Parece óbvio que, onde quer que mandatos de vacinas, máscaras e lockdowns tenham sido impostos em resposta à covid-19, as elites políticas e da mídia progressistas foram as forças motrizes por trás deles. Isso está claro para nós que estamos vivos hoje, mas vale a pena considerar se os futuros livros de história tentarão apagar a culpa dos progressistas pelos desastres que suas políticas causaram. O argumento que se segue é especulativo, mas as ideologias ruins devem ser submetidas as consequências de sua própria criação, e parece ser da natureza do progressismo tentar escapar da avaliação histórica que lhe é devida.

Não muito tempo atrás, parecia mais provável que as elites progressistas acabassem por declarar o covid-19 como acabado e se anunciassem como salvadores da humanidade. Mas na medida que a pandemia avançou, as rachaduras no regime de desinformação do covid se alargaram para que todos pudessem ver. Os fracassos e a destrutividade de suas políticas estão agora além da negação para pessoas razoáveis, e enquanto for bem conhecido que o progressismo foi a força motriz por trás dessas políticas, este episódio manchará sua reputação e seu dogma central de que os planejadores sociais tecnocráticos com crenças morais “corretas” salvarão a humanidade de si mesma.

Portanto, parece provável que as elites progressistas que arquitetaram e fizeram proselitismo dessas desastrosas políticas de saúde pública começarão a se distanciar dessas ações e, eventualmente, tentarão pintar uma nova história absolvendo sua ideologia dos fracassos atuais. O professor de filosofia Alex Rosenberg argumenta em ‘How History Gets Things Wrong (‘Como A História se Engana’, ainda sem tradução em português) que as histórias narrativas quase sempre erram o “porquê” da história. Porque as narrativas que giram em torno da história, especialmente as populares, geralmente são motivadas por nossas próprias causas morais. Se for verdade, talvez até o “o quê” da história possa ser distorcido pelas mesmas razões.

Como Murray Rothbard demonstra em A Era Progressista, o progressismo americano nasceu desta motivação moral:

O progressismo foi, em grande medida, a culminação do impulso político protestante pietista, o desejo de regular todos os aspectos da vida americana, econômica e moral — mesmo os aspectos mais íntimos e cruciais da vida familiar. Mas foi também uma curiosa aliança de um impulso tecnocrático para a regulamentação governamental, a suposta expressão de “ciência livre de valores” e o impulso religioso pietista de salvar a América – e o mundo – pela coerção estatal…

Seus valores, a própria criação e educação de seus filhos, deveriam ser determinados por seus superiores. A elite espiritual, biológica, política, intelectual e moral governaria, por meio do poder estatal, o caráter e a qualidade da vida familiar americana.

Se os progressistas de hoje são os herdeiros desse senso combinado de superioridade moral e intelectual, então é lógico que daqui para frente eles resistirão amargamente à associação de sua ideologia com as atuais falhas morais e intelectuais que suas políticas ao covid representam. Eles serão moralmente motivados a reformular sua ideologia como estando do “lado certo da história” e a reescrever a mesma, que eventualmente será ensinada àqueles jovens que não viveram os eventos.

Aqueles que se opõem a essa reescrita da história devem, portanto, estar atentos às maneiras pelas quais ela pode ser realizada nas próximas gerações.

Primeiro, os meios de comunicação corporativos e os departamentos de comunicação das agências de saúde pública podem se distanciar cada vez mais de suas próprias políticas ruins. Isso já começou. Eles podem tentar cobrir seu recuo dizendo que “a ciência mudou” ou que a última variante viral garante uma resposta mais leve do governo.

Independentemente do que eles disseram nos últimos dois anos, e com a veemência e censura eles fizeram, eventualmente todos os principais meios de comunicação e agências de saúde pública ficarão registrados como se opondo a novos lockdowns, vacinas ou máscaras. Eles ainda estarão no comando quando a histeria da covid finalmente terminar para sempre, e acabar com essas políticas será sua palavra final oficial. Se eles puderem escolher seu legado, não será o dos anos anteriores em que defenderam essas políticas, mas o de seu ato final de acabar com elas.

Em segundo lugar, por vários anos após o covid, enquanto as pessoas ainda se lembrarem vividamente de quem impulsionou essas políticas, podemos imaginar comentaristas progressistas se referindo a essas elas não como coisas que eles apoiaram, mas como coisas que foram feitas pela “América” ou pela “sociedade”. Este será “um momento de recuperação”, não um momento de culpa. Tais declarações podem nem ser intencionalmente enganosas. É simplesmente mais fácil para a consciência de uma pessoa se referir a um erro como algo que “todos nós fizemos” em vez de algo como “eu defendi”. Intencionalmente ou não, se o peso do discurso público continuar assim, a memória de quem apoiou essas políticas já começará a ficar distorcida.

Terceiro, os primeiros livros didáticos a discutir a era do covid na perspectiva da história, uma história que terá que admitir as consequências desastrosas das políticas que foram implementadas, serão lidos por crianças que ainda não estavam vivas ou eram jovens demais para se lembrar. Esta será a primeira geração a formar uma compreensão da era covid que não a vivenciou.

Embora uma narrativa histórica que não mencione o papel que os progressistas desempenharam na imposição de lockdown, máscaras e vacinas pareçam obviamente errada para aqueles de nós que os vivenciaram, não se destacaria para aqueles que não vivenciaram. E se as mentes estiverem suficientemente suavizadas durante a era imediata pós-covid, em que o discurso público difundirá a culpa, aqueles que viveram a era do covid podem não notar essa omissão nos livros de história de seus filhos ou podem não se importar o suficiente para corrigi-la.

Esses livros de história provavelmente incluirão dois fatos amplos, os quais serão tão verdadeiros quanto enganosos. Primeiro, eles dirão que os lockdowns, os mandados de máscaras e o desenvolvimento da vacina obrigatória começaram durante a presidência republicana de Trump. Em segundo lugar, eles provavelmente poderão dizer que todas essas políticas foram encerradas durante a presidência democrata de Biden. Esses fatos associarão na mente de uma geração o início de tais políticas com um político ligado ao conservadorismo (no qual o libertarianismo será agrupado) e a descontinuidade dessas políticas com um político ligado ao progressismo.

Só o tempo dirá se algo assim realmente ocorrerá, mas a história parece sugerir que provavelmente sim. Quantas pessoas hoje estão cientes de que as experiências passadas dos Estados Unidos em proibição, discriminação étnica e eugenia foram uma vez políticas fervorosas de progressismo? E, de muitas maneiras, já parece ter começado: apenas alguns dias depois que um estudo da Universidade Johns Hopkins descobriu que os lockdowns causavam muito mais danos do que benefícios, o governo Biden afirmou que “não foi pró-lockdown; essa não tem sido sua agenda – a maioria dos bloqueios realmente aconteceu sob o presidente anterior.”

Resistir a essa tendência ideológica de reescrever a história dos erros das políticas de saúde pública de hoje – não como um exercício mesquinho de se gabar dos fracassos dos outros, mas como um meio de ajudar as gerações futuras a evitar o próximo conjunto de ideias progressistas destrutivas – exige que estejamos cientes hoje de como essa reescrita da história pode começar e estar preparado para educar o público sobre o que foi omitido quando isso acontecer.

Acompanhe os furos sobre covid-19, lockdowns e tudo mais aqui.

Artigo escrito por Robert Zumwalt e publicado no site Mises.org. Traduzido e adaptado por Gazeta Libertária.

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