A iminência de uma recessão econômica já é algo reconhecido até por economistas mainstream, como já foi publicado nesse site. Dentre estes, está a economista a secretária de Desenvolvimento Econômico do governo paulista, Zeina Latif. Em entrevista recente ao Época Negócios, ela chega a inclusive culpar a recessão global que está por vir pelo excesso estímulos dos governos durante a pandemia.

Obviamente que os fatores que deram andamento à recessão são muito anteriores à pandemia, como bem apontado pelos economistas da Escola Austríaca. No entanto, é importante saber que mesmo entre os economistas mainstream há o reconhecimento de que determinadas medidas estatais levam a distorções econômicas.

Quando questionada sobre qual será o cenário econômico daqui em diante, ela foi enfática:

Se pensarmos em primeiro lugar no cenário internacional, temos fatores aqui de difícil superação. Quer dizer, trazer a inflação para baixo vai ser algo muito trabalhoso para os bancos centrais mundo afora. Para além de todos esses fatores geopolíticos, o que aconteceu foi um excesso de políticas de estímulo por parte dos governos durante a pandemia, principalmente no que se refere à questão fiscal. Houve muitos erros na calibragem das políticas de estímulo. E, não à toa, países que estimularam mais estão sofrendo mais com inflação. É o caso dos Estados Unidos, e também do Brasil. A diferença é que lá é mais fácil gerir a questão inflacionária do que aqui. E, mesmo assim, o tema está enfraquecendo o presidente Joe Biden.

Ela também se mostrou cética em relação à possibilidade do estado reverter as mesmas políticas que causaram a situação econômica atual:

O que torna a questão fiscal mais difícil é que o desmonte das políticas de estímulo, ainda que aconteça, tende a ser lento. Se você olhar hoje para o Brasil e para o resto do mundo, ainda estamos vivendo uma fase de expansão fiscal relevante. Então esse desmonte não é fácil, porque temos um quadro no qual a sociedade não vai aceitar se desfazer de determinadas políticas.

Quando questionada sobre os impactos das políticas de estímulo e também fatores a nível internacional, como a Guerra da Ucrânia e suas respectivas sanções, ela disse:

Bom, isso pra gente é uma tremenda dor de cabeça, especialmente para o Banco Central. Difícil imaginar a inflação se acomodando por aqui enquanto ela não se acomodar lá fora. Porque existe toda a questão do abastecimento por aqui. Do lado do câmbio, eu diria até que as coisas deram uma acalmada, não temos mais aqueles valores tão altos. Quando a gente olha o comportamento do dólar hoje em relação ao que seria o esperado, dado o cenário internacional, já não está mais tão descolado. Esse patamar em torno de 5 já está mais compatível com o próprio ciclo da moeda americana. Tivemos um momento muito agudo desse descasamento, quando a moeda americana chegou a R$ 5,70, o que, na minha leitura, tem muito a ver com os erros de política econômica. Mas, enfim, a queda do câmbio não foi suficiente para dar uma alívio na inflação.

Ela também comenta sobre as medidas adotadas pelo Banco Central para conter os efeitos da inflação, como aperto monetário e subida de juros, e afirma que seus efeitos positivos irão demorar aparecer:

Estamos vivendo um período crítico porque o Banco Central sobe a taxa de juros, faz o aperto monetário, mas isso demora para se traduzir em inflação mais baixa. Então, você deu remédio e está fazendo efeito porque começa a ter implicações na atividade econômica, mas demora para que o objetivo final seja alcançado, que é conter a inflação. Ainda mais com todos esses outros fatores jogando os preços lá para cima.

Quando questionada sobre se uma recessão econômica no Brasil seria iminente, ela fez uma comparação com o caso dos EUA, afirmando que mesmo que os EUA entre em recessão, eles poderão sobreviver melhor à ela, dado ao fato do país ter uma economia mais vigorosa e com maiores ganhos de produtividade. Já no caso do Brasil, suas expectativas são menos favoráveis, apontando para o fato do país estar vivenciando um quadro econômico pouco animador:

Estamos falando de um país que passou por duas recessões severas, que está com taxa alta de desemprego, que voltou ao nível pré-pandemia. É uma economia fragilizada, que provavelmente está com um potencial de crescimento muito baixo. Tanto é que, quando a gente olha os dados do PIB, não é que houve uma alta disseminada da atividade econômica, não é isso. Houve uma surpresa positiva, mas muito concentrada em poucos elementos a partir de um setor privado. Não é um quadro benigno.

Quando perguntada sobre qual seria a solução para evitar a recessão, Zeina Latif responde:

Tem um alicerce aqui que é resgatar um ambiente macroeconômico mais saudável: voltar a ter inflação mais baixa, taxa de juros mais baixa. Não é isso que vai fazer o país ter um crescimento robusto, mas é o início dessa conversa. Em um cenário de inflação e taxas altas, a efetividade de qualquer política econômica é comprometida.

Como economistas mainstream em geral, ela ainda enxerga o estado e seus representantes como aqueles capazes de tal solução:

Então essa questão macroeconômica precisa ser o item prioritário do próximo presidente. E ele precisa sinalizar como vai voltar a assumir o compromisso com a disciplina fiscal. Isso é um ponto importante.

Na verdade a única medida cabível e efetiva no âmbito fiscal que um presidente deveria ter seria parar de intervir a economia e deixar ela se recuperar por si mesma. Como diria o grande economista Murray Rohtbard, a recessão é um remédio doloroso, mas necessária, para a recuperação econômica. Como os economistas austríacos nunca cansam de enfatizar, os ciclos econômicos são resultado de uma série de distorções causadas pela intervenção estatal.

Zeina Latif conclui com uma afirmação até correta: a importância da educação (inclusive qualificação profissional) como condição essencial para inserir mais pessoas no mercado de trabalho. No entanto, como todo estatista, ainda enxerga no estado a responsabilidade por essa função:

Ao meu ver, essa agenda está muito atrasada. E esse trabalho tem que começar na infância. Como é que aquele jovem que chega no ensino médio sem um nível razoável de matemática vai se preparar para fazer um curso técnico em informática? Uma faculdade de engenharia da computação? Então essa questão de preparar os jovens para o mundo digital é uma construção. Mas não vejo uma grande mobilização para isso.

Já foi falado aqui em outro artigo sobre os efeitos nefastos da intervenção estatal na educação. Também já foi demonstrado o quanto o mercado e a livre iniciativa são mais eficientes no fornecimento da educação.

No fim, apesar dos esperados equívocos de um economista mainstream sobre a capacidade do estado de lidar com crises, Zeina Latif faz um apontamento correto da iminente recessão que está por vir.

Como ela mesma apontou, se o estado quiser evitar que os impactos sejam mais destrutivos ainda, dever frear os pacotes de estímulo, coisa que ela mesma reconhece a improvável, dada as pressões políticas para manter tais medidas.

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