Meu amigo Cristiano Mineiro chamou minha atenção para um fato interessante que quase passou despercebido: a cédula de 1 real, especialmente as da primeira série emitida logo após o Plano Real, está prestes a sair de circulação. Segundo o Banco Central, essa decisão se deve ao desgaste físico das notas ao longo dos anos e à ampla falsificação. No entanto, acredito que a verdadeira causa desse desgaste acelerado seja a inflação persistente, que, longe de ser um fenômeno natural ou inevitável, é resultado direto das políticas monetárias equivocadas.

Segundo Henry Hazzlit, a inflação é o resultado de uma expansão artificial da oferta monetária pelo Estado, que, ao aumentar a quantidade de dinheiro em circulação sem um correspondente aumento na produção de bens e serviços, inevitavelmente leva à perda do poder de compra da moeda. O caso da cédula de 1 real é emblemático desse processo: a moeda, introduzida em 1994 como parte de um esforço para estabilizar a economia brasileira, foi rapidamente corroída pelo mesmo mal que destruiu suas antecessoras — a inflação.

Fim da nota de 1 Real

Conforme a calculadora de inflação do Banco Central, o poder de compra de uma nota de 1 real de 1994 equivale a aproximadamente R$ 6,70 em 2023. Isso representa um aumento de 569,5% em 27 anos, uma cifra que, por si só, demonstra o fracasso das políticas econômicas em preservar o valor da moeda. Como atestado pela imprensa, as cédulas que serão recolhidas pelos bancos representam cerca de 3% do dinheiro em circulação atualmente. Segundo o BC, ao todo, há 7,6 bilhões de notas das duas famílias do real na economia. Juntas, somam R$ 340 bilhões.

Esse cenário se agravou durante os governos petistas, que adotaram políticas fiscais e monetárias irresponsáveis, contribuindo para a aceleração do processo inflacionário. O governo, na tentativa de financiar seus gastos excessivos e promover suas políticas de redistribuição de renda, optou por expandir a oferta monetária, ignorando os efeitos devastadores que isso teria sobre o poder de compra da população. A inflação, nesse contexto, não é apenas um fenômeno técnico; é um imposto oculto, que corrói silenciosamente a riqueza e a poupança da população, especialmente daqueles que são menos capazes de se proteger contra ela.

Em 2005, a decisão de substituir as cédulas de 1 real por moedas metálicas foi um reflexo da deterioração contínua do valor da moeda. As moedas, sendo mais duráveis, são menos suscetíveis ao desgaste físico, mas isso não resolve o problema fundamental: a contínua desvalorização do real devido à inflação.

Enquanto a cédula de 1 real deixa de circular, o real metálico que a substitui continua a perder valor a cada dia, vítima das mesmas políticas que levaram ao desaparecimento da primeira. A substituição das cédulas por moedas não é uma solução para a inflação; é apenas um paliativo que mascara temporariamente o problema. Portanto, a verdadeira questão aqui não é o desgaste físico das cédulas, mas o desgaste do valor da moeda, que é um sintoma da degradação monetária provocada pelas políticas inflacionárias do governo.

A raiz da inflação que aflige o Brasil

Como Ludwig von Mises argumenta, a inflação é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário, e enquanto o governo continuar a expandir a oferta de dinheiro para financiar seus déficits, a moeda continuará a perder valor e a riqueza dos cidadãos continuará a ser corroída. A história da cédula de 1 real é, portanto, um lembrete da importância de uma política monetária sólida, baseada em princípios de estabilidade e respeito pelo valor da moeda, em vez de políticas que, em última análise, apenas beneficiam o Estado às custas da população.

Enquanto o Brasil não adotar uma política econômica que enfatize a importância de uma moeda estável, a limitação da intervenção estatal na economia e a retirada por completo do poder do Banco Central em emitir a moeda, o ciclo de desvalorização e inflação continuará a se repetir, com consequências desastrosas para o bem-estar econômico da população.

A trajetória da inflação no Brasil

O Brasil, em sua história monetária, é um excelente exemplo das consequências nefastas da intervenção estatal na economia, particularmente no que tange à criação e manipulação de moeda. A história do país é uma crônica de desvalorização, inflação e substituição de moedas, cada qual revelando a falência das políticas governamentais em manter a estabilidade econômica. Desde os tempos coloniais, quando o “réis” foi introduzido como moeda oficial, o Brasil experimentou uma série de mudanças monetárias, não por força das condições de mercado, mas pela mão pesada do Estado, sempre ansioso por financiar seus gastos excessivos através da inflação.

A adoção do cruzeiro em 1942 foi apenas uma das primeiras tentativas de resolver o problema inflacionário criado pelo próprio governo. A partir daí, a história se repetiu com o cruzeiro novo, o cruzado, o cruzado novo e, finalmente, o cruzeiro real, cada uma dessas moedas representando uma nova onda de desvalorização causada pela emissão descontrolada de dinheiro por parte do Estado.

A década de 1980 evidenciou a incapacidade do governo em controlar a destruição monetária que ele próprio causou. Durante esses anos, o Brasil experimentou uma hiperinflação que beirava o absurdo, com taxas anuais ultrapassando os 2.000%. Esse colapso monetário não foi resultado de forças econômicas naturais ou do “capitalismo selvagem”, como muitos poderiam erroneamente alegar, mas sim das políticas inflacionárias do governo no, que insistia em imprimir dinheiro para financiar seus déficits, ignorando as consequências para o poder de compra dos brasileiros.

Em vez de cortar gastos ou reformar suas políticas fiscais, o governo repetidamente recorreu a planos econômicos mirabolantes, como o Plano Cruzado, o Plano Bresser e o Plano Collor, cada um deles fracassando em controlar a inflação e, na verdade, exacerbando o caos econômico.

Chega o Plano Real

Foi apenas em 1994, após anos de devastação econômica, que o governo brasileiro conseguiu, finalmente, colocar em prática um plano que efetivamente controlou a inflação: o Plano Real. Esse plano, diferente dos anteriores, não foi uma simples troca de moeda, mas um conjunto de reformas que incluía uma política fiscal mais rigorosa, um sistema de bandas cambiais e a criação de uma nova moeda, o real.

O sucesso do Plano Real, no entanto, não pode ser atribuído à genialidade dos planejadores estatais, mas sim ao fato de que, pela primeira vez em décadas, o governo decidiu adotar uma abordagem mais próxima do mercado, controlando a oferta monetária e permitindo que os preços se ajustassem de forma mais livre. A cédula de 1 real, introduzida como parte desse plano, simbolizou um novo começo para o Brasil, embora, em última análise, fosse apenas mais um pedaço de papel emitido pelo Estado, sujeito às mesmas pressões inflacionárias que haviam destruído suas antecessoras.

Com isso entendemos desaparecimento da cédula de 1 real é mais um elemento da tragédia da história monetária brasileira: uma história de promessas quebradas, de esperanças frustradas e, acima de tudo, de intervenção estatal. O Plano Real, apesar de seu sucesso inicial, não conseguiu eliminar as forças inflacionárias enraizadas nas práticas governamentais de expansão monetária. A moeda metálica de 1 real, agora em circulação, pode durar mais fisicamente, mas ainda está sujeita às mesmas pressões inflacionárias que destruíram suas predecessoras.

Conclusão

A lição que a história das moedas no Brasil nos ensina é clara: enquanto o Estado tiver o poder de controlar a moeda, a inflação e a destruição do valor monetário são inevitáveis. O desaparecimento das cédulas de 1 real é apenas mais um capítulo dessa longa história de intervenção estatal e suas consequências desastrosas.

Autor: Isaías Lobão

Sobre o autor:

Professor de história e teologia. Casado com Talita, pai da Ana Clara e do Daniel. Presbiteriano. Gosta de pamonha de sal e de escutar músicasdos anos 1970.


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