Escrito por: Per Bylund (@PerBylund)
Traduzido por: Pedro Micheletto Palhares (@DevilSSSlayer)
Revisado por: Paulo Costa (@paulodroopy)
Uma crítica comum, senão um descarte completo da Economia Austríaca, é que ela é “ideológica”. A conotação é que ela não é uma estrutura de análise confiável, mas uma visão de mundo enviesada. O que é ideológico não pode ser científico, pois é, por definição, tudo exceto neutro em relação aos fatos.
Essa crítica sempre me parece estranha considerando a história e teorização da Economia Austríaca.
Historicamente, a Economia Austríaca foi uma das diversas correntes do pensamento econômico ortodoxo emanado da revolução marginalista dos anos 1870. Enquanto os economistas austríacos tomaram parte prominente ou até instigaram importantes debates na teoria econômica na viabilidade do socialismo, o papel e natureza do capital, e nos ciclos econômicos e desemprego, seus argumentos sempre foram levados a sério por economistas e pensadores sociais com diferentes opiniões.
Considere, por exemplo, como Oskar Lange, o proeminente socialista de mercado, introduziu sua obra “On the Economic Theory of Socialism” (Sobre a Teoria Econômica do Socialismo):
“Os socialistas possuem, certamente, uma boa razão para serem gratos ao Professor Mises, o grande advocatus diaboli (advogado do diabo) de sua causa. Pois foi seu poderoso desafio que forçou os socialistas a reconhecer a importância de um sistema adequado de contabilidade econômica para guiar a alocação de recursos em uma economia socialista.
Mais que isso, principalmente devido a este desafio que diversos socialistas tomaram nota da própria existência de um problema tal.”
Se o argumento de Mises de que o socialismo não é economicamente viável fosse simplesmente “ideológico”, por que motivo Lange se referiria a esse como “poderoso desafio”? Ele obviamente não o faria, visto que retórica ideológica não é um argumento de fato. Não haveria razão para levá-lo a sério ou sequer o pensar como um desafio.
Quanto à teoria, gostaria de endereçar dois distintos problemas. Um é que a teoria econômica Austríaca é uma teoria de livre mercado. Muitos confundem isto com um rótulo ideológico, mas é, na realidade, apenas descritivo de sua abordagem (N.T: Ou de suas conclusões, para ser preciso). De modo a estudar a economia real, incluindo os impactos de regulamentações, deve-se, a princípio, teorizar sobre a economia por si própria. Isto é, a teoria de como o mercado, desobstruído por tais efeitos a serem estudados, funcionariam.
A outra é a natureza da teorização econômica Austríaca, que foi formalizada por Mises como praxeologia.
Diametralmente oposta à abordagem indutiva moderna, mas alinhada com a abordagem teórica tradicional, a Economia Austríaca é uma estrutura puramente lógico-dedutiva. Isto significa que existem apenas duas formas em que a teoria pode ser considerada falsa (ou ideológica): ou o ponto de partida, o axioma da ação*, é ideológico ao invés de uma construção real, ou a derivação lógica dele é consistentemente enviesada para produzir uma teoria ideológica ao invés de verdadeira.
O que isto quer dizer é que afirmar que a Economia Austríaca é ideológica caberia um ato de provar, trivialmente que (e como) este é o caso. Mesmo que possam argumentar que (e como) o axioma da ação – que a ação humana é propositada – não é preciso e uma verdadeira representação do conceito, mas, de fato, uma construção ideológica. Ou devem apontar como e em que ponto o raciocínio Austríaco possui falhas, e especificamente que a lógica é abandonada por motivações ideológicas. Nenhuma dessas tentativas, até onde me concerne, foram realizadas.
Substanciar uma crítica de uma teoria dedutiva é um ato direto. Se os Austríacos tivessem uma abordagem indutiva, então haveria milhões de formas em que os Austríacos poderiam deixar seus vieses ideológicos escorregar dentro de suas análises. Seria mais fácil fazê-lo e mais difícil prova-lo. Mas já que não é o caso, e o método indutivo é, de fato, rejeitado explicitamente pelos Austríacos, críticos possuem facilidade em provar suas afirmações.
O fato de não o terem feito sugere que não são capazes.
*N.T: O “axioma” da ação é descrito por Mises como tautológico, e ele defende e demonstra que tautologias podem levar a conclusões verdadeiras em sua obra “Ação Humana“, apenas a abordagem Rothbardiana-Hoppeana o considera um axioma, isto é, um juízo sintético ao invés de um juízo analítico.
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