Nesta segunda-feira, o CEO do Telegram, Pavel Durov, anunciou através do seu canal que a plataforma atualizou sua política de privacidade e termos de serviço. Segundo Durov, a plataforma agora irá divulgar os endereços IP e números de telefone dos usuários que violarem as leis ou as regras do Telegram “para as autoridades relevantes.”

Com “autoridades relevantes”, podemos entender as autoridades governamentais. O motivo de tal mudança não é difícil de imaginar: em 24 de agosto deste ano, Durov havia sido preso na França sob a acusação de facilitar atividades criminosas, incluindo tráfico de drogas, fraude, distribuição de pornografia e lavagem de dinheiro.



Após pagar uma fiança de €5 milhões ($5.5M), Durov foi liberado da prisão e, no início de setembro, abordou o público, discutindo as medidas tomadas pelas autoridades francesas.

Duas semanas depois, o canal do Telegram de Durov detalhou as atualizações recentes da plataforma. Ele mencionou que, nas últimas semanas, uma equipe dedicada de moderadores tem vigiado conteúdos considerados “problemáticos”. Para agilizar seu trabalho, a equipe também empregou inteligência artificial (IA). Como resultado, o sistema de busca do Telegram foi limitado, tornando o conteúdo considerado prejudicial “inacessível.” Além disso, os usuários são incentivados a relatar qualquer material considerado ilegal que encontrem através do canal de Relatório de Busca da plataforma.

Com tal mudança, podemos imaginar que a fiança não foi a única condição que levou Durov a repensar a política de privacidade do Telegram. Colaborar com o governo francês e os demais sobre investigações também pode ter feito parte do acordo para sua soltura. Óbvio que, como proprietário do Telegram, Durov tem seu pleno direito de decidir o que é permitido ou não em sua plataforma.

No entanto, é evidente que tal decisão sobre quais conteúdos serão permitidos no Telegram daqui em diante não parte do Durov, mas são resultados da pressão por ele sofrida por parte do governo francês. Sobre o tipo de conteúdo que será proibido e reportado aos governos, por mais que em um primeiro momento a medida afirme ser direcionada aos casos de crimes reais, não se pode descartar a possibilidade de que conteúdos considerados politicamente corretos ou “subversivos” também sejam denunciados e informações sobre seus autores sejam entregues às autoridades estatais.

Como se vê, a medida começa com uma aparente boa vontade em ajudar a colaborar no combate ao crime e termina com o Telegram se tornando mais um braço da espionagem estatal.


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