Conflito Rússia x Ucrânia: há o risco real de uma guerra?

Conflito Rússia x Ucrânia: há o risco real de uma guerra?

Enquanto o presidente dos Estados Unidos alerta para uma iminente guerra mundial com o envolvimento da Rússia pela escalada das tensões em torno das fronteiras da Ucrânia e cresce uma histeria por toda Europa, há sinais pouco claros que os planos de invasão da Rússia à Ucrânia viabilizaram.

Cabe notar que, apesar da mobilização de mais de 130 mil soldados russos nos limites da Ucrânia, Putin poderia manter todo esse efetivo militar por muito tempo e sem risco.

Quanto à mídia russa, Putin vende a narrativa que quem está desencadeando uma guerra na Ucrânia é o Ocidente. Além disso, o Kremlin poderia impor esse estado de pânico permanente do Ocidente enquanto contava com o afastamento das posições americana e europeia. Todos afirmam que Putin uniu o ocidente, mas o cenário é outro.

Como os líderes políticos estão reagindo frente a possibilidade de uma guerra

O predecessor de Angela Merkel, o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, enfrenta um desafio existencial: aplicar sanções contra Moscou em caso de uma invasão, mas a Alemanha é altamente dependente do gás natural russo, especialmente no inverno. A Alemanha só se ofereceu para mediar diálogos em Berlim. 

Nesse sentido, até o presidente norte-americano assegurou na presença de Scholz na quarta-feira passada que o Nord Stream 2, gasoduto Rússia- Alemanha que representa a influência de Putin no setor, e aguarda a autorização para funcionar, iria “terminar” se ocorresse conflito.

As tentativas do presidente Macron em bancar a paz —  quase certamente uma viagem  pré-eleitoral para denegrir sua imagem como grande estadista — parecem ter gerado resultados ínfimos. Fontes do gabinete do presidente ucraniano disseram que Zelensky estava desapontado com o que o presidente francês levantou em discussão após seu encontro na semana passada com Putin. 

Ao que parece, foi um esforço para persuadir o governo ucraniano a aceitar os Acordos de Minsk e garantir as eleições em Donbass, mesmo que a Rússia interferisse por meio da coerção. Não é de se estranhar que haja uma dificuldade nas negociações posto que a Ucrânia está sendo efetivamente requisitada a perder voluntariamente ainda mais parte do seu próprio território ao seu vizinho permanentemente imperialista.

Firmados em 2014 e 2015, os Acordos de Minsk buscam encerrar com o conflito civil por ora congelado no leste-ucraniano, onde milícias pró-Rússia controlam grande parte da área nas províncias de Donetsk e Lugansk — já declaradas repúblicas populares autônomas e inspirados pela anexação russa da Crimeia no início de 2014.  

Enquanto países do ocidente esvaziam suas embaixadas e apontam uma possível invasão, vale destacar haver uma boa dose de ceticismo sobre o risco de uma invasão. Este artigo do analista de defesa russo Mikhail Khodarenok, por exemplo, sustenta os diversos impasses para um ataque militar rápido — não só a despeito de soldados e equipamentos, mas também à disposição da população civil ucraniana a resistir um invasor das quais eles desprezam.  

Promessas da Rússia

Provavelmente, a postura beligerante de Putin e a realização de exercícios militares massivos é somente uma tentativa de pressionar a Ucrânia e seus aliados do Ocidente a  concessões inaceitáveis.

O mesmo vale para alguns movimentos em política interna. Nesta terça-feira (15/2), deputados russos apoiaram uma resolução para solicitar que o presidente Vladimir Putin reconheça às duas regiões separatistas da Ucrânia como “repúblicas populares”, imediatamente. A medida, aprovada por ampla maioria, foi condenada pelo governo ucraniano, pela União Europeia (UE) e pela Otan. 

Caso Putin apoie a resolução, Moscou fundamentalmente cederia a essas regiões o reconhecimento diplomático e partiria a relacionar-se com elas como Estados independentes da Ucrânia. 

Se aprovada, a medida deve deteriorar ainda mais as relações russo-ucranianas, que já ameaçam deflagrar uma guerra, caso o governo Putin resolva invadir o país vizinho.

Lucas Guimarães

Internacionalista e cursando MBA em Gestão de Negócios. Atualmente, trabalha na consultoria ULTRAMARES NEGÓCIOS INTERNACIONAIS e integra o grupo internacional Students for Liberty Brazil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sinais eletromagnéticos no cérebro
Política

A “Síndrome de Havana” é uma agressão russa ou outra teoria da conspiração da mídia?

Na noite de domingo, o programa 60 Minutes da CBS publicou um segmento sobre a série de episódios médicos misteriosos sofridos por oficiais de inteligência dos Estados Unidos e funcionários do governo que receberam o apelido de “Síndrome de Havana”. Por quase uma década, as autoridades e suas famílias relataram ouvir sons repentinos de zumbidos […]

Leia Mais
Lula Macron Urânio
Política

Governo Lula assina acordo com a França para explorar urânio no Brasil

Representantes dos governos brasileiro e francês assinaram nesta quinta-feira (28), em Brasília, um acordo que prevê colaboração para geração de energia nuclear. Segundo reportagem da CNN, um dos destaques do texto do acordo é um entendimento para a exploração de reservas de urânio no Brasil. O acordo é de grande interesse para o governo francês, […]

Leia Mais
Lula e Maduro
Política

De forma inesperada, governo Lula endurece o tom contra governo Maduro na Venezuela

De forma inesperada, O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) endureceu o tom com o governo venezuelano de Nicolás Maduro, tradicional aliado das gestões petistas. A repreensão do governo foi feita por meio de uma nota divulgada na última terça-feira (26/3), pelo Itamaraty, onde foi manifestada uma preocupação com o andamento das eleições […]

Leia Mais