A ficção é sem dúvidas uma das mais atrativas formas de entretenimento. Damos asas à nossa imaginação e mergulhamos nas profundezas da imersão que essa mesma imaginação proporciona. Uma das formas mais populares de ficção dos últimos tempos tem sido sem dúvidas os mangás, isto é, histórias em quadrinhos japonesas, pelas quais muitos jovens e adultos se atraem. É notório que o meio libertário se atrai muito pela cultura oriental dos mangás e dos animes, então, eu me pergunto: por que ninguém está falando em Neo Antropomecha, o mangá libertário?
Em primeiro lugar, se você não conhece NeoAntropomecha ou se já ouviu falar e ainda não leu, saiba que está perdendo seu tempo. O mangá conta a história de Neo Leal, um estudante de engenharia mecatrônica que não tem conseguido se graduar por problemas em seu projeto de conclusão de curso. Na noite de formatura de seus colegas, Neo acaba conhecendo Naím, uma agente da Sígma por quem ele imediatamente se apaixona e que estava ali a serviço, investigando um grupo terrorista que planejava “implodir” prédios importantes do “país”. Mal imaginava Neo que naquela noite o protótipo de seu projeto salvaria sua nova amada e o tornaria uma potencial peça chave de uma grande conspiração.
Intrigante, atraente e bem construído, Neo Antropomecha mostra como é possível pensar uma sociedade libertária nos tempos futuros. Como é uma história sci-fi aborda armamento robótico e envolve fantasia, com personagens bem desenvolvidos e carismáticos, fazendo a experiência do mangá que se passa na Sociedade Livre de Doravanti ser uma leitura agradável e fluída.
Mas não é só a leitura e o roteiro que são bons, mas também a arte. Leonardo Boff é um artista independente que conseguiu desenvolver seu próprio traço, tornando a obra Neo única. Eu o perguntei pessoalmente como ele descreve a sua própria história em quadrinhos e ele respondeu que:
“Neo Antropomecha é uma HQ na qual eu invisto desde imemoriáveis tempos de infância. Para se ter uma ideia, eu tenho um quadrinho informal da obra datado de 1998, quando eu nem tinha sequer 10 anos de idade e, muito menos, treino em técnicas de desenho e afins.
Não preciso dizer que o roteiro inicial era imaturo. No entanto, a ideia permaneceu e, em diversas fases de meu crescimento, eu fui investindo em roteiro, em arte etc para esta obra em específico. Inclusive, estudar sobre o Libertarianismo me inspirou para construir o conceito que, dentro da obra, se chama Sociedade Livre de Doravanti (SLD).
Hoje Neo Antropomecha é uma ficção policial futurista nem utópica e nem distópica, esse aspecto depende de onde os personagens em foco estão, com design gráfico de pouco ou quase nenhum deslumbre característico de obras futuristas, e com uma narração estilo fantasia realista, em que o que é óbvio para os personagens não é explicado por eles como se houvesse um leitor ali presente pedindo por tais informações, além de ser relativa ao ponto de vista da personagem em foco.”
Além disso, o libertarianismo está presente na obra na medida em que é justamente o que fundamenta, como foi dito antes, a Sociedade Livre de Doravanti, onde se passa a história. Trata-se de uma associação tácita de entidades privadas baseada nos princípios libertários da qual desde indivíduos, empresas até mesmo cidades inteiras participam de forma livre.
E como a SLD é um conceito abstrato dentro da obra, não existe um registro em nenhuma espécie de cartório ou afins de quem participa dela ou não. O que define se uma entidade ou pessoa está ou não dentro da SLD são as próprias ações dessa entidade ou pessoa. Fora da SLD tem os Estados, sociedades que, por qualquer razão, não comungam com os princípios da SLD e que podem, ou não, ter alguma hostilidade a mesma, ou o absoluto oposto.
Mas o que se pode realmente esperar de Neo Antropomecha? Uma história mais focada nas questões pessoais dos personagens, embora grupos de vilões se baseiam em atitudes de Estado e no que a história chama de Grupos Histéricos, associações de pessoas vítimas de demagogia que têm uma ideia errada do que é, por exemplo, liberdade, o que as provoca a cometerem crimes tanto contra a lei natural, como contra leis estatais e leis privadas também.
No entanto, não se deve esperar que o mangá trate de uma revolução. Primeiro porque existem muitas razões para que muitos libertários duvidem de que essa seja uma boa estratégia. E segundo porque essa simplesmente não é a proposta. De Neo, não se deve esperar pregação do evangelho segundo Mises e nem um outro autor libertário. A história foi feita para um público mais geral e, portanto, esse tipo de conteúdo apenas espantaria os leitores, e, até mesmo, os próprios libertários.
Neo Antropomecha não dialoga com grupos doutrinários em slogans de militância e, portanto, o mangá não foi feito para ser um fan service neste sentido como certas obras da esquerda. Por último, por mais que haja assuntos sobre política no meio, não se deve esperar uma obra militante de Neo Antropomecha. Afinal, como diria o ditado, Quem Lacra/Mita não Lucra.
Por último, devo dar as minhas considerações finais como alguém que leu a obra e adorou, mas também tenho que manter o meu profissionalismo intacto e explicar da melhor forma possível que é uma obra madura o suficiente para merecer ser lida por todos vocês. Assim, devo constatar que para se ler um mangá, é necessário estar de peito aberto para conhecer o novo, então mergulhe nesta imersão, imagine as cenas, foque nos discursos e o mais importante: divirta-se lendo!
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Artigo escrito por Taiane Copello
muito boa a iniciativa. vc ja ouviu falar da flip tru?
estou fazendo uma hq neste sentido e irei postar la.