Este artigo será o primeiro de uma série de artigos onde serão feitos alguns esclarecimentos aos libertários ditos gradualistas (que acreditam na via política como caminho para a liberdade) levarem em conta ao exporem sua estratégia.
“Vocês agoristas são culpados de omissão”
Chegou mais um ano de eleições. E como de costume, uma certa ala do libertarianismo chamada de gradualistas, está defendendo o voto no “menos pior”, e pressionando os libertários não-votantes (mais precisamente os agoristas) a fazerem o mesmo. Assim como nas eleições presidenciais de 2018, o candidato “menos pior” da vez será o Jair Messias Bolsonaro.
Segundo os gradualistas, Bolsonaro é preferível à Lula, uma vez que sua agenda é menos destrutiva para a economia. Eles ainda afirmam que isso irá fazer a causa da liberdade ganhar tempo de expandir seus ideais, antes que Brasil “se torne uma Venezuela”.
No entanto, há alguns detalhes que gradualistas ignoram e que serão importantes abordar.
Libertários são numericamente insignificantes no Brasil. Mesmo os gradualistas
Gradualistas costumam afirmar que os agoristas estão agindo de forma contrária a causa da liberdade ao se abster de votar. Segundo eles, precisamos votar no “menos pior” para que a causa da liberdade tenha alguma esperança. Deixando um pouco de lado as motivações dos puristas (mais especificamente dos agoristas), para evitar o voto, vou me atentar a um detalhe que parece que gradualistas esquecem, devido à sua euforia pelo voto “defensivo”.
Mesmo que todos os libertários votassem, inclusive os agoristas (e aparentemente os gradualistas são a maioria dos libertários no Brasil), isso teria zero efeitos práticos. Em termos de números, os libertários são insignificantes! Há estimativas, como a desse vídeo do canal Diário Libertário, que aponta um número de pelo menos 100 mil libertários no Brasil.
Mesmo tomando como referência os principais canais libertários do Brasil (desconsiderando aqui se há ou não consistência na exposição das ideias libertárias) ainda assim não será possível ir muito longe desse número. Uma vez que estes grandes canais libertários (Ideias Radicais, Ancap.su/Visão Libertária e Paulo Kogos) fazem conceções para seu público mais estatista, fica claro que é bem provável que o público libertario destes canais seja pelo menos metade dos seguidores.
Na melhor das hipóteses, podemos especular que existam no máximo, 500 mil libertarios no Brasil (no cenário mais otimista possível).
No primeiro turno na disputa presidencial com Lula, Bolsonaro ficou com uma diferença de mais de 6 milhões de votos. Mesmo que todos os Libertários no cenário mais otimista possível tivessem votado nele, o efeito seria nulo. Não faria a mínima diferença. E se a estimativa de 100 mil libertarios do Diário Libertário estiver correta, isso deixa a insignificância do voto libertario maior ainda, com Bolsonaro ainda precisando de mais 5.900.000 votos dos não libertarios.
A situação complica quando levamos em conta que a maioria dos libertarios votam (com base nas declarações da grande maioria dos libertários brasileiros). Assumindo aqui que a maioria dos libertarios gradualistas votaram em Bolsonaro, ele já recebeu o máximo possível de votos dos libertarios que poderia receber. E isso sequer fez cócegas. Na verdade, eu sequer deveria estar comentando algo tão óbvio, mas a euforia das eleições parece retirar a razão e o bom senso de muitos. Os mesmos que apontam os libertários não votantes como responsáveis por um resultado que eles sequer seriam capazes de alterar de forma significativa.
Um argumento que ouvi bastante é de que “mesmo que libertarios não sejam maioria, podem influenciar os que não são e em seu voto”.
Bom, os libertários mais influentes são justamente defensores do voto. Já influenciam e incentivam todos os seus seguidores a votar. Kogos, Raphael Lima, Peter Turgniev, BH. Todos estes não apenas declararam que iriam votar e que votaram, como incentivaram seus seguidores a fazerem o mesmo. Raphael Lima, assim como em 2018, indicou vários candidatos a deputado federal e estadual. Paulo Kogos chegou até mesmo a se candidatar.
Resumindo: o máximo que Bolsonaro poderia receber de votos dos libertarios, ele já recebeu.