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Alexandre de Moraes vem mostrando que não irá tolerar que as Big Techs desafiem seu poder. O ministro inclusive afirmou que irá “enquadrar as Big Techs” e que o Brasil não é uma “terra sem lei”. A justificativa? Proteger a “liberdade de votar” dos brasileiros.
O ministro também afirmou que as Big Techs “abusam de poder econômico” e que o eleitor não pode ser “bombardeado com desinformação, ou passar por uma verdadeira lavagem cerebral” para ser dissuadido do seu voto. Além da velha falácia do “abuso de poder econômico”, Moraes insinua que eleitores em geral são burros, facilmente influenciáveis e que precisam ser “protegidos” de certos tipos de informação.
A contra ofensiva contra as Big Techs
Muitas Big Techs perceberam de imediato que a PL da Censura seria não apenas uma redução da liberdade de expressão dos usuários, mas também uma limitação de sua própria liberdade. O Google foi a primeira a se manifestar, alertando aos internautas sobre os perigos do projeto. Moraes não admitindo nenhuma afronta ao seu poder, ordenou que o Google removesse a mensagem e até mesmo publicasse uma nota favorável à PL.
Em seguida foi a vez do Telegram. O mensageiro havia enviado uma mensagem para seus usuários alertando para o perigo da PL da Censura. Moraes de imediato ordenou que O Telegram removesse a mensagem ou pagaria uma multa de R$ 1 milhão por dia enquanto ficasse no ar.
Assim como o Google, o Telegram acatou de imediato a ordem do ministro.
Moraes é quem abusa de um poder que sequer deveria ter
Moraes acusa as Big Techs de “abusar de seu poder econômico” ao enviar mensagens de oposição à PL da Censura. No entanto, ele é quem de fato abusa de poder. E de um poder que sequer deveria possuir, em primeiro lugar!
As Big Techs fazem uso de um poder econômico obtido por meio da satisfação dos seus clientes por seus serviços. Elas também não obrigam ninguém a consumir seus conteúdos ou punir quem não obedecer suas diretrizes, ao menos não a ponto de violar seus direitos.
Ao usar de seu maior alcance, as Big Techs estão fazendo um bom trabalho em nome daqueles que participam do mesmo posicionamento mas que diferente delas não possuem o mesmo alcance.
Já escrevemos aqui nossas devidas críticas às Big Techs, como pode ser conferido nesse artigo. Mas estamos fechados com as Big Techs em relação à PL da Censura, pois ambos seremos fortemente prejudicados por ela.
Já o caso de Moraes é totalmente o oposto. Diferente das Big Techs, o poder de Moraes não é devido à uma sujeição voluntária dos governados. Como todo poder político, o poder de Moraes vem violência e da ameaça de violência. E para reforçá-lo, a propaganda e doutrinação estatal por meio das escolas e universidades tanto públicas quanto privadas. Uma verdadeira lavagem cerebral garantida pela regulação do ensino.
A situação de Alexandre de Moraes é que é verdadeiramente censurável, já que ele abusa de um poder que sequer deveria ter. Há muitos brasileiros que sequer reconhecem o seu poder. Inclusive esse que está escrevendo este artigo.
E abusando deste poder, Moraes impede que as pessoas tenham acesso a qualquer informação que contrarie a narrativa que tenta justificar a PL da Censura.
Moraes não está querendo proteger nada nem ninguém a não ser seu poder sem limites. Poder esse que ele justifica recorrendo a farsa de que está agindo para o “bem” de todos.
A noção distorcida de liberdade de Moraes
E não posso deixar de mencionar a noção falaciosa e enganosa de “liberdade” apresentada por Moraes. A ideia de que ele está “protegendo” a “liberdade” de votar dos eleitores. Mas onde exatamente a liberdade de votar dos eleitores está sendo ameaçada pelas Big Techs?
A começar, os próprios eleitores não possuem sequer o direito de não votar neste país. São tratados como meras ferramentas para manter a “sacrossanta” democracia funcionando. O direito de se abster do circo e enganação que são as eleições sequer está ao alcance deles.
Além disso, mesmo sendo influenciados, os eleitores ainda são capazes de tomar suas próprias decisões e escolher em quem irão votar. Isso dependerá muito mais das inclinações políticas que o indivíduo possua. Além do acesso à informações muitas vezes discordantes das que ele recebe de determinado candidato, não faltam fontes que poderão mostrar a realidade dos fatos à ele, caso ele seja exposto à falsas informações.
A ideia de pessoas completamente indefesas ou incapazes de terem acesso à informações corretas para moldarem sua opinião ou que seu posicionamento político e interesse de voto dependam apenas da veracidade da informação que recebem, é a típica perspectiva preconceituosa da elite política e burocrática, que vê o cidadão comum como literalmente um chimpanzé.
Além disso, é completamente enganoso que ao apresentar seu posicionamento, as Big Techs tenham sido as únicas a impactar no posicionamento do público em relação à PL da Censura. Boa parte do público já possuía um posicionamento contrário à essa pauta muito antes das Big Techs se posicionarem sobre.
Moraes acredita piamente (ou quer fazer acreditar que) que silenciando as Big Techs e deixando o público à mercê da grande mídia alinhada ao establishment político, o público mudará sua posição e será favorável à PL. Talvez o próprio Moraes deseje isso. Embora muito provavelmente não seja o que irá acontecer.
Os mais convictos com seus posicionamentos irão mantê-los. O máximo que Moraes irá fazer será dificultar a vida das pessoas. Mas quem defende seus ideais sempre dará um jeito. Sei que é difícil para um positivista como Moraes aceitar isso, mas as pessoas não são tão facilmente manipuláveis quanto ele pensa.
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