Já é 8 de janeiro na Venezuela?

Pelo visto, já é “8 de janeiro” na Venezuela, onde o resultado oficial das eleições na Venezuela não foi bem aceito por grande parte dos venezuelanos. Grande parte da população inclusive está acusando o governo do ditador Nicolás Maduro de fraudar as urnas. Acho que já vimos essa história aqui pelo Brasil…

Enquanto isso, a oposição afirma que a apuração dos votos mostra que Maduro, na verdade, perdeu a eleição para Edmundo González Urrutia (da Frente Democrática Unitária, partido de centro-direita). Maduro, por sua vez, afirma que irá divulgar as atas da eleição e diz que a oposição está alinhada a interesses americanos que querem manter controle sobre a Venezuela.

Fraude nas urnas?

Após o anúncio de Maduro como vitorioso nas eleições feito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a oposição acusou Maduro de ter fraudado as urnas, afirmando que adversários do atual presidente tiveram acesso a 40% das atas eleitorais que mostrariam a vitória de González. Com isso, Corina Machado pediu uma medida das Forças Armadas.

A expectativa é de que a CNE publique todas as atas com os resultados eleitorais por urna. Com isso, seria possível verificar se as atas em poder do conselho são as mesmas impressas na hora da votação e foram distribuídas aos fiscais da oposição ou aos observadores nacionais e internacionais.

Segundo a oposição, a repressão política por parte do governo de Maduro tem aumentado desde o final de semana, quando grande parte da população reagiu indignada com o resultado da eleição, acreditando se tratar de uma fraude eleitoral. Um vídeo publicado nas redes sociais mostrou agentes de segurança do governo prendendo em Caracas o deputado Freddy Superlano, líder do partido Vontade Popular.

Venezuela em chamas

Desde o anúncio da vitória (bastante duvidosa) de Nicolás Maduro, protestos de cidadãos venezuelanos indignados vêm estourando no país. Dentre as formas de manifestação estão panelaços, tomada das ruas e até mesmo incêndios em estações policiais.

Manifestantes entram em confronto com a polícia na Venezuela durante protesto contra a reeleição de Maduro | Foto: YURI CORTEZ/AFP

Em meio aos protestos, vários manifestantes ficaram machucados e muitos, havendo até mesmo mortes. Segundo a ONG (Organização Não Governamental) Foro Penal, ao menos 6 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas. Outras 132 foram presas.

Durante os protestos, os manifestantes chegaram até mesmo a derrubar a estátua de Hugo Chávez, antigo ditador da Venezuela e mentor de Maduro.

Estátua de Hugo Chávez em Falcón é derrubada durante protestos | Reprodução via La República

O gigante venezuelano acordou?

O clima de revolta mostra bem o nível de insatisfação da população venezuelana contra o atual ditador. Parece que grande parte da população já não está mais disposta a suportar a pobreza causada pelas políticas socialistas destrutivas de Maduro, bem como sua repressão totalitária.

Diferente dos bolsonaristas que se contentaram em invadir o Palácio dos Três Poderes e acampar em frente aos quartéis, os venezuelanos indignados fizeram questão de mostrar para Maduro e para o mundo inteiro que já não o toleram mais como seu governante.

Influência estrangeira?

Como justificativa para sua perseguição à oposição e a dura repressão da polícia contra os manifestantes, o ditador Maduro acusa a resistência ao seu governo de ser fomentada pelo imperialismo americano e outros grupos de interesses associados.

De fato, think tanks de tendência neoconservadora podem estar se aproveitando da justa indignação popular para incentivar a população a eleger algum presidente fantoche dos EUA. No entanto, o fato é que grande parte da população venezuelana já não tolera mais a ditadura socialista de Maduro.

Eles não precisam de think tanks alinhadas ao imperialismo americano para despertar indignação por algo que já sentem na pele.

Maduro alega que o principal motivo para os protestos contra sua eleição suspeita é a influência estrangeira

A ilusão da democracia

Sim, a democracia é uma ilusão (os acontecimentos recentes na Venezuela são uma prova disso) e a população continua iludida com a ideia de que basta colocar a “pessoa certa” e tudo irá “se resolver”. E isso é verdade, mesmo diante do fato de que o provável vencedor da eleição seja “menos pior” em comparação ao Maduro.

A democracia ainda carrega todos os seus problemas inerentes.

De todo modo, o fato de grande parte dos venezuelanos rejeitar Maduro é um sinal de que muitos estão reconhecendo os males do totalitarismo socialista. Se venezuelanos realmente quiserem ser livres (inclusive da provável “tutela” do governo dos EUA), deverão abraçar a liberdade total e rejeitar qualquer forma de estado.

Paralelos com o Brasil

É impossível não perceber paralelos entre o atual caso da Venezuela e o das eleições presidenciais brasileiras do ano passado. Ambos os casos foram marcados pela indignação de uma população que se sentiu traída e enganada, convicta de que a vitória do opositor foi ganha de forma fraudulenta.

Mas enquanto manifestantes brasileiros se contentaram em clamar às Forças Armadas que “fizessem alguma coisa”, venezuelanos estão indo além, chegando até mesmo a confrontar policiais nas ruas. Óbvio que não acredito que isso seja a melhor forma de desobediência civil. A população simplesmente ignorar o governo de Maduro e seguir com suas vidas seria muito melhor e mais seguro.

No entanto, isso serve de termômetro para vermos o nível de indignação com a ditadura de Maduro.

Apesar dos paralelos entre as manifestações do dia 8 em Brasília, os protestos venezuelanos se mostram muito mais intimidadores, chegando até mesmo a confrontar as forças policiais, braço forte de qualquer estado

Outro paralelo que é possível de ser feito entre a Venezuela e o Brasil é a suspeita de aliança entre o judiciário e o governo vigente. Enquanto no Brasil isso é por hora uma suspeita (porém bem embasada), no caso da Venezuela isso já é mais do que evidente.

E é por esse motivo que diversas figuras do mainstream político brasileiro temem que a população brasileira e demais países comecem a fazer comparações entre o judiciário venezuelano e o brasileiro.

Alguma coisa têm aí.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Política

A defesa do estado é que é uma bobagem, Lula. Seja ele mínimo ou máximo

Na última sexta-feira, o presidente Lula (PT) afirmou que é preciso acabar com a ideia de estado mínimo, que o petista afirmou ser uma “bobagem”. A fala do presidente foi feita durante a inauguração de um centro oncológico em Porto Alegre, na última sexta-feira. Em tom de crítica àqueles que defendem o estado mínimo, Lula […]

Leia Mais
Política

Em 2016, Alexandre de Moraes havia chamado Lula de “ladrão” e “corrupto”

Com a polêmica exposta pelo jornalista Glenn Greenwald e pelo jornal Folha de SP sobre Moraes, não faltaram esquerdistas, principalmente petistas, que não defendessem o ministro. O argumento é de que ele estava agindo dentro de sua área de competência em “nome da democracia”. E não é para menos. Nos últimos anos, as ações de […]

Leia Mais
Política

Quer ajudar o turismo no Brasil, Lula? Então deixe seus 9 dedos longe dele!

Por meio do Decreto nº 12.136, assinado pelo presidente Lula, o governo federal pretende tornar o Brasil o país que mais recebe turistas na América do Sul até 2027. Segundo o governo, o objetivo seria tornar o país em um “vetor de desenvolvimento sustentável e gerador de trabalho e renda para os cidadãos brasileiros.” No […]

Leia Mais