéis criminosos conhecidos e impedir a lavagem de dinheiro por organizações criminosas transnacionais”.
Mas logo após Trump impor essas tarifas, ele chegou a um acordo com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e a presidente mexicana Claudia Sheinbaum para adiar a implementação das tarifas por 30 dias.
“O Canadá concordou em garantir que tenhamos uma fronteira norte segura e em finalmente acabar com o flagelo mortal de drogas como o Fentanyl, que tem entrado em nosso país, matando centenas de milhares de americanos e destruindo suas famílias e comunidades em todo o nosso país”, disse Trump.
Sheinbaum anunciou que “o México enviará imediatamente 10.000 membros de sua Guarda Nacional para a fronteira entre os EUA e o México, com o objetivo de combater o tráfico de fentanil ilícito”.
As tarifas são apenas uma ameaça de Trump? Talvez. Mas Trump adora tarifas e acha que elas ajudarão a tornar os Estados Unidos grandes novamente. Quando foi presidente pela primeira vez, Trump aumentou as tarifas sobre aço, alumínio, máquinas de lavar e painéis solares, entre outras coisas, mas não por causa do fentanil ou de qualquer outra droga.
Seria errado pensar que o “flagelo mortal das drogas” é apenas uma desculpa para Trump aumentar as tarifas. Trump é um guerreiro das drogas por completo, embora seja inconsistente. Ele apoiou a recente iniciativa de votação na Flórida (Emenda 3) para legalizar o uso recreativo da maconha, mas também pediu a execução de traficantes de drogas. As tarifas são apenas mais uma consequência da guerra às drogas, talvez não tão ruim quanto a erosão da privacidade financeira, da liberdade pessoal e dos direitos de propriedade, mas, ainda assim, uma consequência negativa.
Mas as tarifas nunca impedirão que o “flagelo mortal das drogas” mate os americanos. Como o conselho editorial do Wall Street Journal escreveu recentemente: “As drogas têm entrado nos EUA há décadas e continuarão a entrar enquanto os americanos continuarem a usá-las”. Mesmo que o impossível aconteça e todos os carregamentos de drogas sejam impedidos de entrar no país, os americanos continuarão morrendo devido ao “flagelo mortal das drogas”.
Trump age como se os americanos nunca fabricassem fentanil por conta própria ou que os americanos fossem forçados a consumir fentanil. A terrível verdade é que alguns americanos têm apetite e desejo por drogas. Eles podem usar o fentanil diretamente, podem misturá-lo com outras drogas ou podem inadvertidamente tomar outras drogas que estejam misturadas com fentanil.
Se um americano morrer por ingerir fentanil ou uma droga com fentanil, ele não foi envenenado ou morto. Ele estava sendo imprudente e irresponsável. Não é culpa de ninguém do Canadá, do México ou da China o fato de um americano ter uma overdose de fentanil. O americano que consome drogas é responsável por suas ações. Uma sociedade livre deve incluir o direito das pessoas de assumir riscos, envolver-se em comportamentos autodestrutivos, levar um estilo de vida pouco saudável e realizar ações perigosas – inclusive o uso e o abuso de drogas.
Artigo escrito por Laurence M. Vance, publicado no The Future of Freedom Foundation e traduzido por Rodrigo
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