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Em um discurso realizado em Roma nesta quinta-feira (22), o presidente Lula defendeu que os movimentos partidários de esquerda construíssem uma nova utopia para levar adiante a defesa do Estado e dos direitos humanos. O discurso do petista foi realizado antes de embarcar para Paris, enquanto ele cumpria sua agenda na Itália e na França nesta semana.
“É preciso que a gente reconstrua uma nova utopia, para que a gente possa vencer a utopia criada pela direita de que o Estado não vale nada, de que o Estado tem que ser fraco, de que a iniciativa privada resolve os problemas. Nós vamos construir um outro discurso, nós precisamos ter coragem de defender o trânsito livre do ser humano da mesma forma que se permite o trânsito livre de dinheiro”
afirmou o petista
Lula também aproveitou para criticar o protecionismo de países europeus em relação a imigrantes e à “política de costumes” defendida por partidos de “extrema-direita”. “Se você tem centros de pobreza no mundo, se você tem centros de violência, é normal que as pessoas queiram transitar de um lugar para outro, é assim que foi criada a humanidade. Então é importante que a gente também construa esse discurso que eu acho que ajudará a gente a fazer o embate com os setores mais conservadores na Europa, que não é só na Europa, é nos Estados Unidos, no Brasil, na América Latina em todos os lugares”, afirmou.
Ainda sobre os partidos de “extrema-direita”, Lula afirmou que:
“Você tem uma extrema direita nascendo com discurso muito duro na política de costumes, na questão da família e, muitas vezes, a esquerda fica um pouco inibida. Eu acho que nós precisamos defender com mais clareza as coisas que nós acreditamos. Ou seja, eu acho que a esquerda no Brasil, na América Latina e no mundo, precisa criar uma nova utopia, sobretudo porque a juventude precisa de utopia, de um sonho pra gente continuar lutando por ele”
A mesma utopia. Mas com uma cara nova
Lula em seu discurso tenta vender a ideia de que está propondo uma “nova” utopia para a esquerda. Mas o que ele está propondo é a mesma utopia que a esquerda propõe há anos, apenas com uma cara nova. Apesar de Marx acreditar que o estado “definharia” no estágio mais avançado do socialismo (comunismo), na prática isso nunca aconteceu, já que a imposição de um regime socialista em larga escala sempre dependerá de um estado forte.
E isso foi algo que os políticos do chamado socialismo real aprenderam desde cedo. E enquanto empurravam o sonho distante do comunismo para um futuro longínquo, defenderam fortemente a ideia de que a estatização de toda a economia traria melhorias sociais em comparação ao capitalismo. E a história mostrou o que a teoria econômica já apontava desde Mises: que isso não seria possível.
E então as novas vertentes da esquerda resolveram seguir um caminho diferente, mas ainda abraçadas a ideia de um estado forte e paternalista. Apesar do Estado ainda ser demandado para se responsabilizar por grande parte da economia, ele já não deveria mais ser o encarregado de gerenciar diretamente todas as atividades econômicas. A esquerda progressista mesmo que timidamente aceitou que o capitalismo é superior ao socialismo na criação de riqueza e bem estar.
Mas ainda assim sobrava espaço para o estado, já que as ideias falaciosas de “falhas de mercado” e a preocupação com a “desigualdade econômica” ainda justificavam uma maior participação do estado na economia. Além disso, foi vendida a ideia de que há problemas que precisam ser resolvidos urgentemente e que somente o estado poderia resolver, como “patriarcado”, “racismo estrutural”, problemas ambientais e aquecimento global.
E tal ideia é vendida através de qualquer ataque ou diminuição da importância de qualquer instituição que seja um empecilho entre o estado e os indivíduos, como a propriedade privada, religião, cultura e a família. Como a esquerda crê que por meio do estado todos os problemas poderão ser resolvidos, já que “especialistas iluminados” saberão o que é melhor para todos, a sociedade não precisará de instituições “retrógradas” e “limitadoras” que são empecilhos contra esse grande objetivo. Ou utopia, como diz Lula.
E uma vez que a esquerda é muito mais favorável a um estado forte que a direita, não é de se estranhar do porque as pautas de esquerda serem as mais apoiadas pelo estabileshiment político atual. Óbvio, dentro dos limites por ele tolerado.
Sobre a direita e o estado
Quanto à relação entre o estado e a direita política, Lula erra ao afirmar que essa última defende um estado fraco ou mesmo inexistente. É verdade que a direita defende um estado muito mais reduzido em comparação com a esquerda. Mas isso está bem longe de ser uma defesa de um estado fraco ou inexistente.
Mesmo que em um grau menor, a direita política em geral também defende um estado forte, principalmente no que se refere às forças armadas, forças policiais, e protecionismo econômico nas alas mais nacionalistas. A própria defesa de que o estado bloqueie imigrações é por si só uma medida estatal. Uma medida realmente antiestado e baseada no direito de propriedade privada dos indivíduos, seria os proprietários dos locais para onde os imigrantes desejam emigrar decidirem quem pode se mudar ao não para seu território, como bem mostrou o filósofo e economista Hans-Hermann Hoppe.
Somente os libertários defendem não apenas um enfraquecimento total do estado, como também sua total extinção. E somente a proposta de uma sociedade livre é a verdadeira alternativa à utopia (ou será distopia?) que Lula está defendendo.
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