Em meio à pressão para aumentar o corte de gastos, o presidente Lula vai na contramão e cria mais uma estatal, a Alada. Aprovada pelo Congresso em dezembro, a empresa terá como finalidade explorar o lançamento comercial de foguetes e satélites privados a partir do território nacional.
O intuito do projeto é que a companhia seja subsidiária da NAV Brasil, criada em 2019 para desenvolver sistemas de navegação aérea para venda ao setor privado de aviação. O projeto da Alada também não esclarece quanto custará para manter suas operações nem quantos funcionários demandará, o que torna a operação um tanto nebulosa sobre quanto será necessário para mantê-la.
O governo, por sua vez, afirmou ao Congresso que a estatal poderá contratar pessoal por tempo de até quatro anos para implantar a companhia, além de receber servidores civis e militares de outros órgãos. O deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), um especialista em orçamento público, já sente que a estatal será apenas mais um ralo de dinheiro público. Durante uma audiência na Câmara no final de novembro, o deputado declarou que já sente um cheiro de prejuízo.
Na esteira da corrida espacial?
O objetivo do governo Lula com a Alada é abrir o Brasil para o mercado global, os serviços de lançamento de foguetes e satélites a partir da base no Maranhão. O centro já realiza missões em cooperação com países como China, Estados Unidos e Coreia do Sul.
O governo Lula afirma que, com a nova estatal, ele pretende abocanhar um naco de um mercado aeroespacial, que expandiu nos últimos anos, na esteira de megaempresas como a SpaceX, de Elon Musk, e a Blue Origin, de Jeff Bezos. A chance de atrair investimentos internacionais para turbinar as pesquisas espaciais é o que mais agrada aos militares. Além de Alcântara, a Força Aérea Brasileira comanda também a base da Barreira do Inferno, em Parnamirim (RN).
A promessa de que tal iniciativa atrairá recursos privados é um tanto difícil de acreditar.
Outro fracasso?
Essa não seria a primeira vez que Lula criaria uma estatal com tal intuito, prometendo progresso no ramo aeroespacial. Em 2006, o petista havia criado a Alcântara Cyclone Space (ACS), uma empresa pública binacional em parceria com a Ucrânia. A iniciativa visava lançar satélites internacionais a partir do Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão, usando foguetes de tecnologia do país do leste europeu.
O projeto, no entanto, foi um fracasso. Devido à crise econômica dos dois lados do oceano, a falta de aportes estrangeiros e a queda de braço com os Estados Unidos em tratados de cooperação tecnológica enterraram a ACS, extinta em 2015 com um saldo negativo de quase meio bilhão de reais e nenhum lançamento espacial registrado.
E diante da ineficiência estatal, ainda mais com o governo em meio a uma dívida pública enorme somada a uma desaceleração econômica cada vez mais a vista, não é difícil imaginar que a nova estatal espacial não irá muito longe.
O conteúdo deste artigo está livre de restrições de direitos autorais e de direitos conexos. Sinta-se livre para copiar, modificar, distribuir e executar o trabalho, mesmo para fins comerciais, tudo sem pedir permissão.