Quem tem medo de criticar o Partido Comunista Chinês (PCC)? O caso da tenista chinesa chamada Peng Shuai, ex-número 1 nas duplas, que atraiu atenção do mundo nas últimas semanas ao acusar o ex-vice-premier chinês Zhang Gaoli de abuso sexual. Peng desapareceu após este capítulo.

O que aconteceu com Peng Shuai?

No dia 2 de novembro, Peng postou no Weibo —  conhecida como Twitter chinês — que declarava que foi coagida a ter relações sexuais com Zhang Gaoli. No entanto, a publicação sumiu 30 minutos depois na rede social, mas já foi amplamente repercutida e um escândalo não pode ser mais encoberto.  É assim que Peng desaparece e qualquer conteúdo referente a ela é apagado pela censura da internet na China. À medida que Peng deixou de aparecer em público, isso alertou não somente o mundo esportivo, mas também a Comissão de Direitos Humanos das Organizações das Nações Unidas (ONU) por respostas.

Para tentar driblar a censura no Weibo, os chineses passaram a mencionar a atleta por nomes parecidos, com suas iniciais. Porém, até essas tentativas acabaram bloqueadas. Enquanto a CNN cobria a notícia, o sinal da emissora foi cortado na China.

Após dez dias sem respostas, a comunidade do tênis lançou a hashtag #WhereIsPengShuai (Onde Está Peng Shuai) adicionando uma preocupação a mais ao seu paradeiro.  Tenistas renomados como Naomi Osaka, Novak Djokovic,  Serena Williams reagiram, exigindo explicações publicamente.

Devido à intensa pressão de governos estrangeiros e defensores de direitos humanos do desaparecimento, a emissora estatal chinesa CGTN mostrou, no dia 17, um suposto e-mail enviado por Peng ao presidente da WTA, alegando que as denúncias de abusos sexuais não eram verdadeiras. Não foi o bastante para convencer aqueles que desconfiavam que acontecera algo horrível com a tenista. 

 A Associação Feminina de Tênis (WTA), órgão que regula o tênis feminino mundial,  revelou que não teria tido contato com a tenista desde a data da mensagem de sua postagem e que não iria parar de investigar a situação até que fosse garantido que Peng estivesse bem e em segurança no país. 

Além disso, a WTA não só ameaçou retirar torneios da China, como também pediu que Peng se pronunciasse sem medo de sofrer coerção ou intimidação. Igualmente, os organizadores do Torneio Wimbledon se solidarizaram

Numa reviravolta de fatos, Peng reapareceu no último final de semana em Pequim e realizou uma videochamada com o presidente do COI, Thomas Bach, no dia 21. No entanto, o COI foi prontamente acusado de favorecer a propaganda estatal chinesa.

O caso vem recebendo mais escrutínio  pelos polêmicos Jogos Olímpicos de Inverno sediados em fevereiro de 2022 na China. A Human Rights Watch (HRW) vem pressionando o COI  e os patrocinadores do evento a requisitar uma investigação na ONU sobre violações de direitos humanos cometidos pela China. Segundo o New York Times, Biden está ponderando aplicar um boicote parcial, ou diplomático — os atletas estariam presentes, mas as autoridades oficiais não compareceram. Até o momento, não se sabe se haverá uma investigação pela denúncia de abuso sexual, pois as autoridades nunca se manifestaram sobre essa questão. 

Outros “sumiços misteriosos”

O exemplo da tenista está longe de ser um caso raro. Há inúmeros desaparecimentos de dissidentes chineses. São jornalistas, advogados, ativistas detidos ou presos em casa sem direito a defesa.   

 A jornalista australiana Cheng Lei foi presa por mais de um ano, detida sob alegações de vazar segredos de Estado. Ela está distanciada da família e seu paradeiro permanece desconhecido. 

Fundador do Alibaba, Jack Ma reaparece após meses desaparecido.

Um dos casos mais recentes é do bilionário do e-commerce Jack Ma, fundador da Alibaba, o qual desapareceu após criticar o setor financeiro em 2020. O caso ganhou eco público tendo em vista que Ma foi considerado pela  Forbes como o homem mais rico da China. Após sumir por mais de dois meses, o empresário reapareceu em um vídeo sem fazer nenhum comentário sobre o seu desaparecimento no final de janeiro de 2021. Logo depois do caso, a empresa Alibaba foi multada por cerca de 2,8 mil milhões de dólares. 

Também, o magnata do mercado imobiliário, Ren Zhiqiang sumiu após criticar abertamente como o governo chinês tratou a pandemia. Zhiqiang chamou o presidente Xi Jinping de “palhaço”. Consequentemente, ele acabou condenado a 18 anos de prisão por alegações de crimes financeiros, porém seus amigos dizem ser por criticar o governo. 

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