Aquele que ler o Esmague o Estado de Samuel Edward Konkin III, publicado pela Editora Konkin, irá descobrir duas coisas fundamentais. A primeira é o quão diferente e acentuada é a posição de Konkin em diversos assuntos, rejeitando bilionários, lutando contra privatizações (e a favor da ausência de regulações / fim da proibição) e clamando uma posição indiferente ao legalismo e a autoridade política, muito parecido com a clássica visão anarquista de autores como Spooner, Proudhon, Malatesta e Tucker. E a segunda é o quão amigável ele é com a visão econômica inserida no Homem, Economia e Estado com Poder e Mercado de Murray Rothbard, fazendo dele um austríaco de carteirinha.
Para um anarquista, a visão de capitalismo como um meio real de transmissão de taxas de preferência temporal e risco numa cadeia dinâmica de produção (que aliás é o sentido que o rothbard usa para capital e a forma como em Poder e Mercado ele trata todos os outros meios políticos como literalmente corruptelas desse meio legítimo de transmissão de informação) parece profundamente distante.
Ainda assim não é incomum ver Konkin figurando em bibliotecas anarquistas e agoristas sendo aceitos nos círculos mais íntimos de anarquistas. Deveria assim ser uma questão simples e posta que aqueles que se clamam serem ancaps, no sentido de defenderem o capital, tanto a denominação quanto o sistema baseado nele, tal qual descrito no Homem, Economia e Estado com Poder e Mercado e aceitarem todas as premissas agoristas (tal qual o próprio Konkin fazia) deveriam ser aceitos entre os anarquistas.
Mas, mesmo esse raciocínio simples vai falhar. Dirão que não fazemos o suficiente para sermos conhecidos dessa forma. Mas, eu não conheço ninguém que tenha se colocado mais vezes contra o voto do que eu nesse último ano. Ou que tenha clamado mais não pela privatização, mas pela libertação dos mercados e pela ausência de regulações.
Inclusive, digo mais, mencionamos e divulgamos mais a famosa Esquerda Libertária no prefácio do Esmague o Estado que a maior parte dos anarquistas já divulgou, sem contar nos inúmeros outros materiais como o Instituto Ágora, focado estritamente em agorismo ou no próprio nome da editora, Editora Konkin.
Continuamente fazemos menção aos individualistas, aos anarquistas clássicos e até aos revoltados anarcocomunistas, sem mencionar o mutualismo com artigos do Kevin Carson até demais para minha personalidade austriaca!
Traduzimos dois livros importantes e críticos a direita. O The Betrayal of the American Right e o Never a Dull Moment do Rothbard, os dois da fase esquerdista do Rothbard. Assim como traduzimos o Revolução Satoshi com suas infinitas menções a individualistas.
E, mesmo assim, com toda essa sinalização de que existe um lugar para uma aliança de esquerda libertária nunca vi um anarquista me procurar para escrever para a Universidade libertaria, para a Gazeta Libertária ou mesmo para publicar um livro conosco.
Claro, poderão dizer que é porque eu tenho um livro de Hans Hermann Hoppe traduzido e poderão dizer que é porque damos atenção para todos os outros grupos em tal intensidade que poderiam render sozinhos textos do mesmo tipo. E não estariam mentindo, de fato.
Liberais de todos os tipos, conservadores, socialistas, tradicionalistas, hermenêuticos, católicos, protestantes, neoclassicos, progressistas e stirneanos já tiveram espaço para falar em nossas redes. Isso com certeza indica a pluralidade e afrouxa nossos laços com qualquer grupo específico.
Mas, como poderia um anarquista olhar isso senão como uma oportunidade? De falar e ser ouvido e de ter a certeza que não será calado desde que mantenha a educação e a cordialidade?
E o que vocês tem a temer se as nossas redes são muitas das vezes (pouquíssimas exceções [bota poucas nisso]) maiores que as suas? Se nossos sites são maiores que os seus e se nosso barulho é mais ouvido na internet?
Falem! Sejam ouvidos! Me ajudem a trazer a boa anarquia para os ouvidos de todos os ancaps! E não posso deixar de pensar que aquele que não ouvir o chamado quando ver o próximo post no facebook dizendo que ancap não é anarquista não conseguirá fugir do singelo pensamento que poderia ter feito algo a respeito. Essa é a maldição que lhe rogo, caro silencioso amigo anarquista. Que a possamos romper juntos!
Qualquer anarquista interessado em se tornar redator da Gazeta Libertária ou da Universidade Libertária basta chamar no privado. Visões socialistas serão aceitas, mas podem vir a ser respondidas naturalmente dentro da cordialidade e do usual trato civilizado que se reserva ao trato para com as figuras anarquistas.