A primeira biografia de Adolf Hitler que li foi a obra de John Toland de 1976, Adolf Hitler, que aprendi na faculdade.
Embora eu tenha lido coisas aqui e ali sobre Hitler e os nazistas desde então, nunca mais senti necessidade de estudar seriamente o assunto porque o livro de Toland era tão penetrante e expansivo. (E sejamos francos: o tema é bastante feio e sombrio).
Recentemente, porém, recebi o novo livro do Dr. Rainer Zitelmann, “O Nacional-socialismo de Hitler”, e, quando dei por mim, mais uma vez, estava escavando a mente de Hitler. É um lugar arrepiante para se estar, com certeza, mas uma das vantagens do livro de Zitelmann é que ele dá uma análise incrivelmente perspicaz das ideias de Hitler.
Embora eu ainda não tenha passado completamente pelo livro—2022, foi um ano bastante ocupado — já estou lhe dando dois polegares para cima.
Mesmo que dezenas de milhares de livros tenham sido escritos sobre Hitler, poucos deles parecem sondar seriamente as ideias do Führer. Os autores tendem a focalizar mais em sua personalidade, seus discursos e sua psicologia; as batalhas que ele travou, os erros que cometeu, as características que lhe permitiram seduzir uma nação em sua ascensão ao poder.
Todas essas coisas são dignas de exame, é claro. Mas sempre me pareceu que as ideias que moldaram e impulsionaram Hitler receberam pouca atenção por parte dos historiadores. Não é esse o caso no livro de Zitelmann.
Zitelmann recebeu seu doutorado em filosofia há mais de 35 anos, depois de ter concluído sua tese sobre o Führer-Hitler: A Política de Sedução. Portanto, ele estuda o ditador nazista há bastante tempo, e seus leitores aprendem o que Hitler pensava sobre acontecimentos históricos importantes, os escritores que o influenciaram, e — o que é mais importante — a filosofia que emergiu deles.
Os historiadores continuam discutindo se Hitler era realmente um “socialista” (embora a palavra “socialista” apareça literalmente no Moniker dos nazistas). Entretanto, é inegável que Hitler era um coletivista que via os direitos do indivíduo como subordinados ao Estado. Isso é um forte contraste com a tradição liberal americana/clássica, que sustenta que o Estado existe com o único propósito de proteger os direitos dos indivíduos.
Embora essa observação não seja nova, é uma observação que aparece repetidas vezes no livro de Zitelmann, que explora minuciosamente a Weltanschauung de Hitler (essencialmente, a palavra alemã para cosmovisão ou filosofia).
Um dos melhores exemplos da Weltanschauung de Hitler pode ser encontrado em sua visão de meios e fins. Durante uma conversa com Joseph Goebbels, em 23 de fevereiro de 1937, Hitler se gabou de sua “grande realização”.
“Ensinei o mundo a diferenciar novamente entre os meios e os fins”, disse Hitler ao ministro da propaganda nazista.
O fim, disse Hitler, era a vida da nação, “todo o resto era apenas um meio”.
Não é coincidência que a filosofia de Hitler tenha levado à morte de milhões de pessoas. Uma visão do mundo que subordina os direitos dos indivíduos aos interesses do coletivo é uma receita para o desastre, mesmo que os fins pareçam virtuosos, nobres, ou justos.
Em seu livro Let Freedom Reign, de 1969, o fundador da FEE, Leonard Read, também discutiu os fins e os meios. Um liberal/libertário clássico, Read chegou a uma conclusão oposta à de Hitler, salientando que os meios não podem justificar os fins.
“Objetivos são apenas a esperança de que as coisas venham… Não são uma parte da realidade… da qual podem ser tiradas com segurança as normas para uma conduta correta”. Eles não são mais confiáveis do que marcas de banco, sonhos diurnos ou vôos de fantasia. Muitos dos atos mais monstruosos da história da humanidade foram perpetrados em nome de fazer o bem – em busca de algum objetivo “nobre”. Eles ilustram a falácia de que os fins justificam os meios”.
Não tenho razões para acreditar que Read tenha visto a citação de Hitler, mas ele entendeu que devemos ter cuidado com aqueles que usam meios injustos — força, ameaças, coerção — para atingir seus fins.
A parte assustadora é que Hitler pode ter tido razão em se vangloriar.
O mundo parece operar cada vez mais com fins e não com meios. Ficamos à vontade com o monopólio do Estado sobre a força e a extração da riqueza, presumivelmente porque acreditamos que ele serve a um fim maior (menos pobreza, vidas salvas, mais ordem, uma população mais educada, etc.).
Leonard Read nos diria que este não é o caminho, e ele poderia até nos apontar algumas palavras de sabedoria do escritor Ralph Waldo Emerson, a quem ele muito admirava.
“Causa e efeito, meios e fins, semente e fruto, não podem ser cortados; pois o efeito já floresce na causa, o fim pré-existe nos meios, o fruto na semente”.
Artigo escrito por Jon Milimore, publicado em FEE.org e traduzido e adaptado por @joaquim-gabriel