É provável que você ja tenha se deparado com propagandas que prometem te ensinar a ganhar dinheiro através de investimentos. Parece que o vendedor do curso “fique rico sem ter dinheiro” sabe algo extraordinário: uma fórmula para acabar com a miséria financeira de uma vez por todas.
Todo mundo rico num país pobre
O problema financeiro, se é que podemos classificá-lo dessa forma, na verdade, não deriva das finanças, mas do tipo de mentalidade que cada um possui. Porém, a mudança mental só é possível ser efetivada no plano material.
É na realidade concreta que as coisas acontecem, e parece ser justamente nesse plano que ocorre a fuga das pessoas rumo a liberdade financeira. Saem da realidade e adentram na ficção. A liberdade financeira acaba se tornando um mundo de fantasia onde a palavra rendimento é cultuada.
Embora os educadores financeiros exerçam a importante função de explicar conceitos básicos sobre finanças pessoais e orçamento doméstico ao público em geral, a maioria deles parece extrapolar o campo da instrução consciente, saltando imediatamente para o misticismo
Compre dinheiro, agora
Somos direcionados à crença de que a solução para a economia do país está no indivíduo emprestar dinheiro para o governo ou para um banco qualquer.
Compre o título A, B ou C. Invista nisso ou naquilo. Não deixe o seu dinheiro parado na conta. Em linhas gerais, os vendedores/educadores querem o nosso dinheiro nos locais que julgam ser os melhores: nos produtos/investimentos que eles nos oferecem.
Não há problema algum em você vender algo. Aliás, é necessário que as coisas sejam vendidas para a economia funcionar. O perigo está na compra efetuada pelo prazer que o ato de comprar nos traz.
A situação se agrava quando vemos uma quantidade enorme de pessoas contando como ficaram ricas depois que começaram a poupar dinheiro. Essa informação na maioria das vezes é falsa, pois o que nos enriquece repousa muito mais em ações aleatórias do que nas atitudes conscientes e programadas.
Entreter para conquistar
O que afirmei no parágrafo anterior não é um incentivo à preguiça. Nem um desprezo ao esforço. É apenas um fato que passa despercebido pela maioria de nós ao assistirmos um vídeo de alguém que até o dia de ontem morava na rua e hoje é “proprietário de duas ilhas e três planetas”.
Entreter significa gerar audiência. É o ato de fazer com que uma pessoa ou grupo sinta-se bem com aquilo que consome, tendo como fim a sensação agradável, o prazer. Durante esse processo, os entretidos agem emocionalmente. Caso essa sensação seja prolongada o indivíduo entra num estágio de embriaguez mental, que por sua vez, gera o delírio.
Nesse estágio vale tudo. Até dizer que o estado não dá calote em ninguém, e por isso, podemos comprar títulos do tesouro direto, sem medo. Se o governo não tiver grana no dia marcado para devolver o que emprestamos a ele, a impressora estatal será ligada, e o dinheiro fresquinho, recentemente criado, cairá diretamente na nossa conta de investimentos.
Como o objetivo é o prazer do ato praticado, a expressão “vou fazer umas comprinhas” torna-se comum para todos quanto adquirem produtos financeiros. A pessoa compra ações da empresa X ou Y porque “estão baratas”, mas se esquece que nem tudo o que está barato hoje ficará caro amanhã.
Faz sucesso, então deve ser bom
Os maiores canais sobre finanças no YouTube são ambientes para entretenimento. A pessoa ingênua que acessa esses conteúdos sem saber que o dinheiro que usamos desvaloriza com o passar do tempo, após dez vídeos assistidos sobre “o milagre dos juros compostos” começará a dizer que será milionária.
Em março de 2023, R$ 1 vale algo próximo a R$ 0,10 em relação a 1994, ano do lançamento dessa moeda. Ter 1 milhão de reais hoje não resolve muita coisa. E num futuro não muito distante, todos nós seremos milionários. Graças ao governo (permita-me a ironia), que deprecia o poder de compra da moeda, está cada dia mais fácil se tornar um milionário. A única coisa que diminui a nossa empolgação é o fato de que quanto mais dinheiro ganhamos, menos ele vale.
Com o vento soprando a favor, o entretenimento financeiro segue gerando seus vencedores e perdedores. Além de aumentar suas vítimas a cada dia.