O fracasso do socialismo como regime sócio-econômico foi muito bem mostrado na prática através do colapso dos regimes soviéticos e da China Maoísta. No entanto, muitos socialistas ainda acreditam na possibilidade desse regime ser colocado em prática, e agora apostam na inteligência artificial como meio de chegar à isso.
Relatando um gracejo do economista soviético Nikolai Fedorenko, Yuri Maltsev ilustrou o problema do socialismo em seu prefácio ao Cálculo Econômico na Comunidade Socialista de Ludwig von Mises . Fedorenko disse, na época, nas palavras de Maltsev, “um plano econômico totalmente equilibrado, verificado e detalhado para o próximo ano estaria pronto, com a ajuda de computadores, em 30.000 anos”.
Victor Shvets acredita que o poder computacional se apoderou e “a tecnologia poderá em breve criar um ambiente onde o planejamento do estado poderá fornecer resultados econômicos aceitáveis e ao mesmo tempo suprimir as liberdades sociais e individuais”. O Sr. Shvets trabalhou em todo o mundo como um banqueiro de investimentos e agora colocou suas idéias distópicas sobre o futuro no livro A Grande Ruptura: Três Impérios, Quatro Pontos de Virada, e o Futuro da Humanidade.
Shvets admite que a história nos diz que liberdade é igual a produtividade, prosperidade e felicidade, enquanto o planejamento ao estilo soviético cria criminalidade, corrupção e inanição. Seu uso das “boas intenções” soviéticas faz um leitor se perguntar sobre sua ingenuidade.
O autor acredita que até 2030 a inteligência artificial (IA) “substituirá a maioria das funções de pesquisa e irá além disso, antecipando mudanças e fazendo descobertas”. A inteligência artificial será capaz de tomar todas essas decisões maldosas que os empresários lutam para tomar. O capital será empregado com perfeição. As necessidades e desejos dos consumidores serão antecipados sem esforço. Shvets escreve, “a inteligência artificial moderna é capaz de manipular uma quantidade inédita de informações e, portanto, pode, sem dúvida, orientar os investimentos de uma maneira mais produtiva do que nunca pela mão invisível de Adam Smith”.
Shvets acredita que o planejamento científico e o controle estatal de Nikolai Bukharin “podem não ter sido errados de forma alguma, mas estavam apenas um século à frente de seu tempo. Hoje, o poder computacional poderia permitir que tal planejamento ocorresse sem criar a estagnação e a ineficiência do sistema soviético”. Ele continua dizendo que as idéias de F.A. Hayek podem acabar no monte de sucata da história e o capitalismo do mercado livre será visto da mesma forma que a “queima de bruxas”.
Tudo isso depois que a maior parte de seu livro foi gasto crendo como a liberdade é a razão pela qual o Ocidente prosperou e o Império Otomano, a China e a Rússia foram atolados na pobreza. Entretanto, agora, os americanos estão sentados assistindo TV e brincando em seus computadores em vez de ler. Shvets diz que a colisão da financeirização e da tecnologia levou à desintegração civil, “todos os ingredientes do ‘pão e circo’ romano”. Escapismo, renda estagnada e desigualdades crescentes caracterizam a maioria das sociedades ocidentais, com o setor público intervindo para distribuir ‘pão grátis'”.
Os jovens são mais favoráveis à solução dos seus problemas pelo governo do que seus pais. Os pais de baby-boomers criaram crianças que eram dependentes e acostumadas a ganhar “prêmios para perdedores”. Schwetz acredita que isto era mais tóxico do que fumar, causando aumento da solidão, suicídio, analfabetismo, vício digital e pouca capacidade analítica.
O novo mundo, segundo Shvets, será justo, equitativo e benéfico para a sociedade, em vez de liberdade e individualismo.
Sua previsão se baseia no fato de que um quarto dos millennials pensa que a democracia é ruim para a sociedade e menos de um terço pensa que ela é essencial. Menos da metade dos millennials europeus apoiam a democracia, apesar de sua experiência direta com o fascismo e o comunismo.
Schwetz prevê um mundo onde a inteligência artificial assume tudo e apenas 5% das pessoas trabalham, enquanto os 95% restantes não têm que trabalhar e provavelmente serão sustentadas pelos impostos pagos pelos 5%. A idéia de Karl Marx de ‘comunismo’ será nosso futuro”, escreve Schwetz. A sociedade alcançará um alto grau de produtividade, “libertando o homem da necessidade de labutar pela sobrevivência, e por essa etapa terão surgido outros meios de satisfação pessoal”.
Mises não compraria nada disso.
Não é possível”, escreve Mises, “para um único homem (ou máquina) dominar todas as miríades de possibilidades de produção e ser capaz de tornar imediatamente visíveis os juízos de valor sem a ajuda de algum sistema de cálculo”. E ele prossegue dizendo:
A distribuição entre vários indivíduos do controle administrativo sobre bens econômicos em uma comunidade de homens que participam do trabalho de sua produção, e que se interessam economicamente por eles, implica uma espécie de divisão intelectual do trabalho, que não seria possível sem algum sistema de cálculo da produção e sem economia.
Não tem como haver tal coisa como lazer no comunismo.
“Isto, então, é liberdade na vida externa do homem – que ele é independente do poder arbitrário de seus semelhantes”, explicou Mises. “Tal liberdade não é um direito natural¹. Ela não existia sob condições primitivas. Ela surgiu no processo de desenvolvimento social e sua conclusão final é o trabalho do capitalismo maduro”.
Sr. Shvets, existe um capitalismo maduro. E, não é comunismo, marxista ou não.
Nota
- 1 Para ver a resposta de Rothbard à Mises sobre o Direito natural, leia Ética da Liberdade, parte IV cap 26 ou clique diretamente aqui.