Escrito por: Hênrido (@HenridoYT)
Revisado por: Pedro Micheletto Palhares (@DevilSSSlayer)
Um dos requisitos para que se alcance um resultado, sendo este uma recompensa pela produção de um bem ou serviço, é o esforço anteriormente realizado. Indivíduos, que almejam alcançar determinados fins, utilizam meios que julgam mais adequados — e menos valorosos que o objetivo final — para atingir esse determinado fim. Os fins e os meios não são parâmetros, ou dados, mas sim resultados do que podemos de chamar de atividade empresarial, que consistirá na criação, descoberta ou tomar como ciência quais os meios e os fins melhor servem ao indivíduo, ao longo da vida. O tempo é o que separa o agente, do seu fim — uma ação, portanto, não pode ser instantânea — representado por uma serie sucessivas de etapas inerentes ao processo de ação. É intuitivo deduzir que, quanto maiores as etapas no cerne da ação, ou seja, maior o tempo que se espera para atingir um fim, no ponto de vista subjetivo, assim como quanto maior o grau de incerteza, o fim que se deseja alcançar terá um valor maior. Se isso fosse falso, optar-se-ia sempre por ações “curto prazistas” e “certeiras”.
É evidente que há o desejo do indivíduo por realizar a ação e atingir um objetivo com menor tempo possível e maior segurança, porém este comportamento muda quando o objetivo final possui um valor maior, fazendo com que o indivíduo mostre a disposição de postergar a realização dos seus objetivos. Ao lado disso, um indivíduo que deseja alcançar mais de um objetivo com igual valor, ele optará pelo qual necessitará realizar menos esforço — realizando um maior lucro. A esta troca de comportamento, denominaremos preferência temporal. É necessário que os bens futuros venham com uma recompensa quando comparados aos bens presentes, caso contrário, o indivíduo optará pelo bem atual, se lhe for maior valorado.
Cada etapa intermediária de cada processo pertencente a ação, é denominada bens de capital. Portanto, o bem de capital é uma das etapas — de uma série sucessivas de etapas — que constitui todo o processo produtivo desenvolvido pelo indivíduo. Logo, por exemplo, ao produzir um automóvel, o chassi é um bem intermediário, um bem que já agrega um determinado valor e que ainda não está apto para o consumo final, mas que será utilizado na produção de um bem — o automóvel — de primeira ordem.
A produção industrial possui, também, etapas. já temos uma leve introdução sobre o que é a estrutura de capital. Simplificando, a produção, no sentido de estrutura de capital, é a sequência de etapas de um bem, desde sua forma bruta — recém descoberto sem haver a mistura do trabalho nela — até o mesmo se tornar um bem de primeira ordem — destinada para o consumo final. Deve-se ter em mente que terra e trabalho são os meios originais de produção. Fatores de produção sem alguma qualificação, trata-se do capital, o que significará considerar todos os fatores pela qual se deriva a entrada em formas de receitas, rendas e juros. Todo bem usados para produzir um bem de consumo — até mesmo os meios originais de produção —, será denominado como bens de produção. Tão logo, o bem de produção que se encontra entre o meio original de produção e os bens de consumo — bens de primeira ordem — , denomina-se produtos intermediários.
Há ao menos três teorias que buscam responder o que causa a imediata variação da estrutura de capital. A primeira das teorias tem o ponto de vista onde as causas das principais variações da produção industrial estão nas mudanças das vontades dos indivíduos em aumentar esforços. A segunda teoria, explica as variações da produção pela simples mudança dos fatores de produção. Na terceira teoria, assume-se o equilíbrio, e isso tem uma vasta vantagem, mas, partindo disso, deve-se prestar mais atenção para as causas das mudanças — aqui refere-se às mudanças nos métodos de utilizar os recursos existentes — na produção industrial onde a importância deste, pode vir a ser subestimado. A produção industrial como um todo também aumenta, ou reduz, em grande parte por conta das mudanças do modo de uso dos recursos atuais existentes, porém, as mudanças na produção não se dão pelo progresso do conhecimento técnico, mas sim pela organização na produção para que os recursos disponíveis sejam destinados a satisfação das necessidades futuras. Portanto, nessa forma de organização da produção, alongando o processo de produção seremos capazes de obter maior quantidade dos bens de consumo dada a quantidade de meios de produção originais. É necessário salientar que devemos aumentar a produção de bens de consumo dado a uma quantidade dos meios originais de produção, considerando que tenhamos vontade de esperar o suficiente pelo produto. O que deve ter nossa atenção é que, qualquer mudança no método de produção de qualquer duração para um método que dure mais ou menos implica em mudanças severas na organização da produção ou, no campo da precisão, estrutura de produção.
No triângulo Hayekiano, os valores dos meios originais de produção são expressos pela projeção horizontal da hipotenusa, onde a linha vertical representa o tempo, dividido em etapas, e a inclinação da linha [1], no decorrer do tempo, significa os meios originais de produção total que se mostram se expandem continuamente. A área total do triângulo nos mostra as etapas onde muitos dos meios originais de produção passaram, tal como os bens intermediários, antes de se tornar um bem de primeira ordem — bem de consumo. A cada etapa que se conclui, o bem, antes de se tornar bem de consumo, torna-se mais valorado, logo, a linha vertical também indica o valor e determinará o link de valorização entre as etapas.
O alongamento e o valor dos bens, a cada passagem de etapa é resultado da preferência temporal. Um aumento em poupança possibilita uma realocação do capital no triângulo, permitindo uma acumulação de capital [2] e um crescimento real. Indivíduos valorizam mais os bens no presente do que os bens nos futuros caso tenha características semelhantes, pois, estas têm uma tendência a consumir mais no presente do que no futuro. Este postulado é denominado lei da preferência temporal, um derivado do axioma da ação e parte da consideração de que o tempo é um fator escasso e que, portanto, o indivíduo procura obter a situação satisfatória em menor tempo possível. Isso explica a margem existente entre o preço de venda e os custos, da qual os empresários recolhem o que ofertam os recursos necessários para a compra do bem de capital.
Deve-se destacar que a diferença, nos valores, entre os bens de características semelhantes, onde um é um bem no presente e o outro no futuro, é denominada de juros originários. A soma dos juros originários terá uma proporcionalidade, direta, à preferência temporal dos indivíduos. Quanto mais os indivíduos valorizam o consumo no presente, maior terá que ser o montante dos juros para tornar atraente o trade-off entre os bens presentes e os bens do futuro. O contrário também é verdadeiro para indivíduos mais poupadores.
Leia também: Resumo da teoria do capital, juro, moeda e ciclo econômico
Conclusão
A estrutura de capital é uma série de etapas que exigirá para que um determinado produto fique pronto para o consumo. Este produto específico será de primeira ordem, a estrutura de capital inclui tanto os bens de primeira ordem quanto os de ordens superiores. Vimos, também, que é o desejo em consumir o bem de primeira ordem que fará com que as demais etapas sejam possíveis. Portanto, uma estrutura de capital se dá pela expectativa da demanda futura, baseando nas informações presentes com algumas considerações — como por exemplo a restrição orçamentária, comportamento do consumo e etc. Como dirá Mises (2017a),
Os preços dos bens de ordens mais elevadas são, em última análise, determinados pelos preços dos bens da ordem mais baixa, da primeira ordem, ou seja, dos bens de consumo. Consequentemente, dependem basicamente das valorações subjetivas de todos os membros da sociedade de mercado. Entretanto, é importante assinalar que estamos diante de uma conexão de preços e não de uma conexão de valorações. Os preços dos fatores complementares de produção são condicionados pelos preços dos bens de consumo.
Observações
[1] Há, também, a discussão sobre a inclinação da linha ser a representação da taxa de juros que deverá espelhar as preferências temporais.
[2] Aqui eu quis fazer uma referência a Lei de Say, ou seja: a acumulação proveniente de informações verdadeiras que, muito provavelmente, servirá para objetivos futuros, terá muita chance permitir ao acumulador que alcance seu objetivo específico. Quando as informações são artificiais e que acabará gerando uma crise econômica, a acumulação perde seu sentido e a demanda por saldo em caixa começa a cair.
Referências Bibliográficas
DE SOTO, Jesús Huerta. Moeda, crédito bancário e ciclos econômicos. LVM Editora, 2012. Disponível em: <https://amzn.to/35H5lWB>.
HAYEK, Friedrich August. Prices and Production and other Works. Ludwig von Mises Institute, 2008. Disponível em: <https://amzn.to/3mykTBI>.
IORIO, Ubiratan Jorge. Ação, tempo e conhecimento: A escola Austríaca. LVM Editora, 2017. Disponível em: <https://amzn.to/33vQCuE>.
VON MISES, Ludwig. Ação humana. LVM Editora, 2017. Disponível em: <https://amzn.to/32FeFsc>.
Muito bom