No último sábado, uma jovem estudante da universidade Azad de Teerã, no Irã, foi presa após retirar sua roupa e ficar apenas com roupas íntimas. Segundo ativistas dos direitos humanos no Irã, a jovem, chamada Ahoo Daryaei, retirou sua roupa em protesto contra a imposição do hijab no país, uma roupa obrigatória no país que cobre todo o corpo das mulheres.

Segundo o site iraniano Iran Wire, ativistas femininas e estudantis afirmaram que, segundo testemunhas, a jovem havia sido obrigada a vestir o hijab, veste feminina tradicional no Irã e obrigatória em vários lugares do país. Após ser agredida e ter sua roupa rasgada, a jovem retirou sua roupa em sinal de protesto, ficando apenas de sutiã e calcinha.

Abaixo, um vídeo mostrando a jovem após retirar o hijab:

Após isso, policiais foram acionados e levaram a jovem em um carro. Segundo as autoridades iranianas, a jovem sofria de problemas psicológicos e estaria internada. No entanto, outras pessoas apresentam uma versão diferente da história, onde a jovem teria sido agredida e o governo iraniano estaria tentando esconder a verdade sobre o caso. Até o momento, não há mais informações sobre o caso.

De toda forma, o entendimento de que Ahoo Daryaei tenha retirado sua roupa em protesto a tornou um símboko da resistência contra a Polícia da Moralidade e do governo iraniano, um dos mais tirânicos ao nível doméstico do mundo.

Não seria a primeira vez

Se as acusações dos ativistas forem verdadeiras, esse não seria o primeiro caso do tipo. Em 2022, uma jovem curda chamada Mahsa Amini foi presa no Irã pela Polícia da Moralidade apenas por deixar uma mecha de fora. A jovem faleceu um tempo depois. Enquanto o governo iraniano alegava que ela havia morrido devido a alguma doença, seus pais suspeitam que ela tenha sido espancada até a morte.

Dado o autoritarismo do governo iraniano e a repreensão contra qualquer oposição, não é muito difícil acreditar que as suspeitas dos pais de Mahsa estejam certas e que o governo tenha feito de tudo para abafar o caso. O que não adiantou muito, já que a morte “misteriosa” da jovem estourou diversos protestos no país.

Dentre os que protestaram, estava o rapper iraniano Toomaj Salehi, que foi preso sob a acusação de “incitar pessoas à violência”, enquanto ele apenas protestou pacificamente, inclusive nas letras de suas músicas. Salehi chegou a ser condenado à morte por enforcamento, mas por sorte teve sua condenação anulada.

O rapper iraniano Toomaj Salehi e Mahsa Amini – Reprodução/Instagram/toomajofficial e Divulgação/YouTube/PÚBLICO

A quem cabe decidir o que vestir?

Como o libertarianismo deixa muito claro, a decisão sobre o que cada um faz com seu próprio corpo cabe unicamente a ele, ou ao proprietário do espaço onde ele se encontrar. Mas mesmo em um espaço onde existem regras que proíbem alguém de se vestir de uma determinada forma, o máximo que se poderia fazer seria expulsar tal pessoa ou fazê-la pagar uma multa prevista.

De modo algum, tratar alguém com violência seria justificável. E no caso do governo iraniano, menos ainda. Nenhum estado é legítimo e não possui reivindicação legítima sobre os espaços que ocupa e menos ainda sobre a decisão de como cada cidadão deve se vestir.

Desejo com sinceridade que Ahoo Daryaei fique livre em breve, sorte que infelizmente Mahsa Amini não teve.


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