Zelenskiy como o novo Saakashvili

Zelenskiy como o novo Saakashvili

a conduta que o atual presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, vem tendo em relação à Rússia, buscando aliança com a OTAN e reprimindo qualquer separatismo de territórios de maioria russa, lembra em muito a trajetória de outro líder de um país do leste europeu aliado da OTAN: Mikheil Saakashvili

A trajetória política de Mikheil Saakashvili

O ex-presidente georgiano, Mikheil Saakashvili, um advogado formado nos Estados Unidos, era considerado por Washington como um “prodígio pró-democracia”, onde fez uma carreira política de ataques contra a vizinha Rússia.

Antes de se tornar presidente, Saakashvili ajudou a derrubar o ex-ministro das Relações Exteriores soviético e presidente georgiano, Eduard Shevardnadze, na chamada Revolução Rosa em 2003 e se tornou o presidente mais jovem da Europa em janeiro seguinte, aos 36 anos. Após a chegada ao poder, disputou com Moscou pelo controle da Abkhazia e da Ossétia do Sul , duas regiões pró-russas de seu país. Ele prometeu combater a corrupção e reintegrar as regiões pró-Rússia de Adzharia, Abkhazia e Ossétia do Sul na Geórgia.

Com pouco tempo no poder, Saakashvili conseguiu derrubar o homem forte de Adzharia, Aslan Abashidze. Ganhou elogios pela dureza, mas os georgianos logo aprenderam que Saakashvili poderia ser autoritário com a oposição interna. Os opositores políticos às vezes eram presos e muitas vezes ignorados ou ridicularizados. A oposição o acusava de se comportar como um rei. Um homem antes considerado emocional e democrático teria se tornado cada vez mais intemperante e autocrático. Alguns o consideraram imprudente em sua busca pelas regiões separatistas.

Em 2007, Saakashvili declarou estado de emergência de 15 dias depois que a tropa de choque lutou contra manifestantes que exigiam eleições parlamentares que ele havia adiado. Saakashvili culpou Moscou por fomentar os protestos. Ele foi à televisão para desqualificar os manifestantes como “bandidos que não merecem ser levados a sério”.

Ainda em 2007, sobreviveu a uma onda de protestos, na qual chegou a ser acusado de planejar o assassinato de um empresário e de, vejam bem, liderar um governo corrupto e ineficiente, foi reeleito ainda no primeiro turno no ano seguinte. Em abril de 2008, estourou uma crise diplomática com a Rússia, relacionada ao status de duas repúblicas separatistas: a Abcásia e a Ossétia do Sul.

Aproximação com a OTAN

Admirador da cultura ocidental, e amigo próximo de líderes da OTAN, Sakaashvili deslocou tropas para a disputada Ossétia do Sul. Enquanto o então primeiro-ministro Vladimir Putin e o presidente Bush visitavam Pequim, e grande parte da atenção do mundo estava voltada para os Jogos Olímpicos de Verão. As forças georgianas sofreram ataques aéreos e terrestres esmagadores e foram rapidamente repelidas.

Saakashvili disse que suas forças foram provocadas, enquanto a Rússia o acusava de iniciar um movimento de ofensiva. De qualquer forma, ele acabou em uma posição mais precária que anteriormente. A medida revelava o objetivo maior de Saakashvili — a Geórgia se juntar à Otan.

A busca de Saakashvili pela adesão à Otan deixou o governo russo nervoso e mais agressivo, enquanto seria improvável que a Organização do Tratado do Atlântico Norte fosse aceitar trazer um novo risco para o grupo.

Saakashvili tem foi o garoto-propaganda do governo Bush para os movimentos pró-ocidentais. Mantinha uma fotografia autografada de si mesmo com Bush em seu escritório, e era um dos aliados mais próximos ao ocidente no leste europeu. Os Estados Unidos forneceram-lhe ajuda militar para construir seu exército e ele, por sua vez, enviou tropas georgianas ao Iraque para apoiar a invasão norte-americana no país.

Apesar disso, Saakashvili reclamou que o Ocidente não conseguiu ficar do seu lado.

Estamos recebendo apenas ajuda moral e humanitária da comunidade internacional, mas precisamos de mais do que isso”, disse ele em um discurso televisionado.

Você já viu isso em algum lugar, não viu?

Para Saakashvili a Rússia planejava derrubá-lo e assumir o controle da Geórgia. Os russos sentiam uma enorme animosidade pessoal em relação a Saakashvili, a quem eles viam como um fantoche dos EUA empenhado em prejudicar os interesses russos. Em declarações na época do conflito, que durou alguns dias e foi parcialmente eclipsado pelas Olimpíadas de Pequim, o então presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou que Saakashvili era o “responsável pela destruição do Estado georgiano”.

Saakashvili apoiou energeticamente o movimento conhecido como Euromaidan, na Ucrânia, que derrubou o governo pró-Rússia local. Em maio de 2015, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, o apontou como governador de Odessa, no sul da Ucrânia, e lhe foi dada também cidadania ucraniana. Em 2016, Mikheil renunciou ao cargo de governador de Odessa, acusando o governo ucraniano de ser “corrupto e disfuncional” e um ano depois, por motivos não esclarecidos pelo governo da Ucrânia, ele perdeu a cidadania ucraniana, se tornando um “apátrida”.

Protestos em 2009 e denúncias recorrentes de abusos cometidos no sistema prisional minaram sua base de apoio, culminando com a derrota nas eleições parlamentares de 2012 e com o veto a uma terceira candidatura à Presidência, em 2013.

Após isso, voltou para os EUA, onde passou a trabalhar na iniciativa privada e a buscar novamente espaço no debate político, agora não apenas na Geórgia, mas também na Ucrânia, que estava em meio à revolução que pôs fim ao governo pró-Rússia de Viktor Yanukovich, em 2014, ocasionando na chegada ao poder de um velho colega de Saakashvili, Petro Poroshenko, que acabaria por abrir-lhe um novo campo de ação.

A aproximação de Zelenskiy com Saakashvili

Mas agora o status já não era o mesmo: em peregrinações pela Europa, foi impedido de cruzar fronteiras, e acabou preso pela Ucrânia acusado de entrar ilegalmente no país, com o apoio de aliados. Em 2019, teve restaurada sua cidadania pelo novo presidente , Volodymyr Zelensky, a quem havia apoiado na eleição presidencial daquele ano, e assumiu uma posição em um comitê de reformas. Em 2020, Zelensky nomeou Saakashvili como principal conselheiro.

As histórias de Saakashvili e Zelensky se confundem e não é por acaso: a Ucrânia parece seguir passo a passo oque aconteceu na Giorgia, o presidente ucraniano parece estar disposto a cometer os mesmos erros do ex-presidente georgiano, talvez por influência do mesmo, ou talvez por influência de quem outrora instigou o então presidente da Giorgia a “cutucar a onça com vara curta”, e depois abandonar o pequeno país ao felinos.

Bom, o restante dessa história está acontecendo neste momento. Enquanto políticos sem escrúpulos tramam guerras e se beneficiam dela, o povo acaba sempre pagando o preço.

Artigo escrito por Alex Motta

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