Em uma madrugada de novembro de 1953, Frank Olson se jogava da janela de seu quarto de hotel, atormentado e depressivo. Olson era um trabalhador civil da inteligência americana. Dias antes, sem aviso e sem consentimento, foi utilizado na série de experimentos coletivamente conhecidos como MKULTRA.
O coletivo de 149 projetos sob a denominação MKULTRA designa uma série de experimentos realizados pelos braços das forças armadas e agências de inteligência americanas durante a Guerra Fria. Utilizando como justificativa a defesa contra capacidades inimigas e o medo de ficar para trás no desenvolvimento de técnicas e tecnologias relacionadas, os americanos iniciaram estudos para desenvolver métodos de controle da mente humana para serem utilizados em casos de captura de agentes ou extração de informações de suspeitos e alvos.
Os estudos envolviam animais e humanos. Para atingir o objetivo de modificação comportamental e lavagem cerebral, foram empregados tratamentos de choque, uso de drogas e substâncias administradas secretamente nos indivíduos, bem como o uso de hipnose. Estudos foram realizados para a criação de soros da verdade. Meios de transmissão oculta foram estudados, como a possibilidade de disseminar toxinas, substâncias ou patógenos pelo ar, em forma de aerossol.
Instituições de saúde, indústria farmacêutica, presídios e universidade foram utilizados, sabidamente ou não, para avançar os estudos necessários ao sucesso dos projetos. Em um centro de detenção para viciados, por exemplo, voluntários eram selecionados para a administração de drogas alucinógenas. Como recompensa, recebiam a droga para a qual tinham dependência.
Foram estudadas formas de geração de concussões cerebrais e subsequente amnésia por meio de ondas propagadas pelo ar, sem deixar vestígios físicos no alvo. Para a secreta administração de substâncias aos alvos escolhidos, foram estudadas técnicas utilizadas por mágicos e ilusionistas.
Nos testes dos efeitos de substâncias em alvos sem conhecimento de sua administração, indivíduos eram selecionados em contexto urbano, com o uso de prostitutas para atrair clientes posteriormente drogados e estudados por agentes da CIA.
Foi durante uma confraternização que Frank Olson, um funcionário civil da inteligência, recebeu uma dose de 70 microgramas de LSD escondido em uma garrafa de licor. Após o experimento, Olson começou a apresentar sintomas de paranoia e esquizofrenia. Dias depois, antes de iniciar seu tratamento psiquiátrico, se jogou da janela do décimo andar. Suspeita-se ainda que, como demonstrava seu descontentamento, mas sabia demais, tendo muitas vezes testemunhado a tortura perpetrada pelos agentes de segurança, como seções de testes e interrogatórios de prisioneiros que os levavam a uma morte brutal, seria uma ameaça em potencial caso futuramente revelasse o que havia testemunhado.
Os testes não se limitaram aos Estados Unidos, sendo também realizados na Europa e no oriente em suspeitos de espionagem ou de tráfico de drogas. Como meio de persuasão, como não sabiam da administração da substância, as vítimas eram ameaçadas com a extensão ou perpetuação do estado mental que sentiam.
No Canadá, pacientes admitidos em instituições de saúde eram, sem seu conhecimento, drogados, colocados em coma induzido e submetidos a tratamentos severos de eletrochoque. Fitas com frases gravadas eram colocadas ao lado dos leitos. Lentamente, as memórias eram suprimidas e novos comportamentos eram induzidos.
Os experimentos realizados em indivíduos não voluntários desestruturaram e destruíram não apenas as vítimas do “tratamento”, mas suas famílias. Pacientes internados com problemas simples recebiam alta sem mais serem capazes de reconhecer seus familiares ou de viver em sociedade.
Outros objetivos conhecidos dos projetos foram o estudo de métodos capazes de produzir paralisia física, distorções dos sentidos, fraqueza, incapacidade de realizar atividades e substâncias que incentivariam pensamento ilógico e impulsividade, utilizados para desmoralizar alvos em público.
O verdadeiro escopo do programa não é conhecido, nem nunca será, devido à destruição da maior parte de seus arquivos em 1973 como consequência do maior escrutínio na era pós Watergate.
– United States senate joint hearing before the select committee on intelligence and the subcommittee on health and scientific research of the committee on human resources – Project MKULTRA, the CIA’s program of research in behavioral modification, 1977.
– Documentário Real Stories – CIA Secret Experiments.
– Documentários produzidos pela The Fifth Estate sobre o projeto MKULTRA no Canadá.