No último domingo, dia 26 de setembro de 2022, tivemos mais uma vez um caso explícito de violência estimulada pela paixão na política. Um jovem, de 15 anos, militante do grupo político MBL – Movimento Brasil Livre -, foi agredido na Av. Paulista por questionar Guilherme Boulos, líder de um movimento político de oposição, o PSOL – Partido Socialismo e Liberdade. Diversos vídeos, compartilhados nas redes sociais, mostram militantes – a favor de Boulos – agredindo o jovem de viés político contrário. Tal episódio nos permite refletir sobre algo que devemos lidar enquanto vivermos: nossas paixões.
Saindo da fofoca política que nos cerca todos os dias e adentrando no campo das motivações que nos levam à tomada de decisão, teremos uma visão mais ampla do todo.
A Luta Que Nunca Vencemos
Enquanto seres humanos, somos dotados de paixões. Tais paixões nos estimulam a agir. A paixão em si, não é ruim. O que a torna prejudicial repousa na submissão da nossa vontade a ela. A paixão é constituída de impulsos, e estes são apenas forças motoras do nosso corpo, não possuem racionalidade. A capacidade de raciocinar, procurando agir da melhor forma possível, requer o domínio das paixões. Quem controla seus impulsos tende a ser menos influenciado de modo repentino.
Mantenha a Vigilância
Para termos as paixões sob nosso domínio é preciso vigilância. Somos passíveis de agirmos de modo impensado graças às provocações que sofremos. Tais provocações surgem inicialmente em nossa mente, nosso pensamento é nosso pior inimigo e devemos vencê-lo dia após dia. Quando pensamos apaixonadamente somos presas do nosso eu. Julgar criteriosamente o que pensamos é tarefa árdua, mas necessária. Num segundo momento, somos provocados, de diversas maneiras, pelo ambiente externo, mas o que vemos e o que ouvimos constituem quase a totalidade das provocações sofridas fora da nossa mente. O Tato, o paladar e o olfato também são janelas de provocações, mas em nível menor, e por isso, deixarei-as de fora no episódio que tratamos agora.
Leitura do Ambiente
Aquilo que vemos e ouvimos depende do ambiente cujas informações visuais e auditivas estão sendo propagadas. No ambiente virtual, a fuga, quando necessária, é relativamente simples. Basta fechar o aplicativo, sair do site, bloquear comentários e usuários indesejáveis. Já no ambiente físico, a situação é um pouco mais complicada. Não é possível tirar o áudio da pessoa que está gritando ao nosso lado. Se vemos algo que nos desagrada na rua, nem sempre conseguimos desviar o olhar, e fechar os olhos é uma atitude ainda menos provável. Portanto, as provocações no mundo físico tendem a ser mais fortes e diretas do que no mundo virtual. Dentro dessa realidade, devemos evitar lugares e situações em que provocações visuais e auditivas nos estimulem a confrontos.
Se há protestos com gritos e palavras de ordem, opostos aos nossos valores, é melhor ficarmos o mais distante possível desse lugar, pois as paixões são amplificadas quando indivíduos com objetivos comuns se reúnem – as torcidas nos estádios de futebol são um bom exemplo disso. Ninguém muda a opinião do outro em situações desse tipo. O PNA – princípio da não agressão – envolve a inteligência de não se meter em movimentos alheios.
A agressão, neste caso, por militantes de esquerda, não foi realizada, exclusivamente, devido a visão de mundo que tais sujeitos possuem, mas pelas paixões descontroladas, e tais paixões podem ser manifestas em qualquer grupo, seja ele político ou não.
Esforço Consciente
O jovem do MBL não deveria ser agredido, mas ele também não deveria ficar exposto a manifestações hostis a sua perspectiva política. A paixão é frágil demais para resistir à provocação, e a racionalidade não a domina por completo.