O homem que previu o ataque do governo da Croácia à Liberland

Liberland

Na última quinta-feira, a República Livre de Liberland sofreu um ataque por parte do governo da Croácia, onde ocorreram desapropriações de terras e residências, além de prisões de alguns moradores do local. O ataque foi realizado por uma agência de segurança privada à mando do governo croata, que alegou estar agindo em “nome das florestas croatas”.

O ataque é mais um caso de tentativa de uma comunidade libertária frustrada. No entanto, um autor libertário já havia alertado para os perigos que tais comunidades poderiam sofrer. Seu nome era Samuel Edward Konkin III.

Os perigos do anarco-sionismo

Em seu artigo ‘Anarco-Sionismo‘, Konkin apresenta as várias tentativas frustradas de comunidades libertárias visíveis. Ele comenta que “desde primeiros dias da influência de Ayn Rand sobre o Movimento Libertário, ativistas frustrados desistiram de seus esforços para reformar ou se revoltar contra o Estado americano para buscar a Ravina prometida (comunidade )

Tal fenômeno foi chamado por Konkin de “anarco-sionismo”, onde libertários se juntam em um determinado território e tentam formar uma comunidade totalmente independente do estado. Em seu artigo, Konkin analisa os vários exemplos de tentativas do tipo e de como não demorou muito até que o estado interferisse e acabasse com tudo. Se quiser conferir a análise que Konkin faz de cada um desses projetos, só ler o artigo clicando aqui.

No fim, Konkin conclui que todos participantes de tais projetos pecaram na ingenuidade de não terem previsto o quanto eram um alvo fácil para o Leviatã. Afinal, você está declarando abertamente para o estado que não irá mais permitir que ele imponha sua vontade nem sua tributação sobre as pessoas e o território onde você reside. E não dá pra esperar que o crime institucionalizado e seus associados assistam à isso sem fazer nada, já que vivem da expropriação d aqueles que ele governa.

E como o próprio Konkin diz:

“O vilão de todas essas peças tem sido o Estado — sempre pronto para agir contra a abertura de uma sociedade livre em qualquer lugar. Mas às vezes, querido Brutus, não devemos olhar para as estrelas, mas para nós mesmos. Por que a intervenção do Estado não foi assumida desde o início? Afinal, eram libertários liderando e organizando esses planos. Não foi a própria frustração com a onipresença do Estado que os levou a medidas desesperadas? Por que eles deveriam acreditar que a própria instituição disposta a acompanhá-los para casa, em seus bolsos e quartos, de repente ficaria “com as mãos de fora” porque eles cruzaram alguma linha imaginária em um globo?”

Talvez sociedades do tipo fossem viáveis em um cenário onde tivessem meios suficientes para resistir a qualquer ataque estatal. Mas esse nunca foi o caso de Liberland ou de qualquer iniciativa do tipo que a antecedeu. Libertários precisam ser razoáveis em relação ao tipo de estratégia que querem adotar para alcançar a liberdade e agir de acordo com o que é possível no momento. Alguém poderia afirmar que o acabei de dizer é apenas o óbvio. Mas ao que parece, esse “óbvio” infelizmente anda sendo bastante ignorado.

Há um caminho melhor?

Se uma comunidade libertária visível e automanifesta é inviável por ser um alvo fácil do estado, isso por si só anularia a possibilidade de uma experiência libertária aqui e agora? Eu pessoalmente acredito que não. Acredito que mesmo que seja difícil e desafiador, uma experiência libertária aqui e agora ainda é algo viável e algo pelo qual vale a pena lutar.

E acredito que Konkin, com sua ideia de Contraeconomia, nos deu um norte de como fazer isso. Segundo Konkin, a Contraeconomia (abreviação para Economia Contra-Estabileshiment) é toda atividade pacífica proibida pelo estado. Sendo assim, toda vez que você pratica uma atividade pacífica proibida pelo estado, como pirataria, contrabando, evasão fiscal, etc, você está praticando a Contraeconomia.

A proposta de Konkin é a de que cada indivíduo pratique o máximo de atividades deste tipo enquanto evita ser flagrado pelo estado. Isso mina o poder do estado na medida em que você realiza o que quer sem ser impedido por ele. Quanto mais Contraeconomia você pratica, mais livre do estado você se torna.

E tudo isso, é claro, agindo da forma mais discreta possível. A discrição é uma parte importante e fundamental na estratégia contraeconômica de Konkin. O autor acredita que se cada vez mais pessoas praticarem a Contraeconomia, cada vez mais o poder do estado será reduzido, a ponto de quem sabe em algum futuro ele deixar de existir.

No lugar de uma comunidade visível e automanifesta como Liberland e outras experiências similares, acredito que uma boa alternativa para os libertários evitarem serem um alvo do estado enquanto tentam construir experiências livres seria fazer isso da forma mais discreta possível. E como já dito, a estratégia da Contraeconomia de Konkin é o caminho para isso.

Isso pode ser feito por meio de trocas comerciais e ajuda mútua realizadas sem o conhecimento do estado. Principalmente as atividades pacíficas proibidas por ele. E isso se torna mais viável ainda se tais pessoas morarem o mais próximo possível uma das outras. Isso já resolveria a questão da logística, que é um verdadeiro Calcanhar de Aquiles no que tange à Contraeconomia.

Além disso, tais transações comerciais podem ser realizadas fazendo uso do Bitcoin como moeda, de preferência utilizando métodos que tornem tais transações irrastreáveis para o estado.

É possível imaginar uma série de soluções na qual a Contraeconomia realizada de forma discreta e anônima pode nos ajudar a evitar mais ainda o estado em nossas vidas. Nesse artigo apenas quis apresentar uma solução possível e viável como alternativa a tentativas frustradas similares à Liberland. Sem falar que esse site, às vstas da vigilância estatal, não é um lugar seguro e adequado para tratar de exposições pormenorizadas de aplicações da Contraeconomia.

O protocolo de mensagens instantâneas Matrix forneceria um ambiente muito mais seguro para isso. Aconselho a ler nosso guia de como usá-lo clicando aqui.

Uma forma de organização que pode ser útil para tais tipos de iniciativas contraeconômicas seriam as DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas), que seriam formas de organização e gestão de projetos baseados em blockchain. Se quiser saber mais sobre o que são DAOs, clique aqui.

A Gazeta Libertária inclusive, também faz parte de uma DAO, o Universidade Libertária, que você pode conhecer melhor clicando aqui e vendo todos os projetos envolvidos. Caso tenha interesse em participar desta mesma missão que o Universo Libertário possui de levar a mensagem da liberdade para o maior número de pessoas, entre em nosso servidor no Discord clicando aqui. Será mais que bem vindo!

Desde já, espero que o leitor tenha entendido que há meios possíveis de trazer mais liberdade em nossa vida frente ao estado aqui e agora. Mas já deixo claro de antemão que não é um caminho fácil. Nunca será. Mas acredite, essa é uma luta que vale à pena ser travada.

2 respostas para “O homem que previu o ataque do governo da Croácia à Liberland”

  1. Avatar de Nikus
    Nikus

    Sempre estive receoso quanto à esse Liberland. Qual é o sentido em criar uma “representação internacional” para negociar sua independência com outros Estados se Liberland não é um Estado? Se um Estado vizinho qualquer decidisse massacrar todos os cidadãos dê lá do dia para à noite haveria apenas manchetes na midia internacional sobre como um bando de iludidos decidiram viver de forma independente do Estado e se deram mal.

    1. Avatar de Gancap
      Gancap

      o erro é não terem segurança armada para protege-los do Estado vizinho, como mercenários, milícias ou policia, claro, todos de iniciativa privada.

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2 thoughts on “O homem que previu o ataque do governo da Croácia à Liberland

  1. Sempre estive receoso quanto à esse Liberland. Qual é o sentido em criar uma “representação internacional” para negociar sua independência com outros Estados se Liberland não é um Estado? Se um Estado vizinho qualquer decidisse massacrar todos os cidadãos dê lá do dia para à noite haveria apenas manchetes na midia internacional sobre como um bando de iludidos decidiram viver de forma independente do Estado e se deram mal.

    1. o erro é não terem segurança armada para protege-los do Estado vizinho, como mercenários, milícias ou policia, claro, todos de iniciativa privada.

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