O principal diplomata chinês, Wang Yi, pediu ao Japão e à Coreia do Sul a promoção de uma autonomia estratégica em relação ao ocidente, que ajudem Pequim a revitalizar a Ásia e trabalhem para prosperar de forma mútua.

Wang criticou o ocidente, dizendo que a maioria de seus habitantes é incapaz de distinguir a China do Japão, e estes da Coreia. O diplomata ainda disse que não importa o quão loiro você pinte seu cabelo, você nunca será um ocidental e que é necessário saber onde estão suas raízes comuns asiáticas. Ele acusou potências fora da região de estarem exagerando as diferenças ideológicas para dividir os vizinhos e garantir ganhos geopolíticos. A união dos asiáticos deve recuperar a independência da região e livrá-la da dominação ocidental.

Wang pediu que se mantenha a estabilidade regional, evitando o retorno da mentalidade da Guerra Fria e trabalhando para a libertação da coerção e intimidação estrangeira. Essas declarações, contudo, não são condizentes com a postura tomada pela própria China nos últimos anos.

Impulsionada pelo crescimento econômico derivado de sua abertura de mercado e gigantesca população, o governo federal do país, autodenominado “Partido Comunista Chinês”, vem cada vez mais pressionando seus vizinhos orientais, o que os incentiva recorrer a um poder externo suficientemente poderoso para contrabalançar a tendência.

A China está construindo ou expandindo ilhas no Mar do Sul, transformando-as em bases militares equipadas com lançadores de mísseis, radares, hangares para jatos e docas para navios de guerra; criando um sistema de defesa para seu território principal e uma forma de projetar seu poder na região. Essas bases, contudo, estão sendo construídas em território chinês não reconhecido, bem como pela invasão de território e soberania de países vizinhos. Para a China, o Mar do Sul é por direito inteiramente seu, sendo apenas mera coincidência a existência de gigantescas reservas de petróleo e gás natural naquele mar. Tensões com o Japã́o também recentemente escalaram pelo interesse na Ilhas Senkaku.

A China está sendo pressionada pelas bases militares americanas no Pacífico, também instaladas em seus países parceiros, como o Japão, bem como as alianças realizadas com países asiáticos para limitar seu crescimento. O país possui armas nucleares, e está expandindo seu arsenal. Também é o principal parceiro comercial da Coreia do Norte, outra potência nuclear que rotineiramente ameaça os americanos e seus aliados no Pacífico. Também disputa o status de autonomia de Taiwan, território politicamente dividido do restante do país pelo deslocamento das forças nacionalistas perdedoras da Revolução Comunista de 1949, expulsas do continente. Ainda, está estreitando laços com a Rússia, se aproveitando das restrições impostas ao país pela guerra na Europa.

Mesmo com uma retórica bonita e esperançosa, no fim, o que foi chamado de “Guerra Fria” no século passado não passou de uma mais poderosa iteração do que vem sendo feito desde que os estados surgiram. A civilização sempre esteve envolta nas diferentes disputas por hegemonia. É comum que, quando, por diversos motivos, um estado a obtenha em alguma região, ou que esteja no caminho para tal, que estados vizinhos, mesmo antes inimigos entre si, se unam para limitar o avanço de uma ameaça comum. Não há nada de novo ou honrado aqui. Se estivessem na mesma posição do que dizem combater, fariam o mesmo que agora condenam.

No jogo da geopolítica não há amigos, apenas aliados temporários. Apenas uma disputa entre os diferentes interesses e ambições dos que buscam perpetuar seu poder, ou incessantemente elevá-lo.

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